quinta-feira, agosto 30, 2012

Depois da festa

No domingo eu e meu namorado fomos a um churrasco na casa de um casal amigo. Chegamos por volta da hora do almoço e, para contribuir nas despesas, levamos uma caixa de latas de cerveja. Como estava sol, os donos da casa armaram uma pequena piscina onde as crianças puderam divertir-se.

Conversamos durante boa parte da tarde enquanto bebíamos e comíamos. Eu, como sou muito alegre, diverti-me também com os pequenos. Eles a todo o momento vinham molhar-me com a água da piscina. Aproveitava e os arremessava de volta para dentro d’água. Meu namorado também é uma pessoa alegre e social, relacionou-se muito bem com nossa anfitriã e seu marido. Passamos uma tarde maravilhosa. Não é bem sobre essa parte do dia que quero falar.

Lá pelas seis ou sete da noite nos despedimos. Aproveitamos para dar carona a uma amiga. Depois de deixá-la em casa, seguimos ao apartamento do meu namorado.

Ele se mostrava por demais excitado. Creio que a bebida expandira-lhe o desejo; ainda no carro, pôs-se a me beliscar as pernas.

Após estacionarmos, ainda no elevador abracei-o e pedi que tirasse minhas roupas.

“Mas estamos em lugar público”, falou.

“Não faz mal, estavas a beliscar minhas pernas no carro?, agora quero sentir o que é chegar nua na casa de meu namorado.”

“Mas se alguém nos descobrir?”, perguntou preocupado.

“Não hão de nos descobrir. Uma mulher bêbada e apaixonada jamais é descoberta.”

Ele, então, tirou-me a saia.

“Ainda estou muito vestida”, fiz-me de desentendida.

Tirou minha blusa farejando meus odores.

“Será que já estou pronta para uma boa trepada?”, sussurrei-lhe no ouvido.

O elevador parou no piso correspondente ao apartamento dele. Meu namorado virou-se num sobressalto, mas logo percebeu que não havia ninguém no corredor. Caminhou em direção à porta do apartamento. De nariz empinado, recusando-me até mesmo um passo além de onde estava, falei:

“Ei, volta aqui, ainda não estou nua.”

Ele acabou de me despir e me deu um longo beijo. Permaneci dependurada no seu pescoço.

“Deixe-me encontrar a chave.”

Soltei-o enquanto tirava-a de um dos bolsos da bermuda. Abriu a porta. Fiz que ele entrasse primeiro.

“Fecha, quero que abras especialmente para mim.”

“Mas você vai ficar nua aí fora?”

“O que tem? Já estou nua há tanto tempo...”

Ele fechou. Subi um lance de escada e passeei nua pelo andar de cima. Depois voltei, toquei a campainha e esperei por ele.

Não sei muito bem o que aconteceu daí em diante. Apenas me vêm à mente imagens distorcidas do amor vivido naquela noite. Ele subia no meu corpo e me beijava. Lembro-me de um pedido seu: que eu ficasse de costas. Sempre reluto quando ele me quer por trás, mas como eu estava de pilequinho... Senti algo gelado no meu anus. Era ele lambuzanndo-me com uma pomadinha. Ao começar a me penetrar, gritei muito. Mas de prazer. Pedia que ele jamais parasse. Eu queria que aquela trepada fosse interminável. Gozei várias vezes. Enfim, apaguei.

No dia seguinte, contou, imitando-me a voz:

“Vem, continua, não gozes, fica assim à noite toda. Não quero que isso acabe de maneira alguma.”

Eu ria do jeito como ele tentava representar meus gestos e meu jeito de falar. Enquanto isso, eu bebia muita água, pois a ressaca era forte.

“Você é maravilhosa, jamais fizemos amor com tanto ímpeto”, falou e me beijou.

“Estou horrível, essas bebidas maltratam muito a gente.”

Tomou-me nos braços e me colocou na cama mais uma vez.

“Preciso ir embora”, falei, “minhas filhas devem estar preocupadas.”

“Elas já são adultas.”

“Mas se preocupam comigo.”

Depois de mais uma hora de descanso, levantei e fui ao banheiro. Quando voltei, perguntei:

“Viste minhas roupas?”

“Mas você não chegou nua?”

“Estás brincando...”

“Não lembra que você quis que eu fechasse a porta com você nua lá fora?”

