Olhava-me, esperando que eu dissesse algo, mas eu não sabia o que dizer. Sei que o sol sobre meu corpo bronzeado, refletindo a água do mar, tornava-me uma verdadeira tentação.
Ainda uma vez foi ao assunto:
“Você, com esse corpo quase escultural, vestindo esse biquíni mínimo, mata qualquer um de tesão. Essa barriguinha que você diz estar saliente acentua a pequenez de seu biquíni, faz os homens sentirem mais desejo.”
“Achas meu biquíni tão pequeno?”
“Claro, menor não poderia ser.”
“Poderia.”
“Não acredito.”
“Se eu ficasse sem, não seria melhor?”
“Mas aqui na praia?”
“Já fiquei tantas vezes.”
“Estava a praia deserta?”
“Nem tanto, mas as pessoas nem repararam.”
“Como, não?”
“Fiquei nua dentro d’água.”
“Ficou então com a calcinha na mão...”
“Nada disso, ela ficou aqui, na areia, junto ao guarda-sol.”
“Como você fez para caminhar nua até o mar e depois voltar?”
“Ah, estás querendo saber demais. Vem cá, me abraça.”
“Assim morro de desejo.”
“Não morres, não. Já estive em teus braços mais de três vezes. E nua!”
“Não fale assim! Vou levá-la para dentro d’água e lhe roubar as duas peças.”
“Vou adorar!”
“Jura?”
“De pés juntos. Mas me responde uma coisa: gostaste mesmo da minha barriguinha?”
“Claro.”
“Que bom. Estava fazendo ginástica para perdê-la, mas depois de teu elogio acho que vou deixá-la. Vem, percorre com a mão aqui do meu umbigo até dentro do biquíni.”
“Gosto do seu jeito de mulher atirada, de fêmea que logo quer prazer...”
“Mas não te esqueças de fazer bastante carinho primeiro na minha barriguinha; depois, caso queiras, podes me deixar nua!”
quinta-feira, maio 28, 2009
sábado, maio 23, 2009
Pulseira
– A água do mar está tão boa, que não dá vontade de sair.
– Está muito agradável.
– Chegue aqui juntinho de mim.
– Assim?
– É, assim, assim.
– Você é muito bonita, sabia?
– Sim, eu sei, mas desça as mãos pelas minhas costas, vai.
– Tá bom assim?
– Está, mas desça mais um pouquinho; até abaixo do cóccix.
– Você quer que eu apalpe seu bumbum?
– Isso, apalpe!
– Ai, você está nua!
– Estou...
– Cadê seu biquíni?
– Está aqui, enroladinho no meu pulso, fiz dele uma pulseira.
– Me deixe ver.
– Olhe só de relance.
– Ah, quero usar essa pulseira um pouquinho.
– Não, nada disso, fique quieto.
– Você me pede para descobrir você nua e ainda me quer quieto?
– Calma, se você continuar assim, eu me visto e acabo com a brincadeira.
– Sou tarado por biquínis, principalmente quando escapam para as minhas mãos.
– Eu sei disso...
– Enrole-o no meu braço um instantinho só.
– E se você me deixar nua aqui dentro d'água, como é que eu vou fazer?
– Eu não vou deixar, não, juro.
– Não, nada disso, fique quieto, me abrace bem apertado e me beije.
– Hum...
– Isso, assim, assim... Me faça carinho.
– Então me dá o seu biquíni.
– Você prefere uma mulher nua ou um biquíni? Parece criança...
– É. Uma mulher nua é bem melhor.
– Então, aproveite! Você já encontrou alguma mulher nua na praia?
– Não.
– Então, vá, me agarre, me aperte com força, me beije, me faça carinho, depois eu dou o biquíni.
– Jura?
– Juro.
– Jura mesmo?
– Já não falei que sim?
– Tá bom, vamos lá...
– Isso, aí, aí, nesse ponto eu adoro...
– Assim?
– Isso, continue, continue que está gostoso.
– Então me de o biquíni, estou fazendo carinho, você jurou.
– Não pare, não pare, eu já estava quase lá...
– Só continuo se você me der o biquíni.
– Está bem, segure, enrole no braço, cuidado pra não perder, mas não pare.
– Ficou bem assim?
– Ficou, mas continue, não pare, por favor...
– Assim?
– Isso, como estava antes...
– Você vai gozar?
– Não fale nada, fique quieto e continue. Não pare... Isso, isso, agora, ah, ah... Ei, aonde você vai? Volte aqui!
Filho da puta, me deixou nua. Não devia ter dado o biquíni a ele.
– Marg, estou aqui.
– Ah, graças a deus, é você! Você me deixou de molho já há uns dez minutos. Cadê meu biquíni?
