Outro dia ele veio com uma daquelas brincadeiras, foi logo dizendo: “você dá pra todo mundo”. “Dou sim”, respondi “quando gosto do homem, vou com ele e ninguém tem nada com isso. Vivo cheia de tesão, me sinto bem assim. Não sei por que você fala desse jeito comigo, já sabe como sou. Se quer minha companhia, tem de ser assim. Caso contrário, é melhor procurar outra mulher. Você diz que fiz quarenta anos e continuo gostosa como sempre, então aproveite, mas não me queira exclusiva, não posso viver assim.”
Ele partiu, mas não demorou a telefonar de volta. Aceitei a
conversa, falamos de amenidades. Não lhe conto minhas aventuras, mas ele acaba
descobrindo, gosta de me investigar. Não ligo, não posso ter domínio sobre
isso.
Num domingo de outono, saí com ele para o café da manhã. O desjejum numa cafeteria ótima, em Copacabana. Depois, andamos pela praia. Eu havia ido de bermuda de lycra, com o biquíni por baixo. Caminhamos e caminhamos. Ao chegarmos ao Leme, tive vontade de molhar os pés na água do mar. Fui então até a beira, ele ficou me esperando. Tenho certeza de que desejava me ver de biquíni, mas não me despi. O homem já me viu nua mais de uma vez, já trepou comigo, mas adora me ver de biquininho, tem vontade de desfazer os meus lacinhos. Não foi naquele dia que eu lhe proporcionei tal prazer. Houve uma vez, eu estava com um namorado de ocasião, então meu telefone tocou. Fui atender, era esse que gosta de me convidar para o café da manhã. Não disse que estava com outro, não lhe queria tirar a ilusão. Apenas acrescentei que estava ocupada, uns problemas de família, telefonaria depois. Telefonei? Esqueci.
Mas no domingo do desjejum e da molhada de pé à beira d’água, ainda andamos mais um pouco. Ele quis me fazer uma foto. Não lhe tirei o prazer, apareci com um sorrisinho de deboche e com o bumbum de lateral. Você esquece a calcinha depois que acaba de trepar?, sei que ele me gostaria de perguntar. Já esqueci o vestido, responderia. Como você fez? Não vou contar, ele vai morrer de curiosidade. Foi um caso muito particular, digo apenas. Deixo o homem apenas na vontade.
Andamos mais um pouquinho, a praia tão praia, o sol morninho. Deu onze da manhã. Daqui a pouco alguém te telefona convidando a uma feijoada. Se for mais tarde, aceito. Depois de vinte minutos, nos despedimos, ele foi embora. Eu disse que tinha de voltar para casa, mas não era verdade. Tirei a tal bermuda de lycra e a camiseta, fui de biquininho para dentro d’água. Você toma conta pra mim?, pedi a alguém. Sempre o risco de acabar pelada!
À tarde, não é que aconteceu? A feijoada. Apareceu um homem
bonito, um negão. Posso dizer assim, porque também sou negra. “Minha joia,
vamos a um almoço”, convidou. Eram duas da tarde, um conhecido de vista, de
perto da casa de minha mãe.
Aceitei. Que delícia. Tanta caipirinha, tanto feijão. Me
lembro que depois de comer bastante, bastante mesmo, de tanto beber, de ver tanta
gente, o negão ainda me levou pra casa. Entrou e ficou um pouquinho.
No dia seguinte, segunda-feira, acordei atrasada. Ainda bem
que a patroa é compreensiva. Mas onde meu biquininho de ontem? O tal negão, a
sobremesa. Márcia, a sobremesa. Não o biquíni, é claro. “Marcinha, meu amor”.