“Ah, sim, acho que lembro, mas e as roupas?”

“Pensei que você as tivesse recolhido.”

“Eu? Ai, e agora? Só me faltava essa!”

“Não core”, disse, vou arranjar um jeito, mas antes venha até aqui.

Aproximei-me. Beijou-me, deitou-me e trepamos ainda uma vez.

Depois, bem, depois ele encontrou uma solução.

quinta-feira, agosto 23, 2012

Agora conta, vai

Quando aceito conversar com alguém numa festa ou mesmo numa fila de cinema, sou tomada por dois arrepios. O primeiro é por me sentir desejada; o segundo, o mais intenso, é por causa do risco que por ventura eu venha correr nas mãos de um desconhecido. Isso mesmo, sempre me sinto incrivelmente excitada quando penso que eu possa estar namorando um tarado. Não desejo que ele me bata ou me ameace, ou mesmo que me obrigue a sair nua por aí, mas é então que vem o tal arrepio. Um segredo: toda mulher gosta de homens taradinhos.

Quando fui ao Rio, vivi um momento desses. Conheci um homem jovial na fila do cinema Estação. Conversamos um pouco e assistimos ao mesmo filme.

Dois dias depois, fui a sua casa. Achei que não haveria perigo algum, mas me veio o arrepio. Lá pelas tantas, depois de duas taças de vinho, ele sugeriu que eu fosse nua ao lado de fora do seu apartamento. Quase morri de tesão com a proposta. Aceitei na hora. E fui de peitos nus, o que me mata de vergonha. Bati à porta para fingir que chegava nua. Ele demorou a atender. Ao abrir, perguntou:

“O que houve? Você está nua, e batendo aqui, nem a conheço”, e ameaçou fechar a porta.

“Moço, por favor, me dê abrigo”, pedi aflita.

“Só se me contar o que aconteceu.”

“Deixa eu entrar primeiro, pode aparecer alguém”, falei, “estou morta de vergonha.”

Ele afastou a porta para que eu entrasse. Eu cobria os seios com as mãos.

Reparou minha aflição:

“Ok, vou arranjar alguma coisa pra você vestir”, correu ao armário e me trouxe uma camisa polo masculina.

Vesti-a, ficou justa, me cobriu apenas até as coxas, estiquei a malha pra tapar mais um pouquinho minhas pernas de fora.

“Agora conta, vai”, insistiu.

“Você jura que quer saber?”

“Claro, quero saber.”

Cruzei as pernas, a blusa subiu um pouco, meus seios balançaram sob a roupa.

“Mas você não acha melhor sentar aqui ao meu lado?”, me insinuei.

Ele veio.

“Gosta das minhas coxas? São tão grossas.” Descruzei as pernas, a malha subiu mais um pouquinho, acho que dei cineminha.

“São grossas, sim; você, tão gostosa, e nua por aí.”

“Mas estou preocupada”, segurei um de seus braços, “não posso ir embora peladinha, e moro tão longe...”

“Você não vai embora pelada, dou um jeito, arranjo uma roupa mais recatada pra você.”

“Verdade? Não acredito. Depois que vocês gozam, são todos iguais. Vai me mandar embora nua, assim como entrei”, cantei a pedra.

“Quer dizer que foi isso que aconteceu? Você transou com ele. Ele gozou e mandou você andar, pelada. Aí você bateu aqui.”

Fiz cara de dissimulada.

“Você deve estar até meladinha”, fez uma careta.

Comecei a desconfiar de que a situação não ia a meu favor.

“Não, não”, enrubesci, “trepei de camisinha.”

“Então você vai ter de me contar como foi essa trepada.”

Quando falamos de alguma relação anterior, o homem que está conosco fica ainda mais excitado. Ele virou-se para mim, com agilidade tirou minha blusa me deixando toda à mostra.

“Você falou que os homens mandam você embora nua depois do gozo. Se não me contar como foi, mando você antes.”

“Mas estou nua”, me encostei à parede, cobri de novo com as mãos os seios e me curvei um tantinho. Mas o que ele queria mesmo era ouvir sobre minha transa.

“Quer dizer que você bate aqui depois de dar pra outro, e nem quer me contar, é mesmo uma sem-vergonha.”

“Vou contar, escute”, e me pus a relatar a história recém-vivida. À medida que minha narração avançava, ele grudava mais em mim.

