Fui querer bancar a gostosa e acabei me dando mal. Pedi pra ele me ligar mas não atendi o telefone. Por causa disso, o bonitão não quis mais saber de mim. Depois de duas semanas resolvi procurá-lo. Ao
perceber minha voz, não deu margem à conversa, ainda por cima me passou um tremendo sabão.
Engraçada a expressão? Isso mesmo, me ensaboou inteirinha, da cabeça aos
pés. Ainda tentei falar alguma coisa, mas o sabão fazia tanta espuma... Depois de
desligar, comecei a pensar como poderia reconquistá-lo. Levei dois dias
imaginando um plano. Por isso comprei o vestidinho. De malha. Fica grudadinho
ao corpo. E bem curto. Fui pelada atrás do homem. Como sei os lugares que
frequenta, apareci de repente. Não tenho vergonha de contar (aliás,
vergonha?, a vergonha vem daqui a pouco), todos me olharam, todos – tenho certeza – acharam meu vestidinho um escândalo. Mas quem eu queria nem levantou a cabeça. Fiquei a ver navios. Furiosa, o que
faria dali em diante? É claro, todas vão concordar comigo, arranjaria outro
namorado. Só que não devia ser ali, naquela hora, não é mesmo? Quando
estamos com raiva, não é bom agir de imediato. Mas como eu ia seguir este sensato conselho? Só me lembrava de uma amiga que diz um novo namorado faz que a gente esqueça o antigo. Naquele
bar e com o tal vestidinho, tudo contava contra mim. O antigo namorado
continuava na mesa, acompanhado de uma mulher, uma loura magríssima. Ela me
viu, tenho certeza. Os outros homens me invadiam com olhares maldosos. As mulheres, talvez, pensaram que eu fosse mais uma com quem teriam de concorrer. Mas não
tinham o escândalo de um vestidinho tão curto. Os candidatos que eu via pela
frente diziam, quem sabe pra si ou pra quem estivesse ao lado, olhem lá a maior piranha do mundo. Eu, em
vez de ir embora, ainda permaneci no bar. Uma cerveja, garçom. Logo se aproximou um homem, disse querer ficar comigo. Também pudera, uma mulher sozinha bebendo uma
cerveja, e nua! O tal homem não teve a menor sutileza. Para afrontar o antigo
namorado e a loura magríssima, porém, aceitei e passei boa parte do tempo beijando-o na boca. Ele não
tinha conversa alguma, sua proposta era sairmos dali o mais rápido possível
para ele me comer. Duas horas depois me levou no seu carro, nem
prestei atenção ao caminho que tomou. Se for um doente mental, não tenho como escapar,
cheguei a pensar. O homem, cujo nome não lembro, me levou prum hotel
vagabundo, desses do centro velho. Tivemos de subir uma escada de
madeira que ressoava nossos passos. Trepei com ele durante duas horas. No final,
pedi por favor, você me leva em casa? Perguntou onde moro. Falei o
lugar. O quê?, é muito longe, não tenho gasolina. Como vou fazer?, falei baixo, logo amanhece, e o problema não é esperar o ônibus, o problema é o
vestidinho. E eu estava também sem sutiã. Escândalo total. Saímos do hotel,
o homem desapareceu. Bem, tenho de me virar. Naquele momento eu não odiava
apenas o meu antigo namorado, odiava todos os homens do mundo. Então,
aconteceu. Parou um automóvel, o vidro da janela desceu. Uma mulher loura, magríssima. Você quer
entrar?, perguntou. Tinha eu outra saída? Seu vestidinho é tão bonitinho, acrescentou depois de eu estar sentada no banco do carona. Imaginem daqui em diante. Digo só mais uma
coisa. Se com o vestidinho já era pouco, sem ele nem pensar.
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