Aqui no prédio onde moro, um homem lindo veio morar no quinto andar. E sozinho! Ao passar por mim, cumprimenta-me, muito sorridente. Não sou uma mulher de dar conversa a vizinhos; no máximo, digo bom dia. Quando encontro alguém do prédio na rua, finjo que não vejo. Ele, porém, encontrei outro dia cruzando uma esquina, nas proximidades. Senti uma vontade louca de parar para falar com ele. Passou rápido, mas sem deixar de me olhar. Moveu a cabeça e disse alguma coisa. Eu estava passeando com o cachorro. Ele ainda se voltou para o animal e sorriu, como se desejasse alguma interação. Continuei a caminhada e continuei a pensar no admirador.
Às vezes, o fato de a gente não ser simpática, provoca muitos obstáculos. Como me fecho no meu mutismo e em geral não olho quem está passando ou cruzando comigo na rua, torna-se difícil passar a falar com todo mundo de uma hora para outra. Por exemplo, não consigo chamar esse homem e inventar uma história, ficar conversando, convidar para um cafezinho. Tais ações são contrárias à minha natureza. Além disso, na zona sul do Rio, a maior parte das pessoas é calada. Tenho uma conhecida que diz preferir o modo de vida da zona norte da cidade. Lá, as pessoas se aproximam uma das outras com mais facilidade. Mas, mesmo aqui, há exceções. Tenho amigas que criariam oportunidades para a aproximação. Diriam, Miriam, você é muito idiota, como pode deixar passar um homem desse tipo, e logo você que é rica. A qualidade "rica" fica por conta delas. Insinuar-se-iam até conseguir um pretexto para tê-lo ao seu lado. Muitas vezes, inventam uma recepção, com taças de vinho ou de champanhe, para convidar o homem.
Outro dia, estava eu conversando com o porteiro sobre um problema do nosso condomínio, quando o tal novo morador passou por nós. Cumprimentou-nos efusivamente, um bom dia que, na minha opinião, ecoou pelo resto da manhã. Em frações de segundo, imaginei-me ao lado dele na praia, num bar da orla bebendo um coquetel, ou na minha casa em Itaipava, eu e ele, sozinhos, a passar um final de semana! Mas como vou chegar a isso? Fico apenas na vontade. O homem passou, acho que foi para o trabalho. O porteiro respondeu ao que eu perguntava. Depois, fui para casa e fiquei olhando para o meu cão, que gosta de sentar aos meus pés e sentir o calor do meu corpo. Histórias de calor do corpo deveria acontecer com meu recente enamorado. Aliás, como lhe dizer que estou enamorada?
Conversei sobre ele com a minha analista. Ela disse que é um bom sinal. Por que você não toca na campainha do apartamento do homem e não conversa com ele? Pergunte se ele gosta de cinema. Não há nada de mal nisso.
Suas palavras ficaram na minha cabeça. Às vezes estou lendo um livro, a história começa a passar em branco porque o homem me invade o pensamento.
Fernanda, pedi à pessoa mais próxima a mim no prédio, alguém que conheço há muitos anos, você me ajuda organizar uma festa? Festa?, Miriam, que bom!, jamais ouvi você falar uma coisa assim. Qual o motivo da comemoração? Ah, você nem imagina...
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