“Então você me quer agora? Ainda nem acabei o relato. Veja que sorte a sua, eu poderia ter ido à porta de outro, pra você tudo é lucro”, acrescentei.

“Lucro?”

“Isso, lucro” afastei um pouco as pernas, esperava por ele.

Tirou a roupa bruscamente, me enfiou o pênis por entre as coxas. Excitada, falei:

“Vai, me esporra, deixo que você faça sem camisinha.”

Ele encontrou o encaixe perfeito naquela posição. Apenas me levantou e deslizou pra dentro de mim. Chegou a me manter no ar por quase um minuto. Afastei mais as pernas para que ele se movimentasse melhor. Depois nos agachamos devagarinho, até que sentei sobre seu ventre, ainda com seu pênis dentro de mim.

Ao perceber que ele ia gozar, voltou-me o arrepio. Minhas palavras o excitaram mais do que meu corpo. Será que após sua ejaculação aconteceria o que eu mais temia? Seguiu-me o orgasmo. E eu ainda no exercício sobre o seu pênis.

“Vai, goza agora, me encharca, assim, assim, quero ficar toda meladinha...”, sabia que eu iria ao orgasmo mais uma vez, mesmo peladinha e ao lado de fora de seu apartamento.

sexta-feira, agosto 17, 2012

Bateu-me à porta uma moça aqui do bairro

Outro dia bateu-me à porta uma moça aqui do bairro. Era tarde da noite e ela estava inteiramente nua. Isso mesmo, nuinha. Tenho certeza absoluta de que eu não estava delirando nem se trata de fantasia de quem beira os 70 anos de idade.

Pediu-me para entrar e, percebendo minha assustada fisionomia, não se fez de vexada. Já na sala de estar, perguntou-me em voz baixa: “o senhor deixa eu dar um telefonema?” Sentou-se então na cadeira que fica ao lado da mesinha do telefone, cruzou as pernas, tomou nas mãos o aparelho e se pôs a discar o número desejado, ou necessário, não sei.

Travou breve e quase monossilábico diálogo com a pessoa que estava do outro lado da linha. Num determinado momento, tapou o bocal e me perguntou: “qual o endereço daqui mesmo?” Falei e ela o repetiu para quem a ouvia.

Após desligar, pediu-me mais um favor: “posso ficar aqui uns dez ou quinze minutinhos?”

Assenti com um movimento de cabeça. Perguntei-lhe também se desejava mais alguma coisa.

“O senhor tem uma revista? Assim o tempo passa, não?”

Trouxe-lhe a revista. Era uma dessas semanárias. Ela se pôs a ler com interesse. Ainda mantinha a perna direita sobre a esquerda. Comportava-se como se fosse a pessoa mais vestida do mundo.

“A senhorita não precisa de algo para cobrir-se, quero dizer, uma camisa pelo menos?”, arrisquei.

“Ah!”, foi sua única resposta.

De repente ela abandonou a cadeira, pôs-se de pé, encostou-se à parede e cobriu os seios com um dos braços. Sorrindo, continuou:

“Será que o senhor ainda consegue?”, com a face luminosa, inclinou a cabeça e olhou o próprio corpo.

Aproximei-me, ela segurou-me e começamos quase uma dança, eu ainda vestido. Depois de algum tempo, ela própria abriu-me a calça e puxou o meu pênis. Para não relatar os pormenores, relaciono apenas sua última e destemperada fala:

“Me esporra, me esporra todinha, goza dentro de mim, vamos, goza muito, me deixa encharcada.”

Apesar da minha idade, suas palavras provocaram-me excitação jamais sentida.

Quando terminamos, ela voltou à cadeira, olhou para mim e falou:

“Agora aceito sua camisa”, transmitia uma ponta de vexo.

Dez ou quinze minutos depois, chegou quem ela esperava. Era uma mulher, e trazia-lhe um casaco, desses compridos, quase um sobretudo.

A moça vestiu-o, agradeceu e se foi.