– Está bem guardadinho.
– Onde você o colocou?
– Lá na sua bolsa.
– Vá buscá-lo, por favor, alguém pode descobrir que estou nua, vai ser um vexame...
– Quem mandou você brincar de pulseira?
– Não faça isso. Alguém pode reparar que estou nua...
– Está bem, espere um pouco.
– Não demore, por favor!
Ai, que ele não vem...
– Ei, moça, sabe as horas?
– Não.
– A praia aqui é boa, não é mesmo?
O homem, um quarentão, quer conversa. Temo virar-me na direção dele. Quero fugir, mas estou nua e meu namorado pode não me achar; ai, que demora...
Quando mal percebo, o homem está quase grudado em mim. Muito rápido ele me taca um beijo molhado, um beijo longo com gosto bom de mar.
Não resisto, relaxo e entrego-me lânguida.
– O que houve com seu biquíni?
– O bicho comeu? – sorrio.
– E como você vai fazer?
– Dou um jeito.
– Você está sozinha?
– Não – surpreendo-o –, meu namorado vem lá – aponto na direção da faixa de areia.
– Como faço pra ver você de novo?
– Digite "margarida nua" em qualquer sítio de busca; escreva pra mim.
O desconhecido se afasta.
Meu namorado se aproximava mesmo, e me trazia o biquíni.
– Você não vai vestir?
– Lembra que era uma pulseira? – dou duas voltas no mesmo braço onde estivera.
– Eu vi um estranho junto a você. Demorei de propósito; você nem mais está tremendo...
– Como você gostaria que eu estivesse?
– Assustada, pelo menos.
– É mesmo?
– Deixa eu te abraçar.
– Pra quê?
– Adivinha; agora eu quero; você nua me mata de tesão...
– Negativo; você não viu o homem que conversava comigo?
– Vi, e daí?
– E daí... E daí aconteceu...
– Aconteceu o quê?
– O que pode acontecer quando um homem encontra uma mulher nua?
– Mas assim, tão rápido?
– E foi tão bom!
– Está muito agradável.
– Chegue aqui juntinho de mim.
– Assim?
– É, assim, assim.
– Você é muito bonita, sabia?
– Sim, eu sei, mas desça as mãos pelas minhas costas, vai.
– Tá bom assim?
– Está, mas desça mais um pouquinho; até abaixo do cóccix.
– Você quer que eu apalpe seu bumbum?
– Isso, apalpe!
– Ai, você está nua!
– Estou...
– Cadê seu biquíni?
– Está aqui, enroladinho no meu pulso, fiz dele uma pulseira.
– Me deixe ver.
– Olhe só de relance.
– Ah, quero usar essa pulseira um pouquinho.
– Não, nada disso, fique quieto.
– Você me pede para descobrir você nua e ainda me quer quieto?
– Calma, se você continuar assim, eu me visto e acabo com a brincadeira.
– Sou tarado por biquínis, principalmente quando escapam para as minhas mãos.
– Eu sei disso...
– Enrole-o no meu braço um instantinho só.
– E se você me deixar nua aqui dentro d'água, como é que eu vou fazer?
– Eu não vou deixar, não, juro.
– Não, nada disso, fique quieto, me abrace bem apertado e me beije.
– Hum...
– Isso, assim, assim... Me faça carinho.
– Então me dá o seu biquíni.
– Você prefere uma mulher nua ou um biquíni? Parece criança...
– É. Uma mulher nua é bem melhor.
– Então, aproveite! Você já encontrou alguma mulher nua na praia?
– Não.
– Então, vá, me agarre, me aperte com força, me beije, me faça carinho, depois eu dou o biquíni.
– Jura?
– Juro.
– Jura mesmo?
– Já não falei que sim?
– Tá bom, vamos lá...
– Isso, aí, aí, nesse ponto eu adoro...
– Assim?
– Isso, continue, continue que está gostoso.
– Então me de o biquíni, estou fazendo carinho, você jurou.
– Não pare, não pare, eu já estava quase lá...
– Só continuo se você me der o biquíni.
– Está bem, segure, enrole no braço, cuidado pra não perder, mas não pare.
– Ficou bem assim?
– Ficou, mas continue, não pare, por favor...
– Assim?
– Isso, como estava antes...
– Você vai gozar?
– Não fale nada, fique quieto e continue. Não pare... Isso, isso, agora, ah, ah... Ei, aonde você vai? Volte aqui!
Filho da puta, me deixou nua. Não devia ter dado o biquíni a ele.
– Marg, estou aqui.
– Ah, graças a deus, é você! Você me deixou de molho já há uns dez minutos. Cadê meu biquíni?
– Está bem guardadinho.
– Onde você o colocou?
