Tenho uma amiga chamada Nete. Ela já é entrada nos cinquenta
anos, mas é bonita mesmo. Gosta de se arrumar e sair para passear. Paquera
muito os homens, mas é muito dissimulada. Certa vez veio me contar uns gostos
estranhos que lhe assediam. O principal deles é descobrir mendigos bonitos.
“Nete, existem mendigos bonitos, nessa nossa cidade tão mal
tratada?”, perguntei.
“Claro, é só prestar atenção. Lá pelos lados do Miramar, há
um que é louro, os olhos verdes.”
“E como você faz?”, insisti, minha curiosidade é de matar.
“Não faço, só fico olhando. Aliás, houve uma época em que eu
conversava com um ou outro, mas é arriscado. As pessoas acabam vendo a gente
conversando com mendigos e falam muito por aí, uma fofocada atroz.”
Descobri que ela não apenas fica olhando, sorrateira, como
afirmou, mas conversa com eles. Houve um que ela quis levar para casa e dar um
banho. Ele a olhou assustado. Nete acabou me contando a verdade.
“Você não quer se arrumar, sair por aí, passear comigo?”, propôs
ao tal.
Ele continuou a olhá-la assustado. Segundo ela, ele não foi.
Mas Nete às vezes não me fala a verdade inteira.
Houve um final de semana em que a convidei para irmos, nós
duas, a Lumiar. Procurei a mulher pela cidade o dia todo, nada de encontrá-la.
Dias depois, quando a vi perto da rodoviária, ela se engasgou toda para me
dizer o que fizera no tal fim de semana. Antes de se despedir, disse que uma
hora dessas me contaria direito o que aconteceu, mas nada, até hoje não sei.
Imagino Nete levando o mendigo louro para casa. Ou para um
hotel. O problema seria entrar num hotel com ele. De repente, ela arranjou uma
roupa, um vidro de perfume, ajudou o homem a melhorar a aparência e os odores e
entrou com ele naquele hotel que fica atrás do antigo parque. Há umas suítes
com banheira, ou minipiscina, não sei bem. Nete enfiou o homem dentro e ensaboou-o
até brilhar a pele, até seus cabelos ficarem novamente totalmente louros.
Depois, ela tirou a roupa e levou o homem para cama. Aqui no hotel não tem
cachaça, ela deve ter falado. Pediu, então, um espumante. O homem bem que
gostou. Da bebida e da mulher.
Numa outra data, ela foi para Rio das Ostras, hospedou-se sozinha
numa pousada em Costa Azul, baixa temporada. Foi à praia durante o dia. À tarde,
ela entrou na tal pousada com um rapaz, ele apenas de sunga. Nete, como vou
embora de sunga de noite?, perguntou assustado. Nada de ir embora, só amanhã. E
ficaram namorando à noite inteira. Ela lhe contou que também já viveu algo parecido.
Saiu numa sexta-feira para ir à praia, de biquíni e envolta numa canga de renda
transparente; arranjou um namorado, voltou para casa domingo à tarde; que
festa. O rapaz adorou a história.
Minha amiga é de um fogo difícil de apagar. Sei que este não
vai ser o único mendigo a quem vai dar um trato. Depois virão outros, e mais
outros. Caso não consiga convencer um deles a deixá-la lavá-lo, acho que, mesmo
assim, arranja um jeito de trepar com ele.
“Você sabe, Nara, já vi uma mulher de pernas abertas sobre
um mendigo, passava de uma da madrugada. Ela dizia, mete, mete fundo, mas não
toca em mim, e olha que eu limpei bem o teu peru.”
Às vezes penso que a tal, de pernas abertas sobre o mendigo, seria a própria Nete!
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