Essas brincadeiras, já fiz, agora ando mais recatada. Mas é muito excitante. Sei que há mulheres que não gostam, que adoram um quarto fechado. Dizem que sexo é bom entre quatro paredes. Eu, porém, sempre gostei de aventuras. Não vou dizer que não seja perigoso, que alguma coisa pode não dar certo. Há essa possibilidade. Mas quando tudo acaba bem, dá uma satisfação e um prazer muito grande.
Gosto de me arrumar bem. Tenho roupas muito bonitas. Quando saio para alguma festa, faço o máximo para ir bem vestida. Todos me admiram.
Outro dia fui a uma dessas festas elegantes. Um professor de uma universidade federal, gente importante, fez aniversário. Escolheu comemorar num casarão, na Ladeira do Russel, quase ao lado do antigo Hotel Glória. O lugar tem uma vista linda, é possível admirar o aterro do Flamengo, o Pão de Açúcar e a enseada, acho que também dá pra ver a pista do aeroporto. As pessoas começaram a chegar a partir das dez da noite. A festa durou a madrugada toda. Dancei, bebi duas caipirinhas e alguns goles de cerveja. Arranjei alguns admiradores. Mas fui embora com um amigo. Propostas para sair não faltaram. Preferi, porém, ir para casa descansar. Deixei a emoção para o dia seguinte.
Houve uma vez em que aceitei um convite de um homem que me paquerava continuamente. Acabei namorando-o durante alguns meses. Logo entrou no meu ritmo. Adorou ter uma mulher como eu. Nem me lembro porque nosso namoro não continuou. Acho que ele trabalhava fora e precisou sair do país durante um tempo. Era muito cavalheiro. No começo do relacionamento falei que já tinha andado nua dentro de um automóvel acompanhando um outro namorado. Ficou preocupado. Disse que eu me arriscara. Um dia, no entanto, bebeu demais e veio me encontrar. Pediu para que eu fizesse o que contara semanas antes. Acho que pensou que fosse tudo mentira. Fiz tudo da mesma maneira. É lógico que antes saímos e bebemos alguns drinques. Depois me levou até uma estrada escura e pediu para que eu saísse do automóvel. Atendi. Ele disse:
“Ei, assim não vale.”
Entendi o que ele queria. Tirei o vestido e deixei nas mãos dele.
“Pode ir”, falei.
“Você não tem medo de que eu não volte?”
“Não, pelo menos nunca aconteceu.”
“Cuidado, sempre há uma primeira vez”, partiu acelerando o automóvel.
Demorou. Pensei que realmente fosse a primeira vez em que me veria embaraçada.
Voltou, mas não me deixou vestir. Ainda passeamos durante um bom tempo. Me levou para uma casa de campo. Parou o carro numa rua abaixo. Quando ia me vestir, pegou toda a minha roupa e saiu do carro. Me deixou pelada lá dentro. Eu nem sabia onde ele morava.
“Espere. Como vou procurar sua casa?”
Não me respondeu. Mas não me importei. Fiquei dentro do carro. Naquele tempo os carros tinham os vidros transparentes, quase não existiam esses vidros escuros de hoje em dia.
Dormi um pouco. Ele não voltou. Ao acordar percebi que amanhecia. Abaixei e fiquei sentada no chão do automóvel, encolhida debaixo do painel. Assim ninguém poderia me ver.
Passaram-se mais ou menos duas horas. Acho que já eram oito da manhã. Eu estava com as nádegas doendo e uma vontade terrível de tomar café. Vai ver ele dormiu e me esqueceu aqui, pensei. Só então notei que no banco de trás havia algumas roupas. Descobri um paletó e uma meia de mulher. Vesti aquelas roupas. O paletó ficou bem no meu corpo, e até tinha um pouco de comprimento.
Saí do carro. Para completar, calcei minha sandália de meio salto. Comecei a procurar onde ele poderia morar. Pra minha sorte, não encontrei pessoa alguma. Segui mais ou menos a trajetória que ele fez quando me deixou. Depois de uma cerca, avistei uma casa. Atravessei a cerca e bati na porta. Ele mesmo veio atender. Ficou surpreso ao me ver vestida daquele jeito.
“Você esqueceu de mim”, falei chorosa.
Pediu mil desculpas. Namoramos logo adiante, depois que ele fechou a porta.
Quando se tem calma sempre há uma solução, tanto mais se o namorado é alguém especial. E eu nem podia reclamar. Quem inventara aquela brincadeira?
Hoje, quase não tenho saído nua por aí. Um dia desses aconteceu, sim, daí o quase, mas foi coisa rápida, e com um homem que eu já não encontrava havia tempos. Mas me deixe contar essa história num outro dia...
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