quinta-feira, agosto 05, 2010

Cris e o amor - 3

“Ah, Carla, não sabes o que aconteceu.”

“O que, Cris?”

“Uma cena do meu namoro com o Antônio foi parar num site.”

“Mas o que tem isso demais?”

“Muito, muito mesmo.”

“Como vão saber que é você?”

“Ah, vão, na certa vão, vai ser fácil. Escuta, não me interrompas, deixa-me te contar.”

“Tá bom, desembucha, então.”

“Foi o seguinte, ele narrou tudo o que aconteceu, direitinho. Não falta uma vírgula. Foi aquele caso sobre o qual te falei apenas superficialmente.”

“Que caso, Cris? Você já me contou tanta coisa...”

“Aquele caso que aconteceu quando fui ao apartamento dele; a história de que fiquei trancada nua do lado de fora, no corredor.”

“Mas isso já faz tanto tempo, Cris.”

“Tenho certeza de que vão saber que a pessoa retratada sou eu.”

“Tem o teu retrato, Cris? Caso não apareça foto não haverá problema?”

“Calma, Carla, deixa eu acabar de te contar. Foi uma brincadeira, daquelas que caímos na conversa do namorado e acabamos aceitando, tanto mais quando ele me falou que uma outra mulher já fizera o mesmo e ele adorou. Como gosto dele, resolvi também ir nua até o lado de fora. Aí ele trancou a porta. Não imaginas o que seja ficar cinco minutos nua no corredor de um prédio, com todas as outras portas em silêncio, o lugar escuro, mas tudo ameaçando a ruir numa fração de segundo se te descobrem nua. Fiquei gelada, mas resisti. Sorte minha que não apareceu ninguém. Quando ele abriu, já te falei, não?, entrei e me atirei nos braços dele. Foi uma transa maravilhosa. Mas ele colocar a história num site, já é demais. Passo a me sentir nua na frente de todos durante todo o tempo, as pessoas a me olharem sem eu ter o que vestir.”

“Calma, Cris, já te falei, esses sites não são tão lidos assim, as pessoas vão atrás de fotos, não atrás de histórias.”

“Fiz mais duas vezes, uma com ele e outra... Ah, a outra prefiro não contar, vais me achar completamente louca.”

“Conta, Cris, é bom você falar, assim vai se sentir melhor.”

“Não, acho que tu deverias ler, assim compreenderias tudo.”

“Está bem, me diga o site; leio e depois comento com você.”

“Toma, está escrito aqui. Vais achar que estou em maus lençóis, Carla, tenho certeza.”

“Nada disso, uma historinha dessas até estimula. É como já falei: caso não haja fotos, não há problema.”

“Carla, quero te falar mais um segredinho. Olha, além da história, há lá uma foto sim. E sou eu, perfeita. Não tenho nem como contra-argumentar. Já imaginou na escola, caso alguém descubra? Vou ter de pedir demissão.”

“Há foto mesmo, Cris? Como você se deixou fotografar?”

“Ah, Carla, na hora adorei, nem pensei nisso, mas agora, acho que nada tenho a fazer.”

“Caso alguém veja, negue!”

“Como vou negar? Já te falei, sou eu completinha, não dá para negar.”

“Então vamos à casa dele; vamos pedir para que retire a foto e a história desse bendito site!”

“Não, Carla, fui apaixonada por ele, sabes, e acho que ainda sou. Ele é tão bonito! Caso eu apareça lá acho que sou capaz de perder a cabeça e ficar nua de novo. Então vou ter outro problema.”

“Vou pra você, Cris; me diga como entrar em contato com ele.”

“Não, Carla, tenho certeza de que tu não serás capaz. Caso o encontre, amanhecerás desesperada o tanto como estou agora. Vais me contar a mesma história. Portanto, vamos ter dois problemas...”

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