quinta-feira, setembro 29, 2011

Schopenhauer

“Venha cá, me abrace”, me pegou pelo braço e me beijou na boca.

“Não deixe o meu vestido cair no chão, por favor.”

Meu namorado, num salto ligeiro, conseguiu desligar a lâmpada do corredor.

Tive vontade de correr para casa. Mas a situação começou a me excitar. Afrouxei o corpo. Ele arrancou minha calcinha e me virou de costas, a posição que mais gosto. Fiquei toda molhadinha. Curvei-me num ângulo de mais ou menos 45 graus e abri as pernas. Ele veio por trás, mas sabia que era para meter na frente. Começamos a nos mover lentamente; pouco a pouco, porém, éramos dois alucinados. Todo o ardor não parou quando ele explodiu dentro de mim. Virei de frente, encostei à parede e pedi que me chupasse. Ele agachou e completou o serviço.

“Você é maluco, quero ver se chega alguém.”

“Você deve estar doidinha pra que isso aconteça.”

Difícil escrever sobre tal situação, porque me cheira a vulgaridade. Mas vamos adiante.

Naquela noite eu estava estudando Schopenhauer; se entendi bem, ele diz que o mundo tem vontade própria e essa vontade arrasta todas as coisas consigo; logo, predomina na natureza, incluindo aí a natureza humana, o irracionalismo. A arte seria um meio de espelhar essa característica e de permitir ao ser humano a reflexão sobre isso.

Lia e fazia essas conjecturas em meu quarto quando me bateu à porta meu namorado. Eram nove da noite. Me convidou para sair, dar uma volta, tomar um suco, conversar etc.

Como já estava trancada com os livros havia pelo menos cinco horas, achei que nada seria mais justo. Fazia calor. Tirei a bermuda e a camiseta que costumo usar em casa e coloquei um vestido simples, desses que vão até abaixo dos joelhos, de tecido leve (nunca sei nome dos tecidos, mas não esqueço o título dos livros que leio). Descemos para a rua.

Na lanchonete, pedi um suco de amora e ele, um copo de assai.

“Não vamos ao cinema faz tempo, você com essa mania de estudar...”

“Fomos faz duas semanas”, respondi.

“Só duas?”

“Isso, duas.”

“Pensei que fossem mais”, retrucou.

“Vimos aquela adaptação da obra de Oscar Wilde, por sinal um filme fraco.”

“Você preferiu o Para sempre Lilian.”

“Vimos em DVD, mas isso já faz tempo”, falei.

“Uma produção russa e sueca, acho; a Lilia era irracional, não pensou as consequências.”

“Não vamos discutir sobre racionalismo ou irracionalismo agora...”

“Você sempre diz que o mundo é irracional. Sabia que Freud era Schopenhauriano? O inconsciente é irracional, e coisa e tal. Viu, até rimou.”

“Nada mais óbvio do que Freud seguir Schopenhauer, embora ele não goste de falar sobre isso. Mas vamos conversar sobre outra coisa”, pedi.

“Vamos namorar, o que temos feito pouco.”

Ele, então, atravessando a mesa com a cabeça, me beijou por cima do copo de açaí e do suco de amora. Um beijo longo, boca a boca.

Tomamos nossos sucos em silêncio; ele, mais demorado do que eu. Depois que acabamos, caminhamos um pouco e entramos na locadora.

“Que tal um filme francês?”, perguntou.

“Você diz que os filmes franceses são lentos. Mudou de ideia agora?

“Tem um aqui, acho que esse você já ouviu falar”, apontou.

O filme chamava-se Caché, de Michael Haneke; em francês significa escondido.

Fomos para minha casa e assistimos ao filme no meu quarto.

O enredo focalizava, em primeiro plano, um intelectual apresentador de debates semanais pela TV. Ele sempre entrevistava escritores ou pessoas do mundo cultural. Mas este mesmo homem recebe quase todos os dias, e de forma anônima, uma gravação em VHS da parte externa de sua casa. Por mais que se esforce, não consegue descobrir o autor das filmagens. Ele passa a perseguir tenazmente o misterioso cineasta, mas jamais consegue encontrá-lo. Ao mesmo tempo, nunca descobre onde está a câmara que o está filmando. E quando acha que tem um suspeito, este se mata na sua frente. Mesmo assim as filmagens e as fitas enviadas a ele pelo correio não cessam. O interessante é que, através de seu programa de TV, ele pode entrar na casa dos outros, mas não admite a mesma exposição quando o fato acontece consigo.