Ainda a vi uma ou duas vezes em alguma rua aqui do bairro. Piscou para mim e sorriu. Tinha a mesma face luminosa daquela noite e, em seus olhos, ainda pude perceber ecos de suas palavras no momento de gozo.

quinta-feira, agosto 09, 2012

Vestidinho prateado

Sempre adorei roupas com brilho, amei mais quando meu namorado me envolveu num vestido prateado. Só que, mais uma de suas ousadias, o vestido era de papel! Isso mesmo, papel prateado, desses que se amoldam ao corpo de uma fruta quando desejamos protegê-la, ao gargalo de um licor, a um pote de doce. Meu namorado fez um tomara-que-caia bastante curto, e me caiu tão bem. Vestidíssima! E para minha elegância tornar-se mais segura, pediu que eu girasse enquanto aplicava sobre o prateado um filme, aquela transparência que usamos para acondicionar mantimentos. Imaginem, o papel brilhoso, bem justo, torneando-me o corpo, e por cima o filme. Quantos reflexos, tantas as luzes a refletir minhas curvas.

“Carol, você está lindíssima, ninguém pensou numa roupa desse tipo antes.”

“Isso, meu amor, és um verdadeiro estilista. As pessoas hão de querer palpites seus no vestuário a partir de hoje, basta que cheguemos logo à tal festa.”

“Carol, aquele nosso segredinho, ok?”

"Qual deles, querido?"

"Nada por baixo."

“Claro, você sabe que adoro andar nua, apenas papel e filme, acho que de hoje em diante me torno atriz.”

Aproximou-se, beijou-me, apertou-me. O vestidinho resistiu. A cada toque de suas mãos, meu corpo era desenho mais perfeito.

Saímos. O inverno nunca me amedrontou.

Na festa? O piscar das luzes tornou-me de todas as cores.  Houve quem parou para me olhar. Os garçons, sem exceção, queriam todos me servir. Em cada momento, meu sorriso abria-se a mais um reflexo prateado, luz nos meus dentes perfeitos. No toalete, várias mulheres perguntaram de quem fora a ideia. Uma disse que dali para frente já sabia como iria sair à noite para todas os convites, para todas as festas, cada dia uma cor, o dia vermelho, o dia verde, o azul, o amarelo, e até mesmo o preto. Todos refletidos pelo filme, ‘espelho mais adequado não há; e pode-se, da mesma forma, optar por outro modelo; comprido; decote em V; frente única; modelinho até os joelhos, o filme contribuindo para formar babados, colado com adesivo transparente’. Outra, próxima, falou à que vestia vermelho: ‘lembra aquela história que você me contou, nua na estrada, deixada pelo namorado, tudo combinado?, se você vestisse saia e blusa desse tipo não teria prejuízo, à noite seguinte já saía com novo enxoval’.

Voltei à dança e ao namorado. Ressorrisos, Redobrados brilhos. Outros homens a me saudar, a saudar meu namorado. Suas mulheres? Tristes, lamentosas, seus amados não possuem o mesmo talento. Não deixei que me roubassem o rapaz, estilista que só...

Partimos às três em ponto. Cinderela nua, desejosa de ainda sobre as areias da praia correr, sentir na pele a carícia do vento que antecipa a aurora, beijar o príncipe fugidio, deixar que goze com a mulher, que estremeça ao invento sedutor.

Gostei tanto do vestidinho, que o guardei para outra vez. Sabia que as invenções continuariam, que iriam mais longe. Mas o primeiro modelito, não queria esquecer.

quinta-feira, agosto 02, 2012

Sem sutiã

Estava na Livraria Cultura, no Conjunto Nacional, carregava alguns livros para o café quando percebi um homem de meia idade observando-me. Eu vestia calça jeans e blusa de seda cor creme. Mas havia um detalhe, saíra de casa sem sutiã. Repousei os livros sobre a mesa e procurei a garçonete. O local estava tão cheio, que mal consegui avistá-la. O homem, insistente no olhar, permaneceu numa das extremidades do café, segurava uma sacola da livraria.

