sexta-feira, março 27, 2020

Fogosa

Tenho amigas que falam que sou fogosa e hábil para arranjar namorados. Muitas mulheres, aqui em M, reclamam que não há homens na cidade, que é difícil encontrar um ser do sexo masculino mesmo para conversar, não entendem como me veem sempre acompanha pelos homens. Às vezes penso ser inveja ou olho grande. Será que me desejam sozinha, reclamando como elas? Tenho facilidade para arranjar namorado, é verdade, mas isto não significa sucesso absoluto entre os homens. Há mesmo quem eu deseje mas não me dá a mínima. Tenho mais sucesso do que fracasso, não posso negar. Porém, não existem receitas para arranjar namorado. Não me venham perguntar como se comportar para ter olhos masculinos (não apenas os olhos, é lógico) sobre si.

Outro dia encontrei uma amiga dos velhos tempos. Disse estar soltinha, como eu. A comparação foi dela. Achei engraçada a palavra – soltinha. Será que consegue voar? Deve se sentir leve, aberta, e põe aberta nisso. Já arranjei dois namorados este ano, falou com ar de segredo. Uma vez, na Costa Azul, um namorado lhe desamarrou os lacinhos do biquíni. Ela, soltinha, derretendo-se de tesão. Ótimo, retruquei, assim é que se deve ser. Soltinha. Ela foi-se, uma canarinha a planar sobre cabeças masculinas.

Janete, mais uma mulher, veio ter comigo. Foi logo dizendo encontrei com aquele teu ex, que mora na Serra, ainda gosta de você. Sim, o homem gosta de mim, mas não larga aquela Serra por nada desse mundo. Eu gosto de passear aqui na cidade. Não lhe disse que o tal, além de não me acompanhar nos meus passeios, era impotente. Sobre essas coisas, a gente fica quieta.

Mas a fogosa, qualidade que as amigas me dão, não é porque tive um namorado que negava a ereção. Elas já me viram na praia, biquininho, bumbum de fora, toda serelepe. O problema delas é que escolhem muito. Não saio com qualquer homem, mas gosto de dar chance a todos.

Certa vez veio um de cabelos brancos, achei que seria idoso, também impotente. Ficou a conversar comigo, na praia. Voltou várias vezes, dias seguidos, à mesma hora. Marcamos de sair, uma noite de quinta-feira. Na hora de trepar, surpresa. Ele tinha um peru bem duro, que não vacilava. Adorei o namoro. Não disse pra ninguém, queria aquele pênis por mais tempo. Caso comentasse, logo aparecia uma para tirar proveito. Além de demorar na foda, o homem me lambuzava toda. Nem gosto de escrever desse modo, mas quanto a ele não encontro outras palavras. Passaram-se alguns meses, ele foi embora, trabalhava numa empresa de petróleo e precisavam dele em outro lugar. Foi jorrar em outra região. Ele e o petróleo.

Não demorou, apareceu outro, e mais outro. Por isso, nada de tristeza, vou logo dizendo não posso ter compromisso, também não me venha com perguntas. Saímos, tenho mesmo uma agenda. Se quisesse, poderia ganhar dinheiro, mas trepo por prazer. Às vezes um ou outro me chama pra jantar, pra passear em outra cidade, me dão um presentes. Não faço desfeita, aceito.

Lourdes, uma moradora do Aeroporto, tem as carnes ultrapassando o biquíni minúsculo que ela usa em Cavaleiros. Está sempre cheia de óleo, a pele brilhando, sorrindo para os homens, convidando-os em pensamento, e mesmo tocando neles quando começam a conversar. Qualquer coisa que dizem, cai na gargalhada. Ela revela que consegue muitos namorados, mas só conto pra você, viu, porque sei que não vai sair falando por aí. Lourdes tem as coxas grossas, os lacinhos do biquíni convidando, bumbum extravagante. Não espalha, por favor, acrescenta, quando trepo sei dar uma mordidinha gostosa, enfeitiço os homens. Outro dia apareceu um que diz conhecer o Jorge, um namorico meu, ela me falava, notei que o homem estava caidinho, não sei por quê, mas seu olhos revelavam. O que você fez?, eu, curiosa. O que eu poderia ter feito? Imagine. Ela sorriu, prendeu os cabelos, beijou-me. Tenho um compromisso pra mais tarde, completou e se foi. O tal sorrisinho.  Seu ônibus vinha contornando a pracinha. Outra fogosa. E também soltinha.

