quarta-feira, maio 18, 2022
Acabar bem
Esse negócio de andar nua por aí ainda não vai acabar bem.
Outro dia um ex-namorado me telefonou. Todos os ex me adoram, não sei bem o
motivo, mas não me largam o pé (as pernas, coxas e tudo mais). Convidou-me a
visitá-lo, no Rio. Tenho tantos convites, respondi, o dia que for ao Rio vou
ter de fazer um tour. Ele riu. Isso mesmo um tour pelos apartamentos de
admiradores e de ex-namorados. Pois faça, acrescentou, melhor pra você.
Imagino-me saindo cedo da minha cidade, três horas de viagem. Durante o caminho
vou pensando quem será o primeiro. O da Tijuca, o do Meyer, o do Engenho de
Dentro, o rapaz de Botafogo ou o de meia idade que mora em Copacabana? Melhor
talvez ficar dois ou três dias na cidade. Quantas roupas provocantes terei de
levar? Um deles adora roubar minhas calcinhas. Tenho de deixar este por último,
caso contrário chego nua na casa dos outros! Os homens adoram tirar minha
calcinha. Eu, de vestidinho e por baixo... nada! O que o admirador vai pensar
de mim? Vamos lá, máxima discrição, vou combinar com eles, e é lógico que
nenhum vai saber do outro; aliás, o que vou deixar por último pode saber, ele
não se incomoda. Telefono dois dias antes e digo que vou ao Rio, que não tenho
muito tempo, tenho de rever uma parenta. Minha desculpa, coitada da minha
parenta, ela existe mesmo mas vai ficar a ver navios. Marco dez horas da manhã
o primeiro; o segundo, treze horas; dezesseis o terceiro. Terei forças para o
quarto? Acho que vale a pena marcá-lo para as 19h00. Volto a minha cidade no
último ônibus, ou, quem sabe, durmo com o ele, o tal que adora me deixar em pele por baixo do vestido.
Retorno no dia seguinte, pela manhã. Como escrevi lá em cima: “esse negócio de
andar nua” por aí lembra este namorado, o tal que gosta de me ver nua o tempo
todo. Uma vez, num desses encontros sem compromisso, eu disse minha calcinha
custou sessenta reais, pode me pagar. Ele, de pronto, deixou o dinheiro sobre a
mesinha de cabeceira. Ainda quando namorava com ele na minha cidade vivi um
episódio muito engraçado. Quero dizer, engraçado contando agora. Saímos à
noite, lá pelas vinte e duas horas, passeamos, fomos a um restaurante, bebemos
e comemos. Na volta, como sempre, pediu para eu tirar toda a roupa, no banco do
carona. Aceitei. Sempre aceitava suas loucuras (como gostava!). Me despi e coloquei
as peças de roupa no banco de trás. Ele ainda dirigiu pela orla, perguntava
como eu me sentia estando nua ao seu lado, ou se eu desejava que ele parasse
para eu descer e caminhar um pouquinho sobre o passeio. É lógico que estava
sentido intenso arrepio, mas nada falei, apenas sorri e lhe beijei. Quanto a
saltar, por favor, estou morrendo de vontade de trepar. Conduziu, então, até a
minha casa. Naquele tempo ele ficava comigo nos dias em que trabalhava na
cidade. Mas ao chegarmos, ele disse você vai ter uma surpresa!, pegou minhas
roupas e correu com elas para dentro da casa. É preciso dizer que o imóvel era
dividido em quatro apartamentos, eu morava no mais alto, dois lances de escada.
Eram duas da manhã, a rua estava silenciosa e, dentro do prédio, todos pareciam
dormir. O que faço agora?, falei sozinha, apavorada, depois que ele entrou e a
porta bateu. Não posso ficar nua, dentro do carro, não demora amanhece, vai
logo ter alguém me olhando através do vidro, vai juntar gente. De repente tomei
coragem, abri a porta, reparei que minha bolsa estava no banco de trás. Engraçado,
eu tinha apenas a bolsa e a sandália. Corri, enfiei minha chave e abri o
portão, avancei sobre a escada e subi os dois lances. Lá em cima, bati à porta
com o nó dos dedos. Abra, por favor, não tenho a chave daqui. Ele demorou dois
ou três minutos, que me pareceram uma eternidade. Ao entrar, me abraçou, me
carregou pra cama, nem deixou que eu reclamasse. O peru do homem estava
duríssimo, nunca vi um igual. Que trepada! Mas voltando ao meu tour pelo Rio, deixo
este por último. Caso ele me largue nua, de castigo, já terei dado pra todos os
outros! Acho que volto sempre pra ele por causa disso, esse negócio de andar
nua por aí ainda não vai acabar bem. Mas como sinto tesão.
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