Enquanto não era atendida, abri um dos livros e comecei a folheá-lo. Era um romance de uma autora francesa cujo enredo parecia muito interessante; descrevia um professor de ensino superior considerado um intelectual muito em voga. Mas ele mantinha um caso com uma aluna da universidade onde lecionava. A história não parecia marchar na direção a que costuma seguir esse tipo de narrativa, e era ambientada no tempo da guerra de libertação da Argélia. O personagem, embora francês, fazia coro aos os protestos que desejavam a colônia africana livre. Outro livro, que eu tirara de uma estante de literatura brasileira, tinha a capa muito bonita e acabamento gráfico requintado, chamava-se Hotéis à beira da noite. O mais curioso é que o autor, apesar do nome estrangeiro, Per Johns, é escritor brasileiro. Era a primeira vez que eu descobria um livro seu. O terceiro livro que eu carregava, e de modo mais discreto – não desejava que as pessoas o percebessem comigo – era o da Margarida Nua. Como muitos devem saber, Margarida alcançou muito sucesso nos últimos anos. Seus livros, a princípio, foram classificados erroneamente como literatura erótica, mas, depois, os leitores e a crítica chegaram à conclusão de que se trata de literatura. Suas histórias urbanas, de cunho existencialista, ora curtas, ora mais extensas, abordam o prazer e a surpresa que a vida nos pode oferecer. Naquele livro, há uma história que adoro, é a da mulher que resolve passar a noite nua numa praia deserta à espera do namorado. Ele tem a incumbência de lhe levar roupas, mas ela espera, espera, e ele... , bem, acho melhor não contar, não quero estragar o prazer para quem ainda não conhece o livro.

O homem continuava a me olhar, conseguira uma mesa a três passos de onde eu estava. A garçonete já o atendera e ele tomava um café, apenas.

Pedi café com leite e um croissant. Enquanto aguardava, fixei-me nas páginas do livro. Comecei a pensar sobre o fato de as personagens literárias tornarem-se tão reais. No ato de qualquer leitura de ficção, jamais nos damos conta de que todas aquelas pessoas envolvidas no enredo são criações saídas da cabeça de um homem ou de uma mulher. As personagens da Margarida são tão reais, que é difícil acreditar que elas não esbarrem vez ou outra com a gente cidade afora. Hoje, Margarida Nua é a escritora que consegue de modo mais eficaz criar, sobretudo, mulheres muito verossímeis.

O desconhecido esperou que nossos olhares se cruzassem, então apontou para um dos livros que repousara sobre sua mesa. Era de Foucault, uma edição de capa vermelha, da Martins Fontes, muito bonita por sinal, que eu sempre admirei e ainda desejo comprar. Acabou por me oferecer o livro fazendo um movimento com a cabeça. Acho que notou o meu interesse pelo filósofo francês porque observou que me demorei no olhar ao ver o livro junto a ele. Fiz uma fisionomia reticente e continuei a folhear um dos meus. Mas ele insistiu. Achei que a recusa seria indelicada, melhor falar alguma coisa.

“Numa outra ocasião, agora estou ocupada com este aqui”, apontei o que eu tentava ler.

“Ah, contos da Margarida, são muito bons.”

Não sei se fiquei vermelha ou roxa, pensei que estava lendo naquele momento o livro do Per Johns.

“Não se preocupe”, falou, “não precisa ficar envergonhada, as histórias da Margarida são também foucaultianas, elas nos liberam dos grilhões das convenções sociais, exatamente o que Foucault estuda”, falou enquanto mergulhava nos meus seios.

Ainda descontrolada, deixei escapar um “ah”, e depois voltei os olhos para a página em que eu estava. Mas dali em diante já não foi possível continuar lendo.

O homem permaneceu na sua mesa e não mais me dirigiu a palavra. Tentei voltar à leitura, mas de outro livro, e não percebi quando o desconhecido se foi. Poxa, ele bem que poderia ser mais insistente, aí, quem sabe...

Caso contasse esse breve episódio a alguma amiga, ela diria que eu não sei aproveitar as oportunidades. Mas ali, na Livraria Cultura, achei que ele estava me paquerando apenas porque eu viera sem sutiã. Depois, ao voltar para casa, acabei achando que não seria nada demais um homem admirar uma mulher porque ela está sem sutiã. E eu, pelo menos, devia ter-me apresentado. Ele, em contrapartida, faria o mesmo. Assim, as coisas teriam sido mais fáceis.

Fui embora um pouco triste. Vivo queixando-me de que sou uma pessoa sozinha, quando surge alguém escondo-me. Sei que os contos da Margarida não são de autoajuda, mas preciso ler mais o que ela escreve, acompanhar suas personagens, tudo tão verdadeiro. Amanhã ou depois encontro de novo o mesmo homem, então serei capaz de ter outros olhos para ele.

Quem sabe, saio soltinha por aí.