Fui a uma festa na casa de uma amiga. Uma comemoração discreta, com a presença de poucas pessoas. Bebemos champanha durante boa parte da noite. Ela preparou comidinhas saborosas e serviu queijos que eram uma delícia. Conversamos sobre arte, principalmente música e literatura. Entre os convidados havia um violinista. Ele não veio com a intenção de dar um concerto, mas trouxe alguns CDs que ouvimos com muito gosto. As mulheres estavam bem vestidas, roupas elegantes; muitas têm tanto bom gosto que escolhem com preciosismo seus vestidos, saias e blusas para vir a esse tipo de festa. Além de tudo de bom que aconteceu, era um charme a mais apreciar a elegância de homens e mulheres.
Lá pelas duas da madrugada, alguns convidados começaram a despedir-se. Fui ficando, até que me vi apenas com a anfitriã e duas ou três pessoas que pernoitariam ali. Ainda permanecemos conversando por mais uma hora. Bebemos mais uma ou duas taças.
Então quem restou foi se retirando para seus quartos. Miriam, a dona da casa, me falou:
“Margarida, acho melhor você ficar com a gente essa noite.”
“Ah, obrigada. Fico sim; não me incomodo em dormir aqui na sala.”
Ela trouxe um lençol uma almofada e perguntou seu eu queria uma camisola ou uma camiseta.
“Não é preciso, eu me viro.”
Deu boa noite e foi para o seu quarto.
Tirei toda a roupa, dobrei cada peça com cuidado e as coloquei sobre um dos braços do estofado. Deixei por cima de tudo o sutiã. Cobri-me com o lençol e não demorei a adormecer.
Antes de amanhecer, percebi que alguém passou pela sala; ia em direção à cozinha. O suave ruído foi suficiente para me despertar. Mas permaneci imóvel, como se continuasse dormindo. Abrira os olhos, mas a pessoa não pôde perceber. Demorou alguns instantes bebendo água, creio; depois voltou e, ao perceber meu sutiã, parou e tomou-o nas mãos. Senti um ligeiro arrepio. Vim à festa na casa de uma pessoa tão sofisticada e um dos convidados há de roubar-me o sutiã! Confesso que naquela penumbra de fm de noite, senti uma ponta de excitação. A pessoa, que eu não consegui distinguir, continuou com a peça nas mãos, depois a levou ao nariz e cheirou. De propósito, fiz um ligeiro movimento sobre o sofá. Continuou com meu sutiã nas mãos, mas levou-as às costas escondendo-o, e apressou-se em retirar-se do local.
“Ai!”, exclamei, “agora essa.”
Enquanto conjecturava o que faria, adormeci.
Quando acordei, o sol ia alto. A casa ainda estava mergulhada no silêncio. Foi então que lembrei do sutiã perdido.
Olhei para onde estavam minhas roupas. Mas ele estava lá, como se ninguém o tivesse tocado.
Fui à cozinha e fiz café.
Quando os outros hóspedes e a dona da casa acordaram, eu já havia me vestido com todo o recato.
Tomamos café alegremente, relembrando a noite agradável que passamos juntos. Antes de me despedir, tomei um leve susto. Uma das mulheres soprou em meu ouvido o seguinte:
“Tive um sonho estranho; sonhei que depois da festa, eu saía sem a blusa e sem o sutiã”, pôs-se então a rir.
“Tive um sonho parecido”, foi minha vez de falar. “Estava deitada no sofá, quando vi que alguém me roubava o sutiã. Fiquei apavorada. Mas adormeci. Quando acordei, ele estava intocável, no mesmo lugar.”
“O que será mesmo que nós desejamos?”, perguntou-me e começou a rir.
“Não sei, mas esse champanha francês é capaz de despertar os desejos mais recônditos.”
Rimos ambas, em silêncio.
E escondemos nossos segredos.
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