segunda-feira, outubro 07, 2019

Espera pelo bombom

Gosto de ir a lugares onde ninguém me conhece. Posso, então, fazer das minhas, depois vou embora e não apareço mais. Na sexta-feira passada fui a uma praia a duas cidades de onde moro. Preparei-me, juntei minhas coisas num bolsa grande e tomei o ônibus. Uma hora e meia de viagem. Saltei num ponto a duas quadras do lugar onde pretendia ficar. Ao pisar a areia, reparei que havia poucas pessoas. Uma mulher brincava com uma criança, dois homens conversavam de pé, voltados para o mar, uma senhora estava deitada sobre uma toalha vermelha. Pousei num local sossegado, a uns cem metros daqueles frequentadores matinais. Armei o guarda-sol, estendi uma toalha azul, sentei e olhei o mar. Estava calmo. O sol ia firme. Meu coração batia mais rápido do que o ir e vir das ondas, uma excitação me tomava o corpo e espírito, queria saber o que me esperava. Às vezes queremos muito e nada acontece; outras, nada desejamos, mas é aí que tudo se desencadeia. Respirei fundo. Procurei não desejar nada mais do que o mar imenso à minha frente, o sol e a frescura do dia. Quando vou à praia na minha cidade, meu comportamento é outro, mantenho certa discrição, mesmo a roupa de banho é outra, um maiô ou um biquíni convencional evitam comentários maliciosos entre os fuxiqueiros locais. Mas numa praia distante, posso me vestir do modo bem à vontade, por isso o biquíni mínimo, de lacinhos, que me dá muito prazer em vesti-lo e mais ainda em tirá-lo!

Mês passado fui a uma praia mais ao sul, acabei nua num camping car! Verdade. Desfilei na areia de um lado a outro até que encontrei um senhor gordo, de um bronzeado lindíssimo, parecia capitão de um iate. Conversa vai, conversa vem à beira d’água, no bar de um pequeno restaurante, a caminho do tal camping onde queria me apresentar ao seu carro-casa. Você gosta de cerveja?, acho que não, deve apreciar uma bebida mais elegante, sugeriu. Champanha, soprei-lhe no ouvido. Um arrepio. Bebemos duas garrafas, eu doidinha para descer o biquíni.

O biquíni da vez, o de lacinhos, procurava um par de mãos para tocá-lo. Sério. Imaginem. Quem seria o felizardo a encontrar uma mulher nua, plena de desejo numa manhã de sol, sozinha numa praia quase deserta? Deitei e esperei. Mulheres bonitas sempre atraem alguém, nada de preocupação. Telégrafo sem fio, ou ondas de telefone, nem sei. Disfarcei a ligeira barriguinha, alguns quando a descobrem dizem que é o meu charme. Isso mesmo, tenho de escondê-la. Há homens que dizem que é sexy minha barriguinha. Já não sou jovem, daí a dificuldade de manter um corpo de modelo. Mas não decepciono. Estava tranquila, olhos cerrados, nas nuvens, quando observo uma sombra passar em direção à beira d’água. Um homem bonito, corpo de guarda-vidas. Ao vê-lo, tento reparar se o conheço. Outro dia apareceu um lá da cidade, não sei o que fazia na praia distante, escolhida por mim, tive de fugir, quem sabe digo sou irmã gêmea da Nete. Mas não ia colar. O tal, naquele momento, molhou os pés e ameaçou um mergulho. Eu o apreciava pelas costas. Como deve ser sua conversa, será alguém com algo mais? O algo mais me deu certo arrepio. Deixe-me a menos, menos uma tirinha de pano!, quero o pênis mais grosso. Melhor unir o útil ao agradável: a conversa de quem aparenta desejar não mais que a natureza, uma boa companhia e um pênis ereto. Oi, a senhora não mora na rua C, no Visconde, em M?, lógico que tal pergunta na boca de um homem que por acaso recém conheço acontecerá apenas no final, quando eu estiver preste a partir. Ou mesmo, nada de perguntas. O silêncio, na maioria das vezes, abre todas as portas, chave à próxima vez. Mas aquele ali, bem a minha frente, voltado ao horizonte, não conheço. Fico à espreita. Respiro o ar fresco com cobiça e gozo; sento e espalho o protetor solar sobre a pele. Minha irmã é igualzinha a mim, excito-me com tais pensamentos, é liberada, não tem vergonha de nada. E você?, ele pergunta. Ah, quanto a mim, adivinha, tento me fazer vexada, mas meu biquíni desmente, não fale pra ela que me conhece, viu, tem mania de roubar todos os meus namorados, mesmo que não agradem. Gargalhada. Mas ela não sabe fazer uma coisa que faço; não, não pense besteira, sabe o que é?, sei fazer bombom, falo sério, uma delícia. Bombom?, repete um tanto incrédulo, veste sunga preta, é moreno, cabelos pretos penteados para trás. Isso mesmo, senta aí e espera um pouquinho, eu trouxe alguns, sempre carrego dois ou três comigo, as pessoas gostam. Depois de alguns minutos, ambos em silêncio, levanto-me e convido-o, vamos entrar, a água está quente. O homem vem atrás, percebo sua respiração às minhas costas. Dez a quinze minutos depois, abraçados dentro d’água, seu peru, bem duro, roça meu biquininho. O bombom, espera pelo bombom, sopro-lhe ao ouvido. Os lacinhos tão frágeis, cordõezinhos de tesão. Quando a gente desembrulha, o bombom, é sobre o bombom que falo, faz um som difícil de imitar, ah, é mesmo?, você sabe?, é o som de um beijo, isso, acertou, um beijo que se estende, que estica. Como suas mãos, prata d'água sobre o meu corpo azul, molhado, inteiriço. Homem namorador. No fim do dia havia comido todos os bombons. Também o de lacinhos!

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