quinta-feira, agosto 09, 2012

Vestidinho prateado

Sempre adorei roupas com brilho, amei mais quando meu namorado me envolveu num vestido prateado. Só que, mais uma de suas ousadias, o vestido era de papel! Isso mesmo, papel prateado, desses que se amoldam ao corpo de uma fruta quando desejamos protegê-la, ao gargalo de um licor, a um pote de doce. Meu namorado fez um tomara-que-caia bastante curto, e me caiu tão bem. Vestidíssima! E para minha elegância tornar-se mais segura, pediu que eu girasse enquanto aplicava sobre o prateado um filme, aquela transparência que usamos para acondicionar mantimentos. Imaginem, o papel brilhoso, bem justo, torneando-me o corpo, e por cima o filme. Quantos reflexos, tantas as luzes a refletir minhas curvas.

“Carol, você está lindíssima, ninguém pensou numa roupa desse tipo antes.”

“Isso, meu amor, és um verdadeiro estilista. As pessoas hão de querer palpites seus no vestuário a partir de hoje, basta que cheguemos logo à tal festa.”

“Carol, aquele nosso segredinho, ok?”

"Qual deles, querido?"

"Nada por baixo."

“Claro, você sabe que adoro andar nua, apenas papel e filme, acho que de hoje em diante me torno atriz.”

Aproximou-se, beijou-me, apertou-me. O vestidinho resistiu. A cada toque de suas mãos, meu corpo era desenho mais perfeito.

Saímos. O inverno nunca me amedrontou.

Na festa? O piscar das luzes tornou-me de todas as cores.  Houve quem parou para me olhar. Os garçons, sem exceção, queriam todos me servir. Em cada momento, meu sorriso abria-se a mais um reflexo prateado, luz nos meus dentes perfeitos. No toalete, várias mulheres perguntaram de quem fora a ideia. Uma disse que dali para frente já sabia como iria sair à noite para todas os convites, para todas as festas, cada dia uma cor, o dia vermelho, o dia verde, o azul, o amarelo, e até mesmo o preto. Todos refletidos pelo filme, ‘espelho mais adequado não há; e pode-se, da mesma forma, optar por outro modelo; comprido; decote em V; frente única; modelinho até os joelhos, o filme contribuindo para formar babados, colado com adesivo transparente’. Outra, próxima, falou à que vestia vermelho: ‘lembra aquela história que você me contou, nua na estrada, deixada pelo namorado, tudo combinado?, se você vestisse saia e blusa desse tipo não teria prejuízo, à noite seguinte já saía com novo enxoval’.

Voltei à dança e ao namorado. Ressorrisos, Redobrados brilhos. Outros homens a me saudar, a saudar meu namorado. Suas mulheres? Tristes, lamentosas, seus amados não possuem o mesmo talento. Não deixei que me roubassem o rapaz, estilista que só...

Partimos às três em ponto. Cinderela nua, desejosa de ainda sobre as areias da praia correr, sentir na pele a carícia do vento que antecipa a aurora, beijar o príncipe fugidio, deixar que goze com a mulher, que estremeça ao invento sedutor.

Gostei tanto do vestidinho, que o guardei para outra vez. Sabia que as invenções continuariam, que iriam mais longe. Mas o primeiro modelito, não queria esquecer.

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