Eu tinha me separado e me mudado para a serra. É assim que a gente fala aqui na região. Há uma diferença entre morar na cidade, que é a sede do município, e a serra, na verdade um distrito, lugar rústico, de clima ameno, cortado por um rio de águas cristalinas permeado por várias quedas d’águas.
Logo nos primeiros meses, fiz amizades, em geral com pessoas
bem mais jovens do que eu. Contaram-me sobre as possibilidades de passeios,
como caminhadas e escaladas, recantos de onde se pode apreciar uma paisagem
muito bonita. O mais interessante, porém, é o período de verão. Muita gente vem
tomar banho na cachoeira ou no rio. Há jovens que preferem o banho à noite,
quando, da mesma forma que acontece durante o dia, desejam aliviar o calor
trazido pelas correntes de ar quentes que envolvem a região.
Com o passar do tempo, no entanto, não custei a descobrir que
a frequência ao banho noturno não é desejada apenas para aliviar o calor, mas
porque os rapazes aproveitam para tirar a roupa das moças, que mergulham como
Evas e nadam nas águas frescas locais. Formam-se casais sem se fazer alarde, o prazer então é maior.
Como sou dez ou quinze anos mais velha do que a maior parte
dos jovens, a princípio fiquei com um pé atrás, mas em poucos dias me apareceu
um admirador que foi comigo para o tal banho. Arranjamos um local à margem,
arborizado, onde eu pudesse me despir à vontade. Depois entramos n’água e
aproveitamos. Caso encontrássemos outro casal, tudo permaneceria na maior
discrição, como se fôssemos os únicos no local. Meu namoradinho, que é só para
essas coisas (nada de ficar no meu pé, já avisei de antemão), no escuro da
noite, entre carícias da água morna e de suas mãos, me contou casos muito
engraçados da região, dentre eles o de uma frequentadora gostosona que tem um
marido muito ciumento.
Ela, durante o dia, estende uma toalha sobre a pedra, abre
uma revista e fica tomando sol vestindo o menor biquíni da região. À noite,
quando o marido está de plantão, ela reaparece, e não é apenas para o banho. Há
quem diga que ela tem cinco amantes. Como o lugar é pequeno, poucas coisas para
fazer, é preciso dar um desconto. Ela deve namorar no escurinho da noite com
apenas dois, ou mesmo um. Foi o que pude constatar numa das vezes em que me
misturava às sombras das árvores, à cata de minhas roupas. Ela sorriu para mim,
um sorrisinho cúmplice e levou um dos rapazes pelo braço. Não notou que eu
tinha um acompanhante, fez um sinal que eu esperasse, queria me mostrar algo.
Fiquei pensando o que uma mulher poderia mostrar a outra num lugar escuro,
depois das dez da noite. O que fiz foi namorar, o máximo que pude. Depois disse
ao namoradinho vamos lá pra casa, podemos aproveitar. Após ele ter ido embora, fiquei a refletir o que aquela mulher desejava
conversar comigo.
No dia seguinte, descobri. Ela foi bater à minha porta para
pedir um favor: aqui todos são discretos, conto com você, viu; se meu marido
souber, acho que me mata, não fale nada pra ninguém. Contou em seguida sobre as
alegrias que vivia na região. No final, ainda confessou: aqui é como o paraíso,
namoramos todos, e eles namoram todas, nunca houve um lugar tão feliz: às vezes
a bagunça é tão grande, continuou ela, bagunça no bom sentido, você entende,
que volta e meia uma de nós volta nua pra casa, só no dia seguinte é que
consegue encontrar as peças de roupa, é o maior arrepio!
Não consigo sentir arrepio em ter de voltar pelada pra casa,
mas que os garotos são gostosos, não há dúvida.
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