Vou de metrô, direção centro, entrei no Largo do Machado, 13h45. Descubro um amigo num dos bancos, próximo à porta do meio do vagão. Me
aproximo, ele lê um livro. Toco suas costas. Olha e se mostra contente pelo
encontro inesperado. Quer me ceder o lugar. Não, por favor, não precisa, já vou
saltar. Digo a estação. Você vai saltar na mesma estação que eu, fala com a face luminosa. Meu amigo
já me paquerou faz dois anos, e bem que gostei. Sou pequena, magra, e ele
parece gostar de mulheres do meu tipo. Trajo um vestidinho estampado, de alças,
faz calor, desce até acima dos joelhos. Vou dar aula, trabalho no IBEU, no
centro, já te falei, não?. Movimenta a cabeça, concordando. Lembro, sim, bom dar aulas de
inglês. Ficamos na conversa possível. Pergunto onde trabalha. Ainda no mesmo
lugar. Como vão as pessoas? – conheço algumas – pergunto o que faz no metrô àquela
hora. À tua espera, ele poderia ter dito, ou, na esperança de te encontrar por
aí e a gente dar um passeio, outra tirada de efeito. Não diz isso, mas alguma
coisa que não entendo. Quando o trem entra estação Carioca, saltamos juntos.
Sou uma mulher quente, como dizem por aí. Quando era
adolescente, os garotos adoravam me namorar, não conheciam uma menina tão cheia
de fogo como eu. Enquanto andamos juntos, sinto calor. Isabela, você está
indo para o curso, por favor, falo a mim mesma. Quando vamos nos despedir, em
frente à Sete Setembro, diz que pena não podemos passear um pouco. De imediato,
respondo sim, encontre comigo daqui a duas horas. Verdade?, sorri. Verdade, a
gente toma um café, sugiro, ou faz outra coisa. Marcamos o lugar, beijo os dois
lados de sua face, dou as costas e aperto o passo. Deve ter pensado que
outra coisa poderemos fazer? Corro ao curso, começo a aula com dez minutos de
atraso. Tenho um aluno engraçadinho, dezessete anos, não para de olhar minhas pernas.
Na saída, logo que passo a porta do prédio, um homem pisca
para mim. Hoje, não se pode mais assediar as mulheres, um assovio ou uma
piscadela podem levar à prisão. Uma pena, salve o novo admirador. Gosto que me admirem,
mas jamais correspondo. Mesmo que esteja morrendo de tesão. Fico na minha, nada
de extravagâncias. Certa vez, já faz uns dez anos, um homem me seguiu, me
perturbou demais, acabei parando para conversar. Tudo porque ele tinha os olhos
azuis. Mesmo foguenta, sair de primeira com um desconhecido sempre foi uma
loucura, não ia me arriscar. Aceitei o café, ou coisa parecida, deixei o meu
número, mas ele nunca telefonou. Caso tivesse continuado conversando, poderia
tê-lo namorado. Há homens que querem a gente na hora, não sabem investir no
futuro. O que tenho a dizer é: azar é o deles.
Meu amigo me espera na porta da Livraria da Travessa. Entramos
e subimos ao segundo andar, onde há uma cafeteria. Posso pedir o que bem desejar.
Jura?, sorrio, olha que dou despesa. Deve ser bom dar aulas de inglês, diz,
você faz muitos conhecimentos. Não é bem assim, a maioria é adolescente, há um
ou outro adulto, e dou aulas para as séries iniciais, fica-se repetindo sempre
a mesma coisa, não é ruim, mas também não é tão agradável. Franze a teste, gosta
do que falo. Sabe, continuo, certa vez arranjei um namorado. É mesmo?,
mostra-se curioso. Sim, da minha idade, ainda bem que ninguém do curso notou, não
é bom sair com aluno, e nosso namoro durou um tempinho. Faz cara de que entende.
A garçonete aparece com os cardápios, um para cada. Quero mesmo um expresso,
digo. Coma um sanduíche, os daqui são deliciosos. Olho o cardápio e vejo os
preços, são incrivelmente altos, talvez dê para comprar um livro no lugar do
sanduíche, mas como sou convidada, aceito. Ele carrega um livro, tomo a
liberdade de virar a capa e ler o título. É francês, não sabia que você fala
francês. Pra falar não sou tão bom, mas ler é comigo mesmo, e a literatura
francesa é ótima, ressalta. Gostaria de ler assim como você, não em francês,
mas em português ou em inglês, o problema é que sempre estou ocupada com alguma
coisa; quando dou pela hora, já é tarde, estou exausta, acabo indo dormir, às
vezes nem vejo TV. É assim mesmo, retruca, a vida de hoje é muito complicada, é
preciso muita disciplina para se tornar um leitor ou uma leitora. Música
instrumental serve de fundo ao nosso encontro, há duas outras mesas ocupadas.
Numa delas, dois homens; na outra, duas mulheres e um rapaz. A garçonete não
demora a chegar com o que pedimos. Serve-me primeiro, põe o café à minha frente
e o prato com o sanduíche ao lado, queijo brie com ervas. Meu amigo fica só no
café. Você me incentiva a pedir sanduíche e não vai comer nada, assim não vale,
reclamo animada. Não tenho fome agora, almocei tarde. Avanço na conversa, acho
que o último livro que li foi da Clarice Lispector, lembro que tive um
professor que falava: os livros da Clarice são cheios de epifanias, odiava a
palavra, agora compreendo o que ele queria dizer. Meu amigo fica a me ouvir, dá
uma opinião ou outra, olha meu rosto. Será que adivinho seus desejos? Continuamos
conversando sobre livros. Ele fala do romance que está lendo, diz que comprou
vários livros na última vez que foi à França, faz seis meses.
Quando saímos do café da livraria, caminhamos pela Sete de Setembro. Antes de chegarmos à Rio Branco, puxo-o pelo braço, viro-me e me coloco à sua frente. Eu, menor, fico na ponta dos pés, beijo-lhe os lábios. Engraçado, não tenho outra palavra para o ato, agarrada a ele, beijando-lhe a boca, muitas pessoas cruzando a rua, nos ladeando. O beijo é longo. Quando o solto, ele diz teu corpo está quente. Rio, é assim mesmo, encosto o rosto no seu peito. Vou levar você a um lugar melhor pra gente namorar, escuto.
Meia hora depois, estou nua, na cama de um hotel, acho que na Senador Dantas. Um dia que me acaba bem.
Me aperta bem, vai, chupa os meus mamilos. Me rasga, me rasga. Ele me penetra, tento fechar um pouco as pernas. Mete bem fundo, mete, sou tua piranha, tá, uma piranha nua, quente, isso, chupa, chupa que vou gozar.
No final, sou eu a anotar seu telefone.