quarta-feira, setembro 14, 2011

Os homens aqui não estão acostumados a isso

Eu estava deitada na grama, sobre uma imensa toalha. Tomava o sol suave de uma manhã de final de primavera. Ele se aproximou, o jardineiro, e se surpreendeu ao me encontrar nua. Será que jamais vira alguém bronzear-se em pele sobre o gramado de uma casa de campo? Desculpou-se e se foi, com a fisionomia séria, envergonhado. Minha nudez pareceu-lhe um ultraje. Meu amigo, ao longe, sorriu para mim, enquanto trabalhava numa tela, ao ar livre.

Sempre fui modelo para pintores, e não são poucos os que me convidam para ficar após o trabalho. Alguns até me pagam mais por isso, presentes é que não faltam.

Percebi que o jardineiro foi até o meu amigo e se desculpou.

“Não há problema algum”, respondeu, “é costume entre profissionais desse tipo permanecerem nuas.”

Sorri de longe e acenei.

“Se você quiser, pode conversar com ela, não vai ficar aborrecida, Marie gosta de fazer amigos.”

Mas o jardineiro se foi, com seus passos sempre conservadores.

“Essa gente não admite desinibição, nem entende o que é estar à vontade”, falei depois, enquanto ele se certificava se a tela saíra de acordo com o seu desejo.

“São pessoas que nasceram e viveram a vida toda aqui, não pensam como as parisienses.”

“Já imaginou, Michel, se ele me tivesse visto chegar com você, do jeito que chegamos ontem?”

“É, ainda bem que ele não permanece na casa à noite.”

“Na verdade, você não me quis apenas como modelo, não é mesmo?”

“Marie, você sabe o tanto que gosto de você.”

“Vamos fazer uma brincadeira ao anoitecer: fujo nua pelo povoado e você tem que me achar.”

“Prefiro que bebamos vinho numa mesa, junto ao jardim, é mais gostoso, comprei alguns queijos deliciosos.”

“Oh, amor, pensei que o seu queijo fosse eu, sua querida Marie.”

“Você é muito mais que isso, mas não desejo que alguns dos rapazes, desses que andam pelos sítios, surpreendam você nua.”

“Há rapazes por aqui?”

“Não se pode falar em homens que você levanta as antenas.”

“Nunca menti a você, Michel. Quando há quem me agrade, vou atrás imediatamente. E tem mais uma coisa: gosto de você, mas nosso compromisso é apenas comercial, sou uma de suas modelos.”

“Marie, caso você saia nua por esses caminhos, quem terá problemas serei eu.”

“Quem disse que sairei nua? Deixarei aos rapazes o fardo de tirar a minha roupa.”

“Rapazes?”

“Você foi quem falou que há mais de um.”

Virei-me, ainda nua e vi alguém vindo numa bicicleta. Acenei. O ciclista me retribuiu o cumprimento, mas não reparou a minha nudez, passou em alta velocidade. Michel riu.

“Vamos, amor, vista o agasalho, entremos um pouco”, pediu.

Depois de uma garrafa de vinho, namoramos. Michel me tomou nos braços, fez que eu cavalgasse sobre o seu pênis. Voltei-lhe as costas e pedi que me penetrasse a vagina, mas por trás, como os cães. Num outro momento, ele me levantou. Encostei-me à parede e, em vez de colocar os pés no chão, pousei-os sobre a parede em frente, com Michel entre as minhas pernas. Gozei aos gritos e com o maior prazer.

Enquanto descansávamos, comentei sobre minha estada num dos pontos do litoral do Rio de Janeiro, quando viajara no último verão à América do Sul.

Em Ilha Grande, conheci algumas moças que andavam quase nuas, mas quando tirei o top numa das praias elas logo pediram que eu o vestisse. Quis saber o motivo. Uma delas falou:

Os homens aqui não estão acostumados a isso, vão agarrar você.

Veja que engraçado. Naquele lugar, caso uma mulher ande nua é porque deseja ser agarrada.

Eu disse a ela:

Se eu quiser trepar com um dos homens daqui, eu mesma aviso.

Logo replicou:

Você pode avisar, ele vai gostar, mas não pode andar nua por aí, os homens não respeitam a mulher inteiramente nua.

Você não falou que trepou com um deles sobre um lençol, à beira mar, ontem à noite?

Trepei, mas isso é outra coisa ela respondeu.

Acho melhor ficar logo nua, em vez de usar shortinhos tão minúsculos e biquínis que não cobrem nada. Mas lá é diferente. Caso se use um biquininho, já se está vestida, e pronta para ser respeitada.

Lembro de uma festa que fui numa das noites, numa boate perto da praia. No final, arranjei um namorado e fui com ele me deitar na areia. Estava calor, como hoje aqui, deixei que tirasse toda a minha roupa. Depois a pediu de presente.

Uma lembrança, por favor falou.

Você vai se vestir de mulher? perguntei desconfiada.

Não, é que não quero esquecer a francesinha, quero sempre sentir o teu cheirinho.

Devolvi a ele:

Então cheire já, porque depois que gozo sou muito fedorenta.

O homem se pôs a rir. Mas no final da noite acabei atendendo o seu pedido.

Quando cheguei à pousada, outro escândalo:

Você voltou nua!

Ah, essa agora, não se pode satisfazer a vontade de um namorado nesta ilha? Como vocês chamam mesmo esse lugar? Oh, não precisa dizer, já lembrei: Ilha de Santa Cruz.

Nenhum comentário: