Ele tinha um apartamento num bairro conhecido como Riviera.
Não é preciso dizer que acabávamos quase todas as noites naquela morada ajeitadinha,
a ouvir música e a beber champanhe. O homem adorava champanhe.
Num certo sábado, resolvemos visitar as cidades da região serrana. Uma amiga de lá daquelas bandas nos acompanhou.
Ela conhecia tudo e ia mostrando os lugares. Tomamos banho numa cachoeira e num
rio, acabei achando que ela se insinuava para o meu professor. Ria, dissimulada,
tomou banho quase nua. Por aqui não tem homem, disse, só matuto, e uma
porção de veados, é difícil achar namorado, quando quero um desço à praia, a Cavaleiros ou mesmo à Costa Azul.
Ficamos o dia inteiro juntos, ela a apontar serra tal, gruta
tal, rio com este nome, cachoeira com aquele, eram tantos, nem lembro mais, contava casos engraçados, como os de um lugar onde as moças e os rapazes que moravam
nas redondezas namoravam. Elas, principalmente, tinham um fogo enorme, diziam não
querer chegar aos finalmentes, mas é lógico que não aguentavam. Ela narrava e
ria. Meu namorado dizia todo local tem dessas coisas. No final da tarde, a amiga pediu para descer
a serra com a gente, ia passar o final de semana com uma amiga. Seria amiga
mesmo? Sorriu, aquele sorrisinho de quem não lembra onde deixou a calcinha.
Nos finais de semana eu e o namorado passeávamos por todo o
litoral. Começávamos a beber vinho branco, terminávamos o dia bebendo
champanhe, às vezes uma caipirinha, ou, quem sabe, uma dose de
uísque. Havia praias extensas, caso tomássemos a direção do litoral sul. Éramos
apenas nós debaixo do guarda-sol, deitados na espreguiçadeira. Em determinada
ocasião, cheguei a dormir mais de uma hora, o marulhar distante e o sol de fim
de tarde. Cheguei a sonhar. Um namoradinho de ocasião, numa praia que não era nenhuma das que existiam nas redondezas, num momento de
entusiasmo pediu para eu ficar nua. Nua numa praia! Não
demorei a decidir. Tirei o biquíni e ele me abraçou, disse você esta vestida
com o meu corpo, senti então seu pênis crescendo entre minhas pernas. Acordei.
O vento mais forte me desarrumava os cabelos e levantava vez ou outra um
chicotinho de areia. Vamos embora, pedi. Vamos mergulhar primeiro. Dentro
d’água, nos divertimos muito, o professor agarrado a mim. Depois conclui, o
sonho fora resultado da influência da amiga assanhada lá da Serra, vivia a me telefonar pra falar dos homens.
Na semana seguinte a encontrei no centro da cidade. Ela ia a uma
loja trocar uma peça de roupa, pediu-me que a acompanhasse, queria contar um
caso que, segundo ela, me dizia respeito.
Sabe o teu namorado, começou a história, com as pupilas no
canto dos olhos, gosta de deixar as mulheres nuas.
Mas é tudo que nós queremos, falei-lhe ao pé do ouvido.
Mas a coisa é em outro sentido, continuou. Ele gosta de levar
as mulheres nuas no carro dele, depois, sabe com é, pede para elas saltarem,
namora encostado na lataria, faz que elas vibrem de tesão.
Escutei toda a louca história, na verdade queria mesmo era
atrapalhar o meu namoro.
O que ele fez antes, não me importa, o que vale é que agora
está comigo, e se mostra apaixonado. Sorri após a última palavra. Ainda há mais
uma coisa, acrescentei, adoraria estar no lugar dessa tal, nua encostada na
lataria, na beira de uma estrada, de madrugada. Vou dar a ideia a ele.
Não faça isso, você não sabe o que pode te acontecer. Vou
contar a verdade. Já saí com ele, não comente, por favor.
Arregalei os olhos.
Foi por isso toda aquela insinuação no dia em que passamos
na serra, agora entendo.
Desculpe, ela disse, não consegui disfarçar, o homem me
deixou nua, de madrugada.
Sério?, fiz que não acreditava.
Juro, não vou mentir com essas coisas. Não vou contar agora
como o conheci, é uma história complicada, uma festa e coisa e tal. Namoramos
uns dois meses, numa noite ele me pediu pra eu encontrar com ele vestindo uma peça, um vestidinho fino, nada mais. Parou à beira da rodovia,
começou a me abraçar, me beijar, acabou por me tirar o vestido, depois pediu
pra eu descer do carro, atravessar a estrada e esperar por ele do outro lado.
Olhou para mim com cara de safada.
E não é que aceitei?
Olhou para mim com cara de safada.
E não é que aceitei?
Como é essa história?
Isso mesmo, nua na estrada, às duas da madrugada. Ele
partiu, falou que voltava, levou meu vestidinho dentro do carro. E eu nua,
imagine, pelada, esperando cinco, dez, quinze, vinte minutos e nada. Ele não
voltava. Como não voltou. Só o vi três dias depois, passando de carro pelo
centro.
Você não prestou queixa à polícia?
Não, nada de polícia, não queria escândalo.
E como você se safou?
Não me safei, tive que recorrer a alguém, que me deu uma
carona e amainou as coisas. Mas em troca tive de trepar com o cara; além disso, chegar nua em
casa.
Ela seguiu seu caminho. Continuei por um tempo com o
professor, meu namorado, ex-namorado de minha amiga. Até que, um dia, ele me
fez o tal pedido, sair apenas coberta por um vestidinho fino, como ela me contara.
Ele marcou pra hoje a tal aventura, falei assustada à amiga ao telefone. O que
você acha?
Acho que vou mandar o tal homem que me resgatou naquela noite buscar você.
Você namora com ele?
Quem sabe?, mas não sou ciumenta.
Você namora com ele?
Quem sabe?, mas não sou ciumenta.
Caímos ambas não apenas em armadilhas, mas numa gostosa gargalhada.
A história me fez ficar toda arrepiada.
Que saudade dos tempos em que vivi em M.
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