Dortothy deve ter sido uma mulher apaixonante. Depois que partiu, muitos homens vêm perguntar se eu tenho alguma informação sobre ela. O que posso dizer é que se mudou para os Estados Unidos. Ela morava no mesmo prédio que eu, ou melhor, no apartamento ao lado. Sempre quando alguém vem procurá-la, como não recebe resposta (seu apartamento está vazio), chama pelo interfone o apartamento mais próximo, que é o meu. Você há de convir, a gente esta aqui neste bar conversando, a cinquenta metros de onde moro, posso afirmar que jamais a vi nestes restaurantes da vizinhança, ou mesmo que tenha trazido namorados para seu apartamento. Aliás, uma vez apenas a vi com um homem. Ela entrava no prédio, era mais de meia-noite, enquanto eu saía. Conversamos algumas vezes, o que sei é através de sua própria voz. Sempre estava sorrindo e falava que os homens viviam atrás dela: veja só, há mulheres que desejam arranjar namorado, enquanto eu tenho de despachá-los, não sei por que tantos homens atrás de mim. Tal conversa pessoal só aconteceu uma vez, nas outras conversamos banalidades, como o preço do aluguel, o que se tinha para fazer num sábado à noite, uma receita de comida espanhola, coisas do gênero. Você pode me fazer um favor?, perguntou certa vez. Claro, respondi. Você pode me dar o número do seu telefone?, você entende, não?, pode acontecer alguma coisa, sou uma mulher sozinha, é bom ter alguém como contato, ela pediu. Deixei meu número. Mas ela nunca me incomodou, nem pessoa alguma me telefonou procurando-a. Sei de mulheres que, quando saem com um homem pela primeira vez, pedem para alguém ficar de sobreaviso. Não sei se era a sua intenção, não perguntei, nem nunca ligou pedindo a mínima coisa que seja. Você sabe, muitas mulheres se aventuram com homens de vários tipos, temem cair nas mãos de um malfeitor. Também não sei o que eu poderia fazer caso me telefonasse de madrugada pedindo qualquer tipo de ajuda. Vá que seja uma roupa pra voltar pra casa, tudo bem, aí posso ir até onde a pessoa está e ajudar, mas mais do que isso, impossível. Acho que existem mulheres que se sentem mais seguras quando tem alguém com quem podem contar. Mas Dorothy jamais me telefonou. Fico impressionada com a quantidade de homens procurando por ela depois que se foi, penso no que poderia ter de excepcional. Não consigo descobrir. Tive uma amiga, faz tempo, que tinha também muitos namorados. Ela não era daqui do Rio, foi numa outra cidade onde trabalhei. Certa vez, ao sair com ela, perguntei o que tinha de mais pra ter tanta audiência. Ela riu, deu de ombros e acabou me contando que os homens a achavam gostosa. E a mulher não era bonita, nem usava roupa curta. Certa vez, alguém me contou algumas coisas sobre ela, mas não acreditei. Em cidade pequena, existe muita fofoca, e o que me contavam não era possível. Acho que tinha um jeito especial de trepar que atraía todos eles. Cheguei a insinuar por que minha amiga não escolhia um deles para ter uma vida regular. Ela riu e disse que assim perdia a graça. Agora, voltando a Dorothy, até ela ir embora, não notei nada de extravagante. No final, veio me falar vou me mudar para os Estados Unidos, conheci um americano que está apaixonado por mim. Você vai mesmo?, ainda perguntei com a entonação de dúvida, de que poderia ser alguma coisa arriscada acreditar num homem e partir tão de repente. Ela disse agora acertei, tive mais de cem namorados, sabe quando você conhece um homem e diz é esse?, então, aconteceu. No dia de partir, perguntei se queria que eu a levasse ao aeroporto. Não, obrigada, já combinei tudo com um motorista. Na despedida, pediu caso alguém me procure, diga que me mudei para os Estados Unidos, só isso. Afirmou que manteria o meu contato, que eu poderia enviar mensagens, mas que não desse o número pra ninguém, agora ela estava comprometida. Riu após suas últimas palavras, antes de me beijar. Recebi uma mensagem dela logo nos primeiros dias, quando chegou, disse estar tudo bem, às mil maravilhas. Depois, silenciou. Quanto a mim, não quis incomodar.