domingo, março 22, 2020

Como arranjar namorado

Tenho amigas que acham difícil arranjar namorado. Apesar de não ser jovem como muitas delas, sempre que desejo namorado, consigo. O segredo? A atitude mental. Parece besteira, ou mesmo uma brincadeira, mas ela é muito importante. Por exemplo, não me visto ou me dispo com o objetivo de conhecer um homem, ou de arranjar alguém para aquele momento. Visto-me bem porque gosto de viver. Outra dica: sempre estou alegre, sorrindo, procurando não pensar negativamente sobre os homens. Nada de pensar que eles são egoístas, que não desejam o nosso bem e só desejam tirar proveito. Isto já se torna um impedimento. Na verdade, quem tira mais proveito somos nós.

É bom estar vazia interiormente. Como fazer? Não é aconselhável se perder em pensamentos, mas estar em harmonia com o dia que segue, com o sol, com a imensidão do mar, com os animais, aliás, com toda a natureza, e também com as pessoas que nos rodeiam, sentir a vida como algo maravilhoso, uma espécie de espetáculo. Assim, estaremos abertas a tudo que surgir. A receptividade atrai coisas boas, entre elas namorados!

Certa vez fui passear na orla marítima, na minha cidade. Caminhei de um lado a outro. Sentia-me feliz, nenhuma preocupação, parecia que eu nascia ali, ou, para dizer melhor, que surgia pela primeira vez. Surpreendia-me com o que via, o mundo era uma descoberta constante, tudo sempre novo. Podem ter certeza, caso consigam essa postura, o restante será fácil, inclusive a aproximação de homens leais. Não acreditam? Claro que existem, às vezes eles se tornam difíceis de encontrar porque não conseguimos enxergá-los. O importante é nos livrarmos dos preconceitos. Em outras palavras: estar nua interiormente. Um exemplo: a roupa é uma espécie de invólucro, ela transmite nossa opinião, nossos gostos, nossa maneira de pensar e de ser. Quando se está nua, não há o que refletir senão o próprio ser original. Surgiu-me durante meu passeio à orla um homem de cinema. Mesmo que quisesse me valorizar, não pude, entreguei-me inteira.

Conto uma história. Tenho uma amiga, assanhada como ninguém, que desce todo fim de semana de Glicério para a praia. Ela faz um truque com o minúsculo biquíni, que enlouquece qualquer homem. Quando a encontro na praia, sempre acho que está pelada, embora ela afirme, altiva, que seu biquíni é muito recatado. Num dia desses, ao entardecer, ela estava deitada na cadeira de praia vestindo a tal roupinha de banho que só ela consegue enxergar quando surgiu um homem. Que maravilha!, exclamou silenciosa. Encantou-se o recém-enamorado. Aproximou-se. De início fez-se de entediada, três quartos de hora depois abriu-se. Diz que passou dias saborosos (o adjetivo é ela) ao lado dele, quentinha. Quem agir assim – isto é, andar nua por aí – é certo que sairá vencedora, haverá mesmo uma carreira de homens caminhando ao seu encontro. Mas, sabemos, que tal postura tem suas desvantagens. Minhas dicas, no entanto, são outras. Vou pela nudez interior, a outra será mera consequência.

“Eduarda, sempre vejo você com homens bonitos”, muitas chegam a exclamar. “Não quero botar olho não”, disse outra, “mas você anda com cada bonitão, conta o segredo, vai.” Do jeito que as amigas comentam, até parece que saio com todos os homens da cidade. Isso não é verdade. Mas, voltando ao tal receituário, não há segredos, basta a atitude mental.

Nos meus contos não é assim que acontece, alguém poderá observar, “você é muito levada, sempre está nua em algum lugar da cidade, sobretudo durante a noite.” Vocês têm toda razão. Mas não ajo assim para arranjar namorado, trata-se apenas do tal arrepio. E sobre isso, a gente conversa numa outra hora.

segunda-feira, março 09, 2020

Lambida

Às vezes sinto saudades dos tempos em que vivi em M, uma cidade muito divertida, que não tinha tanta gente como essa onde vivo agora e onde era possível fazer mil extravagâncias. Passeava pela orla, ia vez ou outra à praia. Como havia muita gente de fora, era um ótimo lugar para arranjar namorado. Um arrepio. Lembro os anos de faculdade. Entre os alunos e alunas, a maioria era mulher, mas eu namorava mesmo era com os professores. Verdade. Eles pediam não conta pra ninguém, não fica bem um professor sair com as alunas. Havia aulas pela manhã e à noite. À tarde, eu descansava, ia a um café próximo ao Centro, frequentava a biblioteca e a loja de uma amiga. Eu tinha, então, 21 anos. Foi quando conheci um professor, dos mais entusiasmados, dos mais ousados, me convidava para acompanhá-lo a todos os lugares. Quando o vi pela primeira vez, passei a sentar na fila da frente, usava saias ou vestidos curtinhos, pernas cruzadas, olhava em direção a um ponto neutro, nunca a ele. Não demoraram os convites. Íamos a recepções, passeios, excursões, praias e restaurantes. Impossível não ser notada ao lado daquele homem. Com o tempo, já não era problema outras pessoas saberem sobre nosso relacionamento.

Ele tinha um apartamento num bairro conhecido como Riviera. Não é preciso dizer que acabávamos quase todas as noites naquela morada ajeitadinha, a ouvir música e a beber champanhe. O homem adorava champanhe.

Num certo sábado, resolvemos visitar as cidades da região serrana. Uma amiga de lá daquelas bandas nos acompanhou. Ela conhecia tudo e ia mostrando os lugares. Tomamos banho numa cachoeira e num rio, acabei achando que ela se insinuava para o meu professor. Ria, dissimulada, tomou banho quase nua. Por aqui não tem homem, disse, só matuto, e uma porção de veados, é difícil achar namorado, quando quero um desço à praia, a Cavaleiros ou mesmo à Costa Azul.

Ficamos o dia inteiro juntos, ela a apontar serra tal, gruta tal, rio com este nome, cachoeira com aquele, eram tantos, nem lembro mais, contava casos engraçados, como os de um lugar onde as moças e os rapazes que moravam nas redondezas namoravam. Elas, principalmente, tinham um fogo enorme, diziam não querer chegar aos finalmentes, mas é lógico que não aguentavam. Ela narrava e ria. Meu namorado dizia todo local tem dessas coisas.  No final da tarde, a amiga pediu para descer a serra com a gente, ia passar o final de semana com uma amiga. Seria amiga mesmo? Sorriu, aquele sorrisinho de quem não lembra onde deixou a calcinha.