Eu e meu namorado discutimos o filme até a uma da manhã. Assim que desligamos o aparelho, fui à sala e peguei uma garrafa de vinho das que meu pai deixa numa espécie de adega climatizada.

Meu namorado achou o filme bom, mas reclamou que o mistério não se resolve.

Falei a ele sobre a questão da imigração. “Você não viu que o homem visto como suspeito era de origem árabe?”

Ele concordou, mas disse que se tratava de um problema difícil de resolver.

“É um problema também escondido, como o nome do filme, os governantes e os nacionais não sabem o que fazer com toda essa população de imigrantes.”

“Você não está estudando uma filosofia irracionalista? Talvez os homens sejam irracionais”, falou.

“Uma coisa é a filosofia; outra, os países e suas políticas.”

“É melhor deixarmos isso de lado, vamos também aos nossos irracionalismos”, abraçou-me e começou a tentar tirar minha roupa.

“Hoje não, vamos deixar para amanhã.”

Ele se mostrou um tanto insatisfeito. Levantou-se para ir embora.

“Você não respeita o desejo das pessoas”, beijou-me mais uma vez.

“Qual o seu desejo?”

“Preciso dizer?”

“Mas assim?”, continuei, “é preciso criar um clima.”

“Então, vou criar, vamos até lá fora.”

Aceitei. Saímos do apartamento e ficamos perto do elevador.

“Vou fazer você viver uma experiência nova e ousada.”

“Estou curiosa”, disse a ele.

“Feche os olhos e levante os braços.”

“Você vai me assaltar?”

“Claro que não.”

“Então, ta”, falei e fiquei na posição que pediu.

Num ímpeto que eu não esperava, ele arrancou o meu vestido. Fiquei de calcinha.

“Você ficou louco, pode aparecer alguém, me dê isso aqui”, saltava tentando reaver minha roupa.

“Calma, você vai gostar, hoje estou irracional, como seu filósofo, como o filme que vimos.”

“Me dê aqui, por favor”, me esforçava para alcançar o vestido enquanto ele o escondia atrás do corpo.

“Venha cá, me abrace”, falou. Me pegou pelo braço e me beijou na boca.

“Não deixe o meu vestido cair no chão, por favor.”

Ele, num salto ligeiro, conseguiu desligar a lâmpada do corredor.

Tive vontade de correr para casa. Mas a situação começou a me excitar. Afrouxei o corpo. Ele arrancou minha calcinha e me virou de costas, a posição que mais gosto. Fiquei toda molhadinha. Curvei-me num ângulo de mais ou menos 45 graus e abri as pernas. Ele veio por trás, mas sabia que era para meter na frente. Começamos a nos mover lentamente; pouco a pouco, porém, éramos dois alucinados. Todo o ardor não parou quando ele explodiu dentro de mim. Virei de frente, encostei à parede e pedi que me chupasse. Ele agachou e completou o serviço.

“Você é maluco, quero ver se chega alguém.”

“Você deve estar doidinha pra que isso aconteça.”

Pela primeira vez transei no corredor de um prédio, e logo no meu, não havia necessidade, pois tínhamos a minha casa e a dele para fazer isso. Mas confesso que gostei. Depois que gozei, permaneci agarrada a ele.

Mas aí aconteceu outra coisa inesperada. A porta do elevador se abriu de repente, um facho de luz foi lançado sobre mim e dali saiu dona Marg. E ela estava nua!

“A senhora foi assaltada?”, perguntei sem pensar.

De pronto, ela falou:

“Me empresta o teu vestido?”

Meu namorado, boquiaberto, entregou-lhe o vestido.

“Veja, ficou um pouquinho curto, mas cabe direitinho”, cobriu-se dos seios até as coxas, apenas na parte da frente do corpo. “Você já chegou pelada em casa alguma vez?”

“Não, nunca”, pronunciei as duas palavras assustadíssima.

“Então vai chegar hoje, e depois disso não vai querer outra vida; esse seu namoradinho será sempre apaixonado por você”, seguiu em frente e abriu a porta. Antes de fechar, completou: “boa noite, amanhã devolvo o vestido.”

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