– Lá na sua bolsa.
– Vá buscá-lo, por favor, alguém pode descobrir que estou nua, vai ser um vexame...
– Quem mandou você brincar de pulseira?
– Não faça isso. Alguém pode reparar que estou nua...
– Está bem, espere um pouco.
– Não demore, por favor!
Ai, que ele não vem...
– Ei, moça, sabe as horas?
– Não.
– A praia aqui é boa, não é mesmo?
O homem, um quarentão, quer conversa. Temo virar-me na direção dele. Quero fugir, mas estou nua e meu namorado pode não me achar; ai, que demora...
Quando mal percebo, o homem está quase grudado em mim. Muito rápido ele me taca um beijo molhado, um beijo longo com gosto bom de mar.
Não resisto, relaxo e entrego-me lânguida.
– O que houve com seu biquíni?
– O bicho comeu? – sorrio.
– E como você vai fazer?
– Dou um jeito.
– Você está sozinha?
– Não – surpreendo-o –, meu namorado vem lá – aponto na direção da faixa de areia.
– Como faço pra ver você de novo?
– Digite "margarida nua" em qualquer sítio de busca; escreva pra mim.
O desconhecido se afasta.
Meu namorado se aproximava mesmo, e me trazia o biquíni.
– Você não vai vestir?
– Lembra que era uma pulseira? – dou duas voltas no mesmo braço onde estivera.
– Eu vi um estranho junto a você. Demorei de propósito; você nem mais está tremendo...
– Como você gostaria que eu estivesse?
– Assustada, pelo menos.
– É mesmo?
– Deixa eu te abraçar.
– Pra quê?
– Adivinha; agora eu quero; você nua me mata de tesão...
– Negativo; você não viu o homem que conversava comigo?
– Vi, e daí?
– E daí... E daí aconteceu...
– Aconteceu o quê?
– O que pode acontecer quando um homem encontra uma mulher nua?
– Mas assim, tão rápido?
– E foi tão bom!
domingo, maio 17, 2009
Nua!
Sempre temi escrever em tempo real. Mas aí vai. Tenho recebido alguns e-mails com esse pedido. Os leitores também querem saber como eu escrevo. Respondo: escrevo nua. Isso, nuazinha. Antes escrevia de calcinha, mas depois decidi tirá-la. Assim fico mais confortável. Alguém reparou que tenho escrito coisas sérias ultimamente. Deve ser por causa do romance De olhos vendados. Mas será que minhas histórias não são sérias? Acho que tudo é sempre muito sério. Essa história é de meados do ano passado. Resolvi colocá-la no blog agora porque é um desperdício mantê-la guardada; tive tanto prazer em escrevê-la. Maria Zilda, apesar de importante, é uma mulher como qualquer outra, alguém cheia de desejo; e não perde tempo para satisfazê-lo. Será que está convincente? Olhem, Zilda existe mesmo.
Um leitor de Belém quis saber se eu me excito ao escrever. Claro, quem não se excita? Até mesmo se a gente escreve coisas sérias, como vai acima. Mas me excito. E muito. Só tenho que me cuidar para não (não gosto de dizer assim) gozar na hora em que estou escrevendo, porque fico morrendo de vergonha.
Quando tinha vinte e dois anos, tive um namorado que falava: “Margarida, vou tirar o teu gozo hoje.” Naquele tempo, eu não era tão desinibida. Abria o armário e pegava a toalha mais comprida. Fazíamos amor. Eu, quase pudica. Ao gozar, me enrolava no espesso tecido e só saía de dentro dele duas horas depois.
Mas, agora, se sinto aquela estremecimento lá dentro, seja apenas um tantinho, mas o prenúncio de todas as explosões, o lampejar de todas as estrelas, o espocar de fogos de artifícios, largo tudo e cubro os seios. Isso mesmo, quando morro de vergonha cubro os seios. Fico pelada na frente de cem pessoas, não tenho problema algum com a nudez, só não posso gozar; caso aconteça, cubro os seios. Com as mãos, é lógico. Assim, disfarço!
Vai aí uma história que já burilo há algumas semanas.
Longos beijos, queridos.
Duas adolescentes pararam-me na rua.
“Hei, moça, onde você comprou esse vestido?”
Olhei para elas e sorri. Estavam ávidas pela informação. Vestiam saias curtíssimas.
“É tão lindo”, falou espontânea a que tinha aspecto de ser a mais jovem.
“Eu mesma cortei, era uma camisa masculina.”
Olharam-me com fisionomia de espanto.
A que fizera a primeira pergunta ainda tocou no tecido na parte próxima ao ombro.
“Aqui está perfeito, um pouco caidinho sobre o braço esquerdo.”
