sexta-feira, setembro 21, 2012

E o meu corpo a crescer, e o biquíni a se estreitar

Estou no parque tomando sol; o dia, lindo, de repente vejo um dos meus pacientes. É preciso dizer que sou dentista e que nas horas vagas adoro ir ao Olhos D’Água. Esse é o paciente de quem mais gosto. As pessoas não imaginam quantas vezes médicos, dentistas e outros profissionais de saúde se apegam a quem lhes procura. Acho que estou apaixonada por ele. A primeira vez que chegou a meu consultório foi para uma breve consulta. Logo que o vi, pensei, faz tanto tempo não vejo homem tão atraente. Sou mais velha do que ele, seis anos. Nessas consultas acabamos por conversar assuntos que não deveríamos. Mas meu paciente me aparece no parque, de bermuda, camiseta e tênis. Depois segue em caminhada, acho que não me viu. Continuo deitada sobre uma toalha, na grama, na parte em que as pessoas param para tomar sol. Segredinho: estou de biquíni. Sou magra, pequena, mas tenho meu charme, sei que os homens adoram me apreciar. Mas esse meu paciente... Já encostei nele, toques sutis, demonstrações espontânea de afeto. Há quem diga que a relação sexual começa nesses ligeiros movimentos. Quero que ele me veja. Será o primeiro encontro fora do consultório. Poderemos conversar à vontade. Tenho uma amiga que diria o seguinte, “Deus me livre, dar de cara com um paciente, e eu de biquíni, morro de vergonha.” Comigo, porém, nada disso, não tenho o que temer. Ele já insinuou em me convidar para um café. Mas na hora agá recuou, pensou que minha profissão me exige muito. Eu, enfim, preciso descansar. Mal sabe ele de que realmente preciso. Perdida nesses pensamentos, eis que ele volta pelo mesmo caminho em que se foi. Preparo o melhor sorriso. Me vê, acena. Será que virá até aqui?

“Oi, doutora, que surpresa, tudo bem?

“Tudo ótimo.” Minha resposta inclui o lado bom do imprevisto. Acho que percebeu.

“Mais parecia que ia chover quando amanheceu.”

“Não, nada de chuva, o sol e outras coisas boas”, digo. “Fique um pouco. Está com pressa?”

“Não, nada de pressa, hoje não tenho o que fazer.”

“Que bom!, um dia e nada para fazer, não pode haver coisa melhor.”

“E você, vai ao consultório hoje?”

“Mais tarde, tenho dois pacientes depois das quatro.”

“Então, ainda há tempo.”

“Oh, há muito tempo.”

Senta-se ao meu lado.

“Importa-se?”

“Não, sua companhia é um prazer.”

Sorri. Acaba por se deitar.

Sem pensar – porque se a gente pensa não faz essas coisas – encosto no braço dele.

“Você está bronzeado, vem aqui todos os dias?”

“Quase todos.”

Aproxima-se mais um pouquinho. Acho que lembrou os meus sorrisos no consultório, nossas conversas... Um dia falamos tão intensamente sobre um filme, que quase chegou a me convidar para o cinema.

“Venha mais, vamos nos encontrar mais vezes, aqui é melhor para conversar”, dele a proposta.

“Venho, sim, mas isso não significa que você vai embora...”

“Não! Quero aproveitar para lhe falar uma coisa.”

“Então?”, arrisco.

“Arranjei uma namorada.”

“Namorada?” Não consigo ocultar a decepção.

“Não se preocupe, ela está exatamente ao meu lado.”

Rimos ambos, um sorriso envolvente, quase um abraço. E o meu corpo a crescer, e o biquíni a se estreitar...

Me respondam, vocês acham que eu ainda vou ao consultório, hoje? 

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