Nos finais de semana eu e o namorado passeávamos por todo o litoral. Começávamos a beber vinho branco, terminávamos o dia bebendo champanhe, às vezes uma caipirinha, ou, quem sabe, uma dose de uísque. Havia praias extensas, caso tomássemos a direção do litoral sul. Éramos apenas nós debaixo do guarda-sol, deitados na espreguiçadeira. Em determinada ocasião, cheguei a dormir mais de uma hora, o marulhar distante e o sol de fim de tarde. Cheguei a sonhar. Um namoradinho de ocasião, numa praia que não era nenhuma das que existiam nas redondezas, num momento de entusiasmo pediu para eu ficar nua. Nua numa praia! Não demorei a decidir. Tirei o biquíni e ele me abraçou, disse você esta vestida com o meu corpo, senti então seu pênis crescendo entre minhas pernas. Acordei. O vento mais forte me desarrumava os cabelos e levantava vez ou outra um chicotinho de areia. Vamos embora, pedi. Vamos mergulhar primeiro. Dentro d’água, nos divertimos muito, o professor agarrado a mim. Depois conclui, o sonho fora resultado da influência da amiga assanhada lá da Serra, vivia a me telefonar pra falar dos homens.

Na semana seguinte a encontrei no centro da cidade. Ela ia a uma loja trocar uma peça de roupa, pediu-me que a acompanhasse, queria contar um caso que, segundo ela, me dizia respeito.

Sabe o teu namorado, começou a história, com as pupilas no canto dos olhos, gosta de deixar as mulheres nuas.

Mas é tudo que nós queremos, falei-lhe ao pé do ouvido.

Mas a coisa é em outro sentido, continuou. Ele gosta de levar as mulheres nuas no carro dele, depois, sabe com é, pede para elas saltarem, namora encostado na lataria, faz que elas vibrem de tesão.

Escutei toda a louca história, na verdade queria mesmo era atrapalhar o meu namoro.

O que ele fez antes, não me importa, o que vale é que agora está comigo, e se mostra apaixonado. Sorri após a última palavra. Ainda há mais uma coisa, acrescentei, adoraria estar no lugar dessa tal, nua encostada na lataria, na beira de uma estrada, de madrugada. Vou dar a ideia a ele.

Não faça isso, você não sabe o que pode te acontecer. Vou contar a verdade. Já saí com ele, não comente, por favor.

Arregalei os olhos.

Foi por isso toda aquela insinuação no dia em que passamos na serra, agora entendo.

Desculpe, ela disse, não consegui disfarçar, o homem me deixou nua, de madrugada.

Sério?, fiz que não acreditava.

Juro, não vou mentir com essas coisas. Não vou contar agora como o conheci, é uma história complicada, uma festa e coisa e tal. Namoramos uns dois meses, numa noite ele me pediu pra eu encontrar com ele vestindo uma peça, um vestidinho fino, nada  mais. Parou à beira da rodovia, começou a me abraçar, me beijar, acabou por me tirar o vestido, depois pediu pra eu descer do carro, atravessar a estrada e esperar por ele do outro lado.

Olhou para mim com cara de safada.

E não é que aceitei?

Como é essa história?

Isso mesmo, nua na estrada, às duas da madrugada. Ele partiu, falou que voltava, levou meu vestidinho dentro do carro. E eu nua, imagine, pelada, esperando cinco, dez, quinze, vinte minutos e nada. Ele não voltava. Como não voltou. Só o vi três dias depois, passando de carro pelo centro.

Você não prestou queixa à polícia?

Não, nada de polícia, não queria escândalo.

E como você se safou?

Não me safei, tive que recorrer a alguém, que me deu uma carona e amainou as coisas. Mas em troca tive de trepar com o cara; além disso, chegar nua em casa.

Ela seguiu seu caminho. Continuei por um tempo com o professor, meu namorado, ex-namorado de minha amiga. Até que, um dia, ele me fez o tal pedido, sair apenas coberta por um vestidinho fino, como ela me contara.

Ele marcou pra hoje a tal aventura, falei assustada à amiga ao telefone. O que você acha?

Acho que vou mandar o tal homem que me resgatou naquela noite buscar você.

Você namora com ele?

Quem sabe?, mas não sou ciumenta.

Caímos ambas não apenas em armadilhas, mas numa gostosa gargalhada.


A história me fez ficar toda arrepiada.

Que saudade dos tempos em que vivi em M.