“Em baixo também não é reto, você conseguiu cortar o tecido de um modo que ficou um tanto oblíquo.”
“Se vocês quiserem posso ensinar, mas não agora; deixo o meu número; basta ligarem que marcamos um horário.”
“Quanto você cobra?”
"Não, nem cobro; quero apenas ver vocês com esse sorriso maravilhoso. Agora, permitam-me ir porque tenho um compromisso e estou atrasada."
Deixei um cartãozinho; dei dois beijos em cada uma e escapuli. Elas ficaram radiantes de alegria.
Na noite anterior eu saíra com um namorado. Desses namorados que vez ou outra telefonam e dizem que estão morrendo de saudade e querem um encontro. Depois, como se mostram tão agradáveis, acabam acontecendo coisas boas, como beijos abraços e toques sutis.
Bebemos em um bar muito aconchegante. Ai, caipirinha... Na hora foi ótima, mas depois a bebida me excitou tanto que acabei fazendo besteira, ou melhor, algo prazeroso: sexo; só que o dia (ou a noite?) não era dos mais convenientes. E ainda esse meu namorado quis me pregar uma peça. Até que gosto das extravagâncias dele, mas o dia seguinte seria importantíssimo para mim: uma entrevista a respeito da edição do meu próximo livro. Não podia deixar de comparecer à editora.
Na saída à noite, não vestia ainda essa roupa que surpreendeu as duas meninas, mas um vestido vermelho, de alcinha e nem tão curto. Bebemos e comemos alguns petiscos naquele bar estilo 1930. Depois fomos para casa dele.
“Olha, vou embora no meio da noite, viu? Amanhã tenho que acordar cedo”, repeti.
“Você vai se casar amanhã?”, sorriu com ironia.
“Mais ou menos. Na verdade é mais do que um casamento, mas prefiro não falar agora, pode dar azar. Depois conto.”
No apartamento dele, namoramos muito. Logo me deixou peladinha; depois escondeu o meu vestido. Aquilo me excitou. Daí em diante nos agarramos com mais ímpeto.
Apertava-me os seios, beijava-me apaixonado e sussurrava coisas que me deixavam de cabelo em pé. Por fim, pedi que se aconchegasse dentro de mim e que demorasse bastante.
“Não sei se vou conseguir, já estou a ponto de uma explosão”, disse, mas fazia tudo para se manter naquele estreito limite em que, numa relação carnal, beiramos o abismo.
A explosão com todos os fogos e ainda com o tempo de um longo rescaldo se deu lá pelas três da madrugada. Eu estava que não me agüentava. Gozamos os dois e permanecemos agarrados um ao outro. Ainda pensei: daqui a pouco vou-me embora. Mas estava tão cansada, que dormi profundamente.
Acordei às oito e trinta. Levantei com aquela preguiça de sempre, ainda bêbada de sono. Fui ao banheiro. Quando voltei, dei pelo que eu tinha a fazer naquela manhã.
“Meu Deus, como estou atrasada, perdi a hora.”
Procurei meu parceiro da noite. Mas não o encontrei. Ele não estava no apartamento. Sai à cata de minhas roupas. Mas também não as encontrei. Vejam que situação. Num dia de semana, eu pelada na casa de um homem, sem ter o que vestir e sem nenhuma solução à vista. Liguei para ele.
“Antônio, onde você está?”
“No trabalho.”
“Por que não me acordou, Antônio?”
“Você estava dormindo com um ar tão angelical, que não tive coragem.”
“Onde você guardou minhas roupas?, preciso ir embora.”
“Suas roupas estão aqui comigo, na minha pasta. Sempre quis deixar você nua, esperando por mim em casa; é uma velha fantasia.”
“Antônio, bem que eu ia gostar se fosse num outro dia, mas hoje tenho um compromisso...”
“Margarida, você sempre dá um jeito. Deixe isso pra outro dia, espere por mim...”
Desliguei o telefone e comecei a pensar o que ia fazer.
Abri o guarda-roupas. Vi apenas roupas masculinas. Foi então que tive a idéia. Peguei uma camisa dessas de malha, de listras grossas. Não sei se de algum time de futebol. Primeiro, vesti-a. Não caiu bem do jeito original. Despi-me, peguei uma tesoura e fiz uma abertura maior na parte do pescoço; depois, cortei na parte de baixo, um corte numa inclinação de mais ou menos trinta graus. Achei linha e agulha – esse meu namorado é organizado com suas coisas – e fiz uma ligeira bainha.
Vesti. Ficou um vestidinho ótimo.
Corri para a editora depois de me despedir das duas adolescentes.
A secretária recebeu-me surpresa. Ainda a ouvi da outra sala, comentando com alguém:
“Essas artistas são umas figuras, precisa ver como está vestida.”
