Eu vinha do toalete, o namorado me aguardava na porta; o restaurante, mimoso e acolhedor. Um homem saía da porta ao lado – o toalete masculino –, olhou-me, surpreso. O motivo: além do corpo mignon, eu estava nua, ou melhor, trajava uma saída de praia rendada, dessas que descem até abaixo dos joelhos, deixava entrever o que se veste por baixo, vinha abotoada até o umbigo, daí em diante escorregava aberta. Um segredinho: pareço mulher, mas não sou. Por isso, a surpresa maior do tal homem. Ele entreviu, por causa do movimento fugidio do tecido, algo inesperado: meu pênis soltinho. Há quem diga que sou pervertida, que adoro me exibir, que há hora para essas coisas; num lugar público, minha atitude seria indecente. A nudez é a nossa natureza, argumento. Além disso, caso se pense de modo diferente, digo: os tempos estão mudados, existem mulheres que andam nuas e ninguém reclama, as pessoas as apreciam, querem observá-las de perto, por que eu, uma pessoa trans, não posso também andar nua? Preconceito? Outro ponto, caso cada pessoa esteja preocupada com a sua vida, não vai dar por mim nem pelo que visto ou não por baixo da renda. Os proprietários do restaurante já me conhecem, conhecem o namorado, cumprimentam-nos, agradecem nossa presença. Caminhamos até uma das mesas laterais, sentamo-nos. Cruzei as pernas, cobria assim meu sexo, sentia-me protegida caso descobrisse algum outro olhar maldoso. O namorado pediu duas caipirinhas.
A praia, em frente, não permite o nudismo total, uma pena. Quando
a frequento, visto um biquininho lindo. Ao ir ao restaurante, corro sempre ao
toalete e dispo-me, assim me sinto mais confortável, de bem com a vida; uma
ponta de excitação me completa. O namorado adora, já me conheceu com esse costume.
No começo, pensou que teríamos problemas, mas depois chegou à conclusão de que o
problema é das pessoas que querem nos reparar.
Descobri Célia numa mesa próxima. Você não vai me contar uma
história, por escrito?, quero publicar, viu?, ela me segredou, quando seu
acompanhante deu uma saidinha para fumar; você tem coisas interessantes para contar,
e nos últimos tempos estamos com uma audiência enorme. Quando seu homem voltou,
ela correu para a mesa onde estavam. Vestia uma saída de praia curtinha, certa
vez me disse que não era tão ousada quanto eu.
Naquele dia ficamos até o final da tarde, bebemos duas
caipirinhas cada um, comemos frutos do mar.
Quero namorar, segredei-lhe no ouvido. Aqui?, ele. O que
você acha?, devolvi. Ele me beijou na boca, um beijo comprido. Troquei as
pernas de posição, a esquerda sobre a direita. Meu pênis não é pequeno, e não ficou rijo, ainda
bem. Nesse ponto sou quase uma mulher. Só não posso gozar. Porque, depois,
morro de vergonha.
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