terça-feira, março 30, 2021
terça-feira, março 23, 2021
O tal vazio
O vazio colocado por ele, entretanto, era de outra natureza.
terça-feira, março 16, 2021
Bem fundo
Amor, por favor, não, você sabe que gosto dos meus textos bem escritos, revisados à exaustão, não posso escrever agora, nesta situação. Eu sei que você tem muitas fantasias, inclusive a de me ver escrevendo peladinha uma história, mas é difícil ficar sentada aqui em frente ao computador cheia de tesão, doidinha pra trepar com você, a tentar escrever uma história. Tanto mais com você nu ao meu lado, com esse pinto durinho, eu a dar beijinhos na ponta. Não, por favor, amor, vamos deitar, amanhã escrevo. Lembra aquela vez, contei a você, dois homens me pediram a mesma coisa, era uma aposta, fiquei exausta, acabei escrevendo e publicando na mesma hora, pra interesse deles. Mas foi uma exceção, eu tinha um amigo que morava na Dinamarca, ele me dava tantos presentes, e ganharia a aposta. Acabei cedendo. Tenho uma amiga que me diz Célia, relaxe e goza, os homens estão sempre a te paparicar, a te dar presentes, se eu fosse você não pensava duas vezes. Mas, para quem está do outro lado, em frente ao teclado, não é a mesma coisa. Estou tão excitada. Não, amor, sei que você já me dá mil presentes, não precisa me pagar pra escrever. Não é assim que funciona. As coisas caminham assim nas editoras. Muitas mulheres aceitam qualquer coisa pra publicar um livro. É como na TV, pra conseguir uma vaga tem o teste do sofá, e agora está armado este circo todo, com as atrizes processando os homens por abuso sexual, assédio e até estupro. Amor, compreende, vem, vamos deitar, pronto dei mais um beijinho na ponta do teu pinto, você chega estar quente, e quer me ver escrevendo. Devia me comer, imediatamente, sem perder um minuto. Você gosta de fazer tudo com calma, nada de gozar logo, sei, tanto melhor para as mulheres. Fico pensando nas namoradas que você teve, não souberam aproveitar o homem que tinham junto a si. Ah, adivinhei, elas não era escritoras, caso o fossem e escrevessem peladas às duas e trinta da madrugada estariam com você até hoje! Você só quer namorar escritoras, e vê-las escrevendo nuas, e vendo-as publicar imediatamente após terminar o texto. Mas, amor, um texto nunca está terminado, tanto mais a gente lê, mais encontra algo que não agrada, precisando ser modificado. Quando se publica um conto ou um romance, é porque é preciso sair o livro, caso permitissem a gente ficaria revisando a vida inteira, e sempre acharia ainda o que modificar. Mais um beijinho, abaixe aqui, viu, isso, quero a tua língua, bem gostosa, está quentinha também. É por que você espera pelo meu texto? Não, amor, você precisa ceder, não pode fazer isso com uma mulher, obrigá-la a algo que ela não quer, é como um estupro. Você não entende assim? Verdade. Nada disso de relaxe e goza, comigo não funciona, aliás, só funcionou uma vez, e eu não gosto de falar sobre. Não, claro que não, amor, não vou escrever sobre o que aconteceu. Acho que já até escrevi, não lembro. Talvez se procurar entre todos os meus textos, há alguma referência. Agora quero namorar. Caso escrevesse alguma coisa hoje, seria sobre vir à casa do namorado pra trepar com ele. Escreveria é ótimo ter um namorado que nos convide para ir ao seu apartamento, por isso é importante arranjar namorado que não seja comprometido. Então, no apartamento, ele me serve uma taça de vinho tinto, coloca música; sento, cruzo as pernas e fico olhando a ele. Assanhada. Mas nada de tirar a roupa logo, aguardo. Seria uma história delicada, de amor e carinho. Sem chances de ser diferente. Acho que já escrevi sobre uma vez que deitei na cama de um namorado vestida inteirinha e ele me disse você vai ficar toda amarrotada, deitei mesmo assim, depois de uns apertos e uns beijos fiquei toda amarrotada mesmo! Começamos então a rir, ele disse tenho ferro elétrico se você quiser passar, ou empresto uma roupa minha, as mulheres adoram roupas de homem. Amor, já falei demais, nada de escrever agora, vamos pra cama, já estou levantando, me abraça, adoro quando você me abraça apertado, me encosta na parede, eu nua. Isso, amor, assim, assim, vamos deitar, amor, estou ficando toda molhada, não posso mais resistir. Amanhã. logo ao acordar, escrevo a história pra você, prometo, também publico imediatamente, vou vencer minhas neuras de revisar um texto ao infinito. Agora vem, amor, isso, amor, um carinho bem gostoso, assim, é como gosto, a literatura fica pra depois. Ai, amor, ai, você sabe que gozo várias vezes, não para, não, não para, mete, mete bem fundo...