Entrei. O editor recebeu-me em pessoa. Nem precisei falar. Foi ele quem me cumprimentou, pediu para que eu sentasse. Acho que nem reparou se eu estava vestida ou pelada.
“Muito interessante o que você escreve. Acho que vai fazer muito sucesso. E vamos ganhar muito dinheiro!”, deu um imenso sorriso.
Ah, esses homens, só pensam em dinheiro!
Um leitor de Belém quis saber se eu me excito ao escrever. Claro, quem não se excita? Até mesmo se a gente escreve coisas sérias, como vai acima. Mas me excito. E muito. Só tenho que me cuidar para não (não gosto de dizer assim) gozar na hora em que estou escrevendo, porque fico morrendo de vergonha.
Quando tinha vinte e dois anos, tive um namorado que falava: “Margarida, vou tirar o teu gozo hoje.” Naquele tempo, eu não era tão desinibida. Abria o armário e pegava a toalha mais comprida. Fazíamos amor. Eu, quase pudica. Ao gozar, me enrolava no espesso tecido e só saía de dentro dele duas horas depois.
Mas, agora, se sinto aquela estremecimento lá dentro, seja apenas um tantinho, mas o prenúncio de todas as explosões, o lampejar de todas as estrelas, o espocar de fogos de artifícios, largo tudo e cubro os seios. Isso mesmo, quando morro de vergonha cubro os seios. Fico pelada na frente de cem pessoas, não tenho problema algum com a nudez, só não posso gozar; caso aconteça, cubro os seios. Com as mãos, é lógico. Assim, disfarço!
Vai aí uma história que já burilo há algumas semanas.
Longos beijos, queridos.
Duas adolescentes pararam-me na rua.
“Hei, moça, onde você comprou esse vestido?”
Olhei para elas e sorri. Estavam ávidas pela informação. Vestiam saias curtíssimas.
“É tão lindo”, falou espontânea a que tinha aspecto de ser a mais jovem.
“Eu mesma cortei, era uma camisa masculina.”
Olharam-me com fisionomia de espanto.
A que fizera a primeira pergunta ainda tocou no tecido na parte próxima ao ombro.
“Aqui está perfeito, um pouco caidinho sobre o braço esquerdo.”
“Em baixo também não é reto, você conseguiu cortar o tecido de um modo que ficou um tanto oblíquo.”
“Se vocês quiserem posso ensinar, mas não agora; deixo o meu número; basta ligarem que marcamos um horário.”
“Quanto você cobra?”
"Não, nem cobro; quero apenas ver vocês com esse sorriso maravilhoso. Agora, permitam-me ir porque tenho um compromisso e estou atrasada."
Deixei um cartãozinho; dei dois beijos em cada uma e escapuli. Elas ficaram radiantes de alegria.
Na noite anterior eu saíra com um namorado. Desses namorados que vez ou outra telefonam e dizem que estão morrendo de saudade e querem um encontro. Depois, como se mostram tão agradáveis, acabam acontecendo coisas boas, como beijos abraços e toques sutis.
Bebemos em um bar muito aconchegante. Ai, caipirinha... Na hora foi ótima, mas depois a bebida me excitou tanto que acabei fazendo besteira, ou melhor, algo prazeroso: sexo; só que o dia (ou a noite?) não era dos mais convenientes. E ainda esse meu namorado quis me pregar uma peça. Até que gosto das extravagâncias dele, mas o dia seguinte seria importantíssimo para mim: uma entrevista a respeito da edição do meu próximo livro. Não podia deixar de comparecer à editora.
Na saída à noite, não vestia ainda essa roupa que surpreendeu as duas meninas, mas um vestido vermelho, de alcinha e nem tão curto. Bebemos e comemos alguns petiscos naquele bar estilo 1930. Depois fomos para casa dele.
“Olha, vou embora no meio da noite, viu? Amanhã tenho que acordar cedo”, repeti.
“Você vai se casar amanhã?”, sorriu com ironia.
“Mais ou menos. Na verdade é mais do que um casamento, mas prefiro não falar agora, pode dar azar. Depois conto.”
No apartamento dele, namoramos muito. Logo me deixou peladinha; depois escondeu o meu vestido. Aquilo me excitou. Daí em diante nos agarramos com mais ímpeto.
Apertava-me os seios, beijava-me apaixonado e sussurrava coisas que me deixavam de cabelo em pé. Por fim, pedi que se aconchegasse dentro de mim e que demorasse bastante.
“Não sei se vou conseguir, já estou a ponto de uma explosão”, disse, mas fazia tudo para se manter naquele estreito limite em que, numa relação carnal, beiramos o abismo.
