Fui à praia no dia seguinte, uma camiseta sobre o biquíni, a
bolsa a tiracolo e uma sandália de borracha. Dizem que o acaso não existe, mas
encontrei na praia um homem que não via fazia tempos. E o lugar em que o
conheci nada tinha a ver com o mar e as areias. Foi uma carona que aceitei há
algum tempo. O cara me levou pra casa, melhor dizendo, pra perto de casa. Na
pracinha do Alto, estacionou e pediu que eu ficasse um pouco, vamos conversar.
Todos os homens têm muitas histórias, mesmo que não sejam bons leitores, mesmo
que jamais tenham lido sequer um livro. Contou de suas idas e vindas por aquele
caminho, se eu conhecia o fulano, a fulana, o beltrano, a beltrana. A cada nome
de mulher eu sentia um arrepio. Mais uma que ele comeu! Quem sabe eu viraria
assunto, história para enriquecer sua antologia. Essa bermudinha tua é bonita,
ele disse. Olhei pra minha bermuda, uma bermuda preta, bem colante, sem
atrativo algum, conclusão, no lugar da bermuda, minhas pernas, era o que ele
admirava. É, falei, são boas sim. Ele sorriu. Passei minhas mãos sobre a
bermuda, desci ambas até os joelhos. Bem, tenho de ir, sabe, não posso me atrasar,
qualquer dia desses a gente se encontra. Lembrei-me então da Adalgisa. Virgem,
que nome, mas minha amiga é bonita e tanto, diz que se chama Alda. Certa vez
cavalgou sobre o homem, até aí nada de mais. Mas dentro de um automóvel, numa
rua escura, ela de sainha sem calcinha. A própria me contou. Disse que
sentiu um medo terrível, mas o desejo era maior. Tem de ser de camisinha, viu?
O porta-luvas do automóvel estava cheio, pode escolher ele disse. Pode
escolher, ele me disse. Pra que fui abrir o porta-luvas? Mania minha de apertar botões. O troço saltou na minha direção. O que eu ia fazer com tanta camisinha,
e eu só de bermudinha...
A praia estava boa, calor, aquela quentura que dá no ventre,
sei lá, sente-se um arrepio magnífico. O homem que me dera a carona a me olhar.
Caramba, faz dois ou três anos, quem sabe quatro. Difícil esquecer essas
coisas. Dentro d’água o bronzeador não sai não, é do bom, assegurou. Não
tinha o porta-luvas; mas as camisinhas, sim. Como você pode ter camisinha no
bolso de uma bermuda, dentro d’água, na Prainha. Bem, dá-se um jeito, nada de
cavalgar, acho que nado cachorrinho. Ele fez o leme.
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