quinta-feira, dezembro 20, 2007

Por enquanto

Rua Treze de maio, em frente a um restaurante:

Duas mulheres passam; a chuva e o céu nublado trouxeram de volta as jaquetas; gesticulam, falam alto, as faces expressivas; o que tramam? O amor por algum homem ou o que falta para a ceia de natal?

Homens elegantes, de terno, corte preciso, homens bem vestidos; um deles de repente ao telefone; ah, fala com um amigo; logo, são dois os homens: o visível e o detrás da linha; o que este veste? Será que me despe?

Uma jovem de saia curtinha vai com o namorado; ela é menor que ele, mas tem mais corpo e é bela; vão de mãos dadas; nessa idade, as mãos não suam...

No edifício Avenida Central:

As mulheres são mais elegantes do que os homens; onde encontro os rapazes de corpo torneado que vestem roupas fashion e fazem ponto nas novelas de TV? Na Rio Branco, as mulheres caminham a passos rápidos, sabem combinar blusas e saias, camisetas e calças, vestidos e sandálias; e os homens? Não vão tão preocupados com a beleza, parece que têm pouco esmero aos próprios trajes; ah, uma exceção, desvio os olhos, ainda é cedo; a saída? Vou na contramão.

Uma jovem, loura, de blusa preta e calça jeans carrega a bolsa num ombro e, em uma das mãos, um pequeno jornal; anda devagar; em que pensa? Pára numa banca de revistas e pergunta alguma coisa ao jornaleiro; não ouço sua voz; ela traz meio cigarro entre os dedos e, no rosto, uma vontade imensa de amar.
A livraria Leonardo da Vinci é linda com seus três poemas a ladearem as vitrines; livros em língua nativa, livros em língua estrangeira; filosofia, artes, romances e gastronomia; escritores, escritoras, talvez leitores e o cheiro forte de café da galeria.

Uma loura quarentona de blusa branca e calça justa, nádegas em destaque, passa sozinha; mas é certo que ela tem um namorado.

Entro na livraria da Travessa; dessa vez não para ver os livros, mas a face dourada das pessoas; como são belas! (sou suspeita); aqui há gente elegante; três homens ainda jovens trajando ternos italianos conversam, tomam café e água Perrier; são consultores do mercado financeiro; duas mulheres tagarelam e também bebem café; o espelho em fogos e juventude explode o reflexo da morena.

No centro do Rio, anda-se por ruas estreitas, quase só de pedestres, atravessa-se a avenida, carros multicores e buzinas, mergulha-se de novo em ruelas abarrotadas, pequenas lojas, às vezes uma confeitaria; há também as galerias, passagens passarelas, quiosques, mostruários de perfumes e presentes refinados, corações a palpitar por amores extraviados.

Em meio aos passantes de fim de tarde, um homem quase negro, de gravata, olha-me; estuda meus traços; vermelha a gravata, branca a camisa social; será pastor? Se quiser salvar-me, fujo; se me quiser pôr a perder (ou a ganhar?), vou; vou de bermuda sensual e blusa curta de algodão; vou vestidinha, por enquanto...

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