Estava na calçada, aguardava o táxi. Reparei uma moça com uma túnica frente única, parecia na verdade um microvestido. Mas dava para perceber que ela vestia short por baixo. Respirei aliviada. Já imaginou alguém de roupa tão curta sem o shortinho? Lembrei que eu já saíra com um vestido daquele comprimento. Tive uma vontade louca de estar naquela blusa, todos os homens a me olharem, a procurarem minhas pernas nuas.
O táxi parou. Entrei. O motorista, sempre discreto, já conhece meus trajetos. Jandira me havia ligado fazia trinta minutos e comunicado sobre o cliente que eu deveria atender naquela tarde.
Após rodar por toda a Presidente Vargas, o automóvel contornou a Candelária e parou no sinal com a Primeiro de Março. Alguns minutos a mais atravessamos o trecho da perimetral sobre a Praça 15. Dois ou três minutos depois eu desembarcava na Marechal Câmara, em frente ao hotel onde costumo atender a maioria dos meus clientes.
“Ei, moça”, um homem me surpreendeu quando quase já atingia a porta do hotel. Parei, automática. Mas não era quem estava agendado. Este me esperava na suíte 410.
“Ei, moça, você combina encontros pela Jandi, não?”
“Sim, mas você precisa ligar para ela, não fale comigo agora, por favor”, deixei o homem para trás e atravessei a porta.
Na suíte encontrei o cliente, como de costume.
Duas horas depois, tendo cumprido meu papel com esmero, saí do hotel, sozinha. O cliente descera um quarto de hora antes. Na calçada, porém, o mesmo homem que me abordara na chegada.
“Moça, por favor, qual o seu preço?"
“Já falei, os encontros precisam ser agendados através da Jandi, não falo sobre preços."
“Você tem um expediente, não? Que tal sair comigo por fora, pago o que eles pedem e você fica com as duas partes.”
A proposta era vantajosa, mas perigosa quando se trata de alguém desconhecido.
“Prefiro que você ligue para a Jandira, tenho o número, basta dizer que deseja ser meu cliente, ela marca pra daqui a pouquinho. Não diga que estou a seu lado.”
“Não quero nada com sua agenciadora, mas direto com você.”
Eram quartro da tarde, muitas pessoas transitavam pelo passeio, nós atrapalhávamos o caminho. Ameacei deixar o homem falando sozinho. Ao dar dois passos, ele me seguiu, fez um gesto de que ia me segurar pelo braço. Mas recuou.
“Quanto sua agenciadora pede? Quatrocentos, quinhentos?”
“Seiscentos.”
“Pago setecentos mais cem para o seu transporte de volta.”
Sua oferta me fez pensar. Setecentos não era coisa à toa. Rapidamente, falei – porque sabia que se demorasse desistiria: “temos de ir primeiro a um caixa eletrônico, você deve fazer o depósito na minha conta.”
“Ok, qual é o seu banco?”
Caminhamos até o caixa mais próximo. Havia poucas pessoas na fila, logo se deu a transferência de valores.
“Agora vamos”, me segurou por um dos braços. Entramos num táxi.
O homem fez o taxista atravessar a ponte em direção a Niterói.
“Por que tão longe?”, sussurrei, “não posso ficar com você por mais de duas horas, vão procurar por mim.”
“Ficamos o tempo que seus clientes costumam usar, não há problema.”
Descemos do táxi dentro de um motel, numa das praias de fora.
Estou acostumada a diversos tipos de homem, mas naquele momento tremi um pouco. Como através da agência nunca tive problemas, comecei a achar que agindo sozinha poderia ficar em maus lençóis, literalmente.
Logo que entramos na suíte, falou:
“Tire a roupa.”
“Mas assim, sem fantasia?”, suspirei sem graça.
“Claro que haverá fantasia.”
Tirou da pasta uma túnica exatamente igual à da moça que eu vira enquanto esperava o táxi.
“Vista”, ordenou, “mas sem nada por baixo”, viu?
Vesti a blusa.
“Suba na sua sandália alta e ande como se estivesse desfilando, você tem de fazer de tudo para que eu não note que você está sem calcinha.”
“Acho que vai ser impossível, sou muito alta e a sandália ainda me deixa maior, mas já que é a sua vontade...”
Me coloquei na posição e comecei o desfile. Reparei que ele recolheu minhas roupas, mas fingi nada ter visto. Andei de um lado a outro, passos de modelo, sorria sempre que passava por ele. Acabei gostando da brincadeira.
“Sabe a moça da propaganda, a que fica de calcinha e sutiã ao fazer um pedido ao marido? Sou eu”, sorri e dei mais uma voltinha.
“Acredito, mas acho que você não vai passar no teste”, sentenciou.
“Por quê?”, fiz que ia chorar, enquanto parava e inclinava o corpo para frente, na direção dele.
“Estou vendo cinema de graça.”
“De graça? Pois está saindo tão caro!", sorri e o beijei.
Dali para frente, fizemos amor. Foi tudo de bom. Tanto para mim quanto para ele. Havia muito não gozava com um cliente.
No final, pediu: “volta para casa apenas com a túnica que dei a você?”
“Curtinha, assim? Vou dar cineminha pra todo mundo.”
“Levo você de táxi.”
“Como vou saltar?”
“No seu prédio não há uma entrada de automóvel?”
“Há, sim, entro por ela quando faço compras.”
“Então? Pago mais cinqüenta.”
“Mas você devolve minha roupa? Eu a levo na bolsa.”
“Claro, por que iria querer seu vestidinho?”
“Sei lá, às vezes aparece cada um...”
“Posso fazer uma pergunta indiscreta? É mais uma fantasia”, sua voz soou baixa, humilde.
“Claro, pois faça.”
“Você já foi presa alguma vez?”
“Presa? Pela polícia?”
“Isso.”
“Não”, falei com ar de preocupação. Será que ele era da polícia e iria me prender? Para voltar ao clima anterior, acrescentei: “mas já houve um cliente que me deixou pelada na rua, de madrugada.”
“Como você fez?”
“Aí você já está querendo saber demais”, simpática, aproximei meu rosto ao seu.
“O que custa você contar?”
“Morro de vergonha. Mas vamos fazer o seguinte, você me dá o seu endereço eletrônico que eu mando por escrito.”
“Jura?”
“Juro, e eu tenho um estilo para escrever... Você vai adorar!”
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