quarta-feira, maio 04, 2022

Esporte

Vinha correndo, em treinamento, pela Vieira Souto, em Ipanema. Era manhãzinha de sábado, algumas pessoas chegavam à praia. O sol ameno me ajudava no treino. Ao cruzar o Posto Nove, lembrei-me de um homem com quem certa vez marquei um encontro naquele lugar. Mas não apareci, e ele era tão bonito. Não lembro onde o conheci, mas o encontro que falhei não me saiu da cabeça. Alguma das amigas da época deve ter me apresentado o homem. Costumávamos sair à noite, frequentar bares e boates, não faltavam namorados. Fazia mais de dez anos, como o tempo passa rápido. Eu, correndo, será que participo pelo menos da meia maratona? Apenas imaginação, não treino para competições. Mas ao passar pelo Posto Nove, um rapaz sorriu para mim, olhou-me dos pés à cabeça, tenho certeza de que me imaginou nua, totalmente livre da roupa de jogging. Eu correndo, suando, querendo me superar, correr melhor do que nos dias anteriores, do que na semana passada. Quando se pratica algum esporte e se percebe melhor desempenho, o prazer substitui o cansaço, o esforço, a gente não tem vontade de parar. O rapaz ficou para trás. Quem sabe corre também e vem a me seguir. Cheguei a dar uma olhada, depois de duzentos ou trezentos metros. Ninguém. Amélia, uma amiga, adora namorar, acaba não vindo para a corrida por causa dos homens, das noites em branco, pendurada no pescoço deles. Diz que o prazer está em ambas as práticas, a corrida e o amor. Amélia, não é possível passar a noite namorando, mesmo que eles sejam muito gostosos, acordar cedo e vir correr, não há quem aguente. Ah, às vezes dá, sim, ela diz. Eu não consigo, tenho de confessar. Faz tempo que adoro fazer ginástica, correr na praia, ter o corpo em forma, acabo deixando os namorados em segundo plano. Por isso, às vezes, desaparecem, vão nos braços de outra. E eu fico na fixação do meu próprio corpo, namorando a mim mesma, suada, exaurida, mas ainda num último esforço para me superar. Já deixei um namorado dormindo e saí escondida para correr. Não voltei ao apartamento dele naquela manhã, preferi seguir depois para casa. Esqueci alguns pertences, mas ele guardou para mim. Por que não me chamou?, eu iria com você. O namorado saberia meu segredo, o prazer que a corrida me proporciona. Não quis que descobrisse. Vamos namorar à tarde, disse eu certa vez a outro. Ele pensou que eu era casada, era a única hora possível. Depois descobriu, eu era casada, sim, mas com o esporte. Quis me ver correndo, suando, a pele brilhosa, me abraçar quando a água escapava pelos meus poros. Só quando eu parar, amor, caso eu te abrace agora, perco o ritmo. Corri tanto que ele ficou para trás. Não foi possível o abraço. Você corre nua, querida?, perguntou certa vez. Engraçadinho, respondi. Corre nua na esteira, por favor, pediu, choroso. Esses homens e suas taras. Você deixa que, pelo menos, eu prenda os seios com um top? Houve um dia em que ele escondeu minha roupa de corredora, a lycra de jogging. Mas eu tinha uma saia curtinha, branca, o biquininho. Não perdi a manhã.

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