Pediu-me
para entrar e, percebendo minha assustada fisionomia, não se fez de vexada. Já
na sala de estar, perguntou-me em voz baixa: “o
senhor deixa eu dar um telefonema?” Sentou-se então na cadeira que fica ao
lado da mesinha do telefone, cruzou as pernas, tomou nas mãos o aparelho e se
pôs a discar o número desejado, ou necessário, não sei.
Travou breve e quase monossilábico diálogo com a pessoa que estava
do outro lado da linha. Num determinado momento, tapou o bocal e me perguntou:
“qual o endereço daqui mesmo?” Falei e ela o repetiu para quem a ouvia.
Após desligar, pediu-me mais um favor: “posso ficar aqui uns dez
ou quinze minutinhos?”
Assenti com um movimento de cabeça. Perguntei-lhe também se
desejava mais alguma coisa.
“O senhor tem uma revista? Assim o tempo passa, não?”
Trouxe-lhe a revista. Era uma dessas semanárias. Ela se pôs a ler
com interesse. Ainda mantinha a perna direita sobre a esquerda. Comportava-se
como se fosse a pessoa mais vestida do mundo.
“A senhorita não precisa de algo para cobrir-se, quero dizer, uma
camisa pelo menos?”, arrisquei.
“Ah!”, foi sua única resposta.
De repente ela abandonou a cadeira, pôs-se de pé, encostou-se à
parede e cobriu os seios com um dos braços. Sorrindo, continuou:
“Será que o senhor ainda consegue?”, com a face luminosa, inclinou a cabeça e olhou o próprio corpo.
Aproximei-me, ela segurou-me e começamos quase uma dança, eu ainda
vestido. Depois de algum tempo, ela própria abriu-me a calça e puxou o meu pênis.
Para não relatar os pormenores, relaciono apenas sua última e destemperada
fala:
“Me esporra, me esporra todinha, goza dentro de mim, vamos, goza
muito, me deixa encharcada.”
Apesar da minha idade, suas palavras provocaram-me excitação
jamais sentida.
Quando terminamos, ela voltou à cadeira, olhou para mim e falou:
“Agora aceito sua camisa”, transmitia uma ponta de vexo.
Dez ou quinze minutos depois, chegou quem ela esperava. Era uma
mulher, e trazia-lhe um casaco, desses compridos, quase um sobretudo.
A moça vestiu-o, agradeceu e se foi.
Ainda a vi uma ou duas vezes em alguma rua aqui do bairro. Piscou
para mim e sorriu. Tinha a mesma face luminosa daquela noite e, em seus
olhos, ainda pude perceber ecos de suas palavras no momento de gozo.
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