A explosão com todos os fogos e ainda com o tempo de um longo rescaldo se deu lá pelas três da madrugada. Eu estava que não me agüentava. Gozamos os dois e permanecemos agarrados um ao outro. Ainda pensei: daqui a pouco vou-me embora. Mas estava tão cansada, que dormi profundamente.
Acordei às oito e trinta. Levantei com aquela preguiça de sempre, ainda bêbada de sono. Fui ao banheiro. Quando voltei, dei pelo que eu tinha a fazer naquela manhã.
“Meu Deus, como estou atrasada, perdi a hora.”
Procurei meu parceiro da noite. Mas não o encontrei. Ele não estava no apartamento. Sai à cata de minhas roupas. Mas também não as encontrei. Vejam que situação. Num dia de semana, eu pelada na casa de um homem, sem ter o que vestir e sem nenhuma solução à vista. Liguei para ele.
“Antônio, onde você está?”
“No trabalho.”
“Por que não me acordou, Antônio?”
“Você estava dormindo com um ar tão angelical, que não tive coragem.”
“Onde você guardou minhas roupas?, preciso ir embora.”
“Suas roupas estão aqui comigo, na minha pasta. Sempre quis deixar você nua, esperando por mim em casa; é uma velha fantasia.”
“Antônio, bem que eu ia gostar se fosse num outro dia, mas hoje tenho um compromisso...”
“Margarida, você sempre dá um jeito. Deixe isso pra outro dia, espere por mim...”
Desliguei o telefone e comecei a pensar o que ia fazer.
Abri o guarda-roupas. Vi apenas roupas masculinas. Foi então que tive a idéia. Peguei uma camisa dessas de malha, de listras grossas. Não sei se de algum time de futebol. Primeiro, vesti-a. Não caiu bem do jeito original. Despi-me, peguei uma tesoura e fiz uma abertura maior na parte do pescoço; depois, cortei na parte de baixo, um corte numa inclinação de mais ou menos trinta graus. Achei linha e agulha – esse meu namorado é organizado com suas coisas – e fiz uma ligeira bainha.
Vesti. Ficou um vestidinho ótimo.
Corri para a editora depois de me despedir das duas adolescentes.
A secretária recebeu-me surpresa. Ainda a ouvi da outra sala, comentando com alguém:
“Essas artistas são umas figuras, precisa ver como está vestida.”
Entrei. O editor recebeu-me em pessoa. Nem precisei falar. Foi ele quem me cumprimentou, pediu para que eu sentasse. Acho que nem reparou se eu estava vestida ou pelada.
“Muito interessante o que você escreve. Acho que vai fazer muito sucesso. E vamos ganhar muito dinheiro!”, deu um imenso sorriso.
Ah, esses homens, só pensam em dinheiro!
sábado, maio 09, 2009
Crêperie
A entrada do prédio estava deserta à meia-noite e meia. Clara saltou do carro do namorado, deu alguns passos e ouviu o ruído que destravou a porta de vidro. Olhou para a guarita do porteiro noturno e agradeceu com um leve movimento de cabeça. Entrou e em três passos alcançou o elevador.
Ao atravessar a porta de casa, no sexto andar, acendeu a luz da sala, largou a bolsa sobre a mesa e caminhou até a varanda.
A noite lá fora era silenciosa; a cidade, adormecida, tinha suas luzes habituais e o ar estava úmido. Sentou numa das poltronas da sala, recostou a cabeça, deslizou largando-se à vontade, fechou os olhos e recordou o recente encontro com o namorado.
Ficara junto dele desde as sete da noite. Passearam de automóvel pela cidade, pensaram onde iriam parar para comer alguma coisa; decidiram por uma creperia numa das quadras finais da Asa Norte.
O lugar era convidativo e as pessoas elegantes. Havia grupo de rapazes e moças, pares de namorados. Em outras mesas, marido e mulher; adiante dois casais estavam acompanhados por crianças pequenas. Os garçons eram jovens e atenciosos; a decoração atraente; os crepes, uma delícia,
Clara apreciou o namorado enquanto ele cortava alguns pedaços. Via-o como pessoa de poucas palavras. Ele a amava, ela tinha certeza, mas não sabia transformar o sentimento em palavras.
Isso, segundo ela, era problema de muitos homens, porque, principalmente, não sabem expressar-se. E o fato não dizia respeito apenas ao amor, acontecia também em relação a outras coisas. Apenas no trabalho eles, muitas vezes, destacavam-se, sobretudo quando lidavam com cálculos ou com idéias que poderiam gerar muito dinheiro.
Numa das últimas mesas, junto à parte externa do pequeno restaurante, reparou uma jovem, não deveria ter mais do que dezesseis anos. Estava largada no ombro do namorado. Enquanto esperavam os pedidos, beijavam-se como se nada mais houvesse no mundo.
