quarta-feira, julho 20, 2022

Concurso

Meu amigo tem umas fantasias muito engraçadas. Ou seriam extravagantes? Me contou que gosta de três mulheres muito bonitas, que sempre estão a lhe sorrir. Sai com cada uma delas, mas ainda não chegou ao principal. Quando convida uma, vai a uma cafeteria, comem bolos ou pedaços de torta. Diz ele que as mulheres adoram tortas, quanto mais cremosas, tanto mais mergulham de cabeça. Não é mesmo, me perguntou, esperou que eu respondesse. Não dei o braço, o assunto não era meu. Uma de suas namoradas é negra, come tudo que vê. Cuidado para não te comer, cheguei a dizer. Até que não seria mal, respondeu a meio sorriso, tanto que não me tire um pedaço. Ah, as fantasias, já ia me esquecendo. Ele deseja convidá-las à sua casa, as três juntas, e quer que fiquem nuas, uma ao lado da outra, de mãos dadas. Quero lhes apreciar a beleza, chegou a dizer. Gostei do dito: lhes apreciar a beleza. Você acha que elas vão se prestar a isso, as três? Elas nem sabem uma da outra, vão aceitar as concorrentes e ainda vão posar nuas? Olhe que posam, respondeu. Contou uma história comprida, de uma namorada, numa tal cidade do norte do estado. A mulher aceitava sair nua por aí, à noite, ao lado dele. Certa vez aceitou mesmo descer pelada do carro numa rodovia, enquanto ele partia para dar uma voltinha, tanto que voltasse quinze minutos depois para buscá-la. A história me arrepiou. Que perigo a mulher correu!, afirmei. Ela encarava como um desafio. E por isso você acha que as três namoradas vão aceitar tirar a roupa na tua frente e entrelaçarem as mãos, amigavelmente. Depende de como eu encaminhe a situação. Meu amigo foi embora, fiquei um tempo grande sem encontrá-lo. Quando aconteceu, ele contou o final da história. Conseguiu até mesmo fazer uma foto das três, mas não nuas, vestidas com a melhor roupa que cada uma tinha. Me contou que, ao ver que elas não aceitariam, inventou que haveria um concurso, dinheiro alto, chegou mesmo a fazer o arquivo digital com um logotipo e com o valor do prêmio. Contou a elas, tinham que ser três, juntas, de mãos dadas. E fez a foto. Trouxe para me mostrar. Assim é fácil, acho que até eu, que te conheço, caía nessa história. Sério mesmo?, quis saber, claro que sim, um prêmio, duas mulheres bonitas, você poderia ter dado uma festa, convidado muita gente e feito uma foto com elas. Só não contei o concurso da Vogue, porque achei que nenhuma delas tem o corpo para isso, afirmou com ar de resignação. Concurso da Vogue?, eu quis saber. Sim, de uma revista francesa, eles fazem todo ano, em cada país, mas tem de ser de biquíni, duas poses, não achei as tais mulheres com talento para a Vogue. Quando eles pagam? perguntei. Não sei bem, é um valor alto, depois envio por e-mail para você. Neste dia, estávamos numa cafeteria recém-inaugurada, no Leblon. Ele tirou da bolsa um livro, disse que era um presente, achara a história muito interessante, eu iria gostar. Levei o livro depois de nos despedirmos, li-o em dois ou três dias. A história era realmente interessante. Na semana seguinte, ele me enviou o arquivo com a publicidade do concurso. O prêmio era uma viagem à França. O concurso era muito sedutor, fiquei com uma vontade enorme de participar. Hum, mas seria verdade o tal concurso?, vai ver invenção dele. Procurei na internet a tal Vogue, com a publicidade. Encontrei. Verdade. Dias depois, liguei a ele, disse que soubera do concurso por outras vias, era interessante. Mas não é para uma mulher sofisticada como você, ele disse. Sofisticada?, como assim? Você é uma escritora, cheia de ideias, intelectual, não vai posar de biquíni por aí. Não é por aí, é para a Vogue, e o prêmio é uma viagem à França. Ele acabou vindo aqui em casa, trouxe a câmera, vesti três biquínis diferentes, fiz as poses. E agora? Até hoje não sei o resultado. Escrevi para a Vogue. Me responderam, com toda a educação. Concurso?, que concurso?

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