segunda-feira, janeiro 25, 2021

Troféu

A gente lembra das pessoas e sente saudades. Esses tempos de quarentena aproveitei para arrumar algumas coisas e encontrei as fotos. Éramos cinco. Eles e eu. Quero dizer, quatro homens e uma mulher. A casa, em Búzios. Isso mesmo, eles tinham uma bela casa, nos fundos uma quadra de vôlei. Adoravam jogar. Formamos um time misto, quatro homens e uma mulher, faltava sempre um, ou uma. Não importa, diziam, a gente arranja alguém para completar. E sempre ganhávamos. Mesmo que o sexto não jogasse bem, ocupávamos os espaços dele. Jogávamos nas areias da praia, nos fundos de casa, no clube local. Todas as vezes que estávamos na cidade, vinham nos convidar. Vôlei e mais vôlei. No final da tarde, eu mergulhava, exausta. A água do mar me revigorava. Saíamos à noite, sempre juntos, sempre os cinco.

Preciso um parágrafo à parte para as noites. Imaginem uma casa com quatro homens e apenas eu de mulher. Uma mulher quente, como sempre sou. Dormia na sala. Estendia um colchão, cobria com um lençol e deitava nua dentro de uma camiseta. Eles me conheciam. Não demorava, no escuro da madrugada, sentia um deles encostado a mim. Eu, de costas, curvada; ele, a contornar minhas curvas, a completar meus vazios. No dia seguinte, amanhecia sozinha, toda preguiça, eles corriam nas areias da praia. Não preciso de tanto exercício, murmurava, sou levantadora. Na noite seguinte, alguém de novo às minhas costas, e eu sempre nua, mulher de todos. Nunca nada comentamos.

 

A foto: um time de vôlei, quatro homens e uma mulher. Na hora da foto, o que completava não aparecia. Éramos uma equipe ímpar.


Certa vez me virei de frente. Vou descobrir meu namorado de hoje. Mas eles eram hábeis, conseguiam esconder a face. E eu, na verdade, não me esforçava para saber quem era. Amava todos e não desejava estragar a relação. Minhas mãos e minha boceta conheciam todos os perus. Sabia eu também seus movimentos. Mas como saber de quem era durante o dia se todos iam de calções, shorts, bermudas? E não se mexiam sob a luz do sol como na hora do sexo.

Passamos o verão inteiro vencendo todas as partidas. Completávamos noites e madrugadas também vencendo no amor, sobre o colchão. Uma das vezes, na praia, mergulhamos os cinco, abracei e beije a todos, estava tão feliz. E eles me carregaram nua, como se tivessem conseguido uma sereia. Ou, quem sabe, o troféu de todo o campeonato.

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