Clara pensou na espontaneidade dos jovens. Para eles não importa o que há ao redor, suas existências lhes bastam e nada melhor e maior do que o prazer proporcionado pelos sentidos; não suportariam talvez uma existência que proporcionava a ela muito prazer: estar sozinha.
Por que não trouxera o namorado para casa? Não sabia a resposta. Mas achava que estragaria tudo. Gostava de entrar em casa de madrugada, com o apartamento às escuras, observar a amplidão de um dos lados da cidade, os outros edifícios; gostava de ver os espaços vazios, esquecer que existiam pessoas. Tudo era tão silencioso, que não conseguia imaginar os outros prédios abrigando homens, mulheres e crianças; até mesmo imaginá-los dormindo era difícil.
Foi à cozinha e tomou um copo d’água. Pouco a pouco sentiu necessidade de deitar-se. Desfez-se das roupas por etapa; lavou as mãos; deixou-se escorregar nua na cama. Suas mãos tocaram o ventre; a esquerda deslizou até o seio direito e assim permaneceu enquanto seus olhos puseram-se semicerrados. Mas ainda não dormia.
Lembrou o dia em que o namorado tivera-a nos braços pela primeira vez.
“Calma”, dissera ela, “não somos mais crianças, você não descobrirá por baixo de minhas saias nada do que já não conhece.” E deixou que ele lhe percorresse o corpo, vez ou outra mostrou-se um tanto sôfrego.
Na cama, gostava de namorar a si mesma, sentia prazer com o calor da própria temperatura.
Não traria o namorado para casa. Lógico que ele já estivera ali. Já haviam passado várias noites juntos no apartamento; viram filmes; ouviram música. Mas ela não queria dormir ao lado dele todos os dias, esbarrar-lhe o corpo fora da hora do amor, acordar na manhã seguinte pensando nas obrigações e esquecendo o prazer que tiveram durante a noite.
Era preferível que ele partisse depois do amor. Sempre que alguém parte há a possibilidade de um reencontro. E esse é mais prazeroso do que estar continuamente lado a lado.
Quando se foram da creperia, o casal de adolescentes ainda se mantinha abraçado, os beijos continuavam prolongados. Os dois abrigavam-se sob a discrição das outras pessoas. Teria a menina o desejo de casar com ele? É normal entre os jovens esse desejo, é normal que queiram eternizar o momento. Ainda não viveram, ainda não experimentaram a liberdade, não descobriram outros aspectos inerentes ao amor; só deram conta até ali do corpo a corpo recíproco.
O domingo ia ficando para trás, distanciava-se. O namorado era uma mancha que se desfazia. Só os prédios permaneciam firmes, construções sólidas, duradouras, mas não pareciam ter habitantes. As luzes noturnas não eram suficientes para tornar o céu mais claro; na verdade, acentuavam-lhe a escuridão. As lâmpadas tornavam alguns lugares soturnos, plenos de mistérios. As sombras em uma rua, o movimento lento dos galhos maiores de uma árvore sob um ar mais agitado, a imagem de um automóvel estacionado, tudo dava a impressão de um imenso vazio; não pareciam pertencer ao mundo dos homens.
Clara muitas vezes teve vontade de percorrer de madrugada os lugares desertos, experimentar-lhes a solidão. Como no sonho em que ia envolta numa capa larga, uma capa que lhe roçava o corpo, uma capa úmida das gotículas de sereno. Teve vontade de esgueirar-se junto a uma árvore, pendurá-la num dos galhos baixos e ainda andar alguns minutos ante as portas cerradas do setor comercial, sob o brilho frágil de uma lâmpada de mercúrio, o corpo a refletir o brilho baço da noite, a pele a não lhe negar o calor, reagindo ao ligeiro frescor do fim de primavera. Um amante a despedir-se.
Ao atravessar a porta de casa, no sexto andar, acendeu a luz da sala, largou a bolsa sobre a mesa e caminhou até a varanda.
A noite lá fora era silenciosa; a cidade, adormecida, tinha suas luzes habituais e o ar estava úmido. Sentou numa das poltronas da sala, recostou a cabeça, deslizou largando-se à vontade, fechou os olhos e recordou o recente encontro com o namorado.
Ficara junto dele desde as sete da noite. Passearam de automóvel pela cidade, pensaram onde iriam parar para comer alguma coisa; decidiram por uma creperia numa das quadras finais da Asa Norte.