segunda-feira, março 08, 2021
Não me deixa faltar
Ele me enviou uma mensagem dizendo teu aniversário passou mas não esqueci, ainda é tempo de te dar um presente. Tal namorado (nomeio namorado porque sempre está cheio de amor por mim) só tem uma exigência, que eu vista um vestidinho de tecido fino, minha pele lisa por baixo, apenas, deixando-o cheio de tesão. Outro dia pensei não posso atender seu pedido, tenho minha personalidade, não é meu modo costumeiro de vestir. Além disso, acabo sendo objeto de admiração de todos os outros homens. Às vezes vêm atrás de mim! Mas ele me paga de duzentos a trezentos, apenas para ir com o vestidinho e lhe dar um beijinho na hora de ir embora. O envelope, tira-o do bolso do blazer, branco que só. Abro quando estou sozinha, em casa. Fico numa tremenda dúvida, vou ou não? Leio a mensagem no celular. Houve uma vez quando usei um macaquinho, as pernas morenas de fora, as costas, os ombros morenos leitosos, o homem não aguentou, pude reparar direitinho. Tenho uma amiga que não vê problema nenhum aceitar estes pedidos, diz que tem uma conta no Instagram, entra em contato com os homens, não demora a declarar que está apaixonada, passa uma semana diz que no banco sua conta vai no vermelho, alguém a assedia por causa de uma dívida, será que ele não pode lhe depositar quinhentos reais? De início, o recente namorado se assusta, mas acaba depositando se não o total, pelo menos a metade. Ela envia uma porção de fotos para ele, deitada, sentada, de pé, sempre nua. Outro dia disse vou tomar uma ducha, e logo mandou duas fotos dela nua no banho. O homem esperou com impaciência. Mas quanto a mim, tenho certo receio. Não abri conta no Instagram, me basta o Zap, o Facebook, a quantidade de homens atrás de mim é alta, mas adivinhem o que eles querem. Não posso dar pra todo mundo. Fica chato. E olha que gosto à beça de transar. Este que me gosta de vestidinho leve e fino é tão delicado, tem conversa boa, me leva pra lugares agradáveis. Pena que só trepei com ele uma vez. Não sei por que não saímos mais vezes, acho que falta de oportunidade. Não é tão bom de cama como outros homens que conheci e que conheço, mas adora minhas histórias. No dia em que trepamos, contei uma sacanagem no ouvido dele, o homem ficou logo de pau duro, pediu que eu o chupasse nos intervalos da narração, (contei uma história louca, do dia em que fui à praia em Mangaratiba com um biquíni mínimo do mínimo) acabou gozando dentro da minha boca. Não tive coragem de cuspir sua porra. Até que estava gostoso, tudo no fim me rendeu 500 reais. E o saborzinho pareceu de chocolate! Agora, foi meu aniversário, deixa de bobagem, Zilda, falo comigo mesma, tudo se resolve em quarenta minutos. Mas dessa vez, se além do presentinho pudermos ir de novo a um hotel, quero que meta lá dentro, bem fundo. Conto a história da Juliana, biquíni de lacinhos, amarradinho no tornozelo do namorado, na praia de Muriqui, os dois dentro d'água, mas pela minha voz a protagonista sou eu e o homem este sobre a cama comigo! O namorado é mais velho que eu doze anos, mas, depois de minhas historias, não vai me deixar faltar.