O lugar era convidativo e as pessoas elegantes. Havia grupo de rapazes e moças, pares de namorados. Em outras mesas, marido e mulher; adiante dois casais estavam acompanhados por crianças pequenas. Os garçons eram jovens e atenciosos; a decoração atraente; os crepes, uma delícia,
Clara apreciou o namorado enquanto ele cortava alguns pedaços. Via-o como pessoa de poucas palavras. Ele a amava, ela tinha certeza, mas não sabia transformar o sentimento em palavras.
Isso, segundo ela, era problema de muitos homens, porque, principalmente, não sabem expressar-se. E o fato não dizia respeito apenas ao amor, acontecia também em relação a outras coisas. Apenas no trabalho eles, muitas vezes, destacavam-se, sobretudo quando lidavam com cálculos ou com idéias que poderiam gerar muito dinheiro.
Numa das últimas mesas, junto à parte externa do pequeno restaurante, reparou uma jovem, não deveria ter mais do que dezesseis anos. Estava largada no ombro do namorado. Enquanto esperavam os pedidos, beijavam-se como se nada mais houvesse no mundo.
Clara pensou na espontaneidade dos jovens. Para eles não importa o que há ao redor, suas existências lhes bastam e nada melhor e maior do que o prazer proporcionado pelos sentidos; não suportariam talvez uma existência que proporcionava a ela muito prazer: estar sozinha.
Por que não trouxera o namorado para casa? Não sabia a resposta. Mas achava que estragaria tudo. Gostava de entrar em casa de madrugada, com o apartamento às escuras, observar a amplidão de um dos lados da cidade, os outros edifícios; gostava de ver os espaços vazios, esquecer que existiam pessoas. Tudo era tão silencioso, que não conseguia imaginar os outros prédios abrigando homens, mulheres e crianças; até mesmo imaginá-los dormindo era difícil.
Foi à cozinha e tomou um copo d’água. Pouco a pouco sentiu necessidade de deitar-se. Desfez-se das roupas por etapa; lavou as mãos; deixou-se escorregar nua na cama. Suas mãos tocaram o ventre; a esquerda deslizou até o seio direito e assim permaneceu enquanto seus olhos puseram-se semicerrados. Mas ainda não dormia.
Lembrou o dia em que o namorado tivera-a nos braços pela primeira vez.
“Calma”, dissera ela, “não somos mais crianças, você não descobrirá por baixo de minhas saias nada do que já não conhece.” E deixou que ele lhe percorresse o corpo, vez ou outra mostrou-se um tanto sôfrego.
Na cama, gostava de namorar a si mesma, sentia prazer com o calor da própria temperatura.
Não traria o namorado para casa. Lógico que ele já estivera ali. Já haviam passado várias noites juntos no apartamento; viram filmes; ouviram música. Mas ela não queria dormir ao lado dele todos os dias, esbarrar-lhe o corpo fora da hora do amor, acordar na manhã seguinte pensando nas obrigações e esquecendo o prazer que tiveram durante a noite.
Era preferível que ele partisse depois do amor. Sempre que alguém parte há a possibilidade de um reencontro. E esse é mais prazeroso do que estar continuamente lado a lado.
Quando se foram da creperia, o casal de adolescentes ainda se mantinha abraçado, os beijos continuavam prolongados. Os dois abrigavam-se sob a discrição das outras pessoas. Teria a menina o desejo de casar com ele? É normal entre os jovens esse desejo, é normal que queiram eternizar o momento. Ainda não viveram, ainda não experimentaram a liberdade, não descobriram outros aspectos inerentes ao amor; só deram conta até ali do corpo a corpo recíproco.
O domingo ia ficando para trás, distanciava-se. O namorado era uma mancha que se desfazia. Só os prédios permaneciam firmes, construções sólidas, duradouras, mas não pareciam ter habitantes. As luzes noturnas não eram suficientes para tornar o céu mais claro; na verdade, acentuavam-lhe a escuridão. As lâmpadas tornavam alguns lugares soturnos, plenos de mistérios. As sombras em uma rua, o movimento lento dos galhos maiores de uma árvore sob um ar mais agitado, a imagem de um automóvel estacionado, tudo dava a impressão de um imenso vazio; não pareciam pertencer ao mundo dos homens.
Clara muitas vezes teve vontade de percorrer de madrugada os lugares desertos, experimentar-lhes a solidão. Como no sonho em que ia envolta numa capa larga, uma capa que lhe roçava o corpo, uma capa úmida das gotículas de sereno. Teve vontade de esgueirar-se junto a uma árvore, pendurá-la num dos galhos baixos e ainda andar alguns minutos ante as portas cerradas do setor comercial, sob o brilho frágil de uma lâmpada de mercúrio, o corpo a refletir o brilho baço da noite, a pele a não lhe negar o calor, reagindo ao ligeiro frescor do fim de primavera. Um amante a despedir-se.
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