quinta-feira, novembro 29, 2012
Crônica
Preciso escrever a minha crônica diária e enviá-la ao jornal,
mas me aconteceu algo inesperado. Estou nua, sentada numa cadeira de ferro e trancada numa sala comercial. Para manter a elegância e não
demonstrar vergonha ou temor, cruzo as pernas, a direita sobre a esquerda, os
seios cobertos pela metade por um dos meus braços como uma correia em
meia diagonal. Vejo-me em tal situação por causa do namorado. Ele me quer sempre nua; além disso, me pede que eu represente. Tenho de fazer de conta que sou
a pessoa mais vestida do mundo, dessa vez no escritório de um amigo seu às cinco e meia da tarde, no centro do Rio, um prédio de vinte e tantos andares em que há muitas outras salas onde trabalham advogados, médicos, dentistas, contadores etc. Tirei a roupa e dei nas mãos de meu namorado. Pediu licença e
foi guardá-la numa outra sala, ou num outro escritório, não sei bem. Abriu a porta e saiu. Ouvi sua voz quando falou com alguém que transitava no corredor. Talvez tenha ido à rua comprar um maço de
cigarros. Aqui, no lado de dentro, apenas as paredes, também nuas, e a cadeira que me serve de
assento. Aguardo, aliás, espero. Espero que ele volte. Lá fora o sol se põe, as cores da tarde se dissolvem num azul que pouco a pouco avança e se torna cada vez mais negro. Tenho até às oito para enviar a crônica ao jornal. Hoje quero escrever sobre a viagem de Sandrinha ao mar Báltico. Onde, porém, o meu namorado? Encontrei-o ao acaso faz trinta minutos, no café da esquina da Rodrigo Silva. Gisele, vamos ao escritório de um
amigo, sugeriu. Aceitei. Quando entramos, a sala vazia, nada do amigo. Não demorei a perceber o que meu namorado queria. Mas, Valdo,
a essa hora?, estou trabalhando, eu disse. É pra já, não vai demorar
nada, insistiu ele. Ok, concordei e fui tirando a roupa. Ei, volte aqui, não me vai fazer perder o compromisso, alertei. E lá foi ele porta
afora. Se não volta? Se lhe acontece alguma coisa? Uma síncope, ou mesmo um
assalto. A cidade está tão violenta, plena de perigos. Vai que ele tenha sido
sequestrado... E eu tenho de escrever e mandar a minha crônica. Oh, ato falho, pois
não estou pensando nele nem nos perigos que corre, mas em mim, no meu emprego, na minha crônica. Amanhã vocês saberão o desfecho dessa história, depois de amanhã a viagem de Sandrinha. Ainda bem que existem os smartphones, ainda
bem que, com um deles, sempre se dá um jeito.
quarta-feira, novembro 21, 2012
Sempre se tem algum segredo
Estou num pequeno hotel, no centro de Macaé. Vim à cidade com a intenção de resolver um problema na sede local da Petrobras. Sempre quando retorno ao hotel, no fim da tarde, reparo a mulher que sai de uma escola próxima. Ela, muito atraente, corresponde ao meu olhar. No terceiro
dia, espero por ela. Como não calcula com a minha atitude, passa ao meu
lado quase de cabeça baixa.
“Por favor, não se assuste”, falo, “pensei que eu estivesse
agradando.”
Ela sorri; passamos então a caminhar lado a lado.
“Como você se chama?”, é minha a primeira pergunta.
“Sueli.” Desde o começo se mostra econômica nas palavras.
“Você é da cidade?”, tento manter o diálogo.
“Sim”, sorri mais uma vez e interrompe a caminhada.
“Então, aqui parece ser um bom lugar.”
Ela meneia a cabeça, seus cabelos são lisos e seu rosto
tem traços de raça índia.
“Cheguei faz dois dias, trabalho na Petrobrás.”
“Aqui?”, surpreende-me a pergunta.
“Não, no Rio, vim para um trabalho especial.”
Não sei se é apenas impressão, mas acho que sua
fisionomia apresenta alguma tristeza.
“Que tal irmos a algum lugar?”, sugiro.
“Hoje?”
“Isso, hoje. Que tal?”
“Hoje, não; quem sabe amanhã?”
Volto ao hotel e fico no apartamento vendo televisão.
Mais tarde tento telefonar para ela, mas a ligação cai várias vezes na caixa
postal.
Ao passar pelo mesmo local em que a vi no dia anterior, olho para a escola. Mas não vejo Sueli. Penso em entrar e perguntar por
ela, mas mal sei em que trabalha. Será ela professora? A escola parece atender às primeiras séries. Permaneço no local durante uns bons vinte minutos, mas nada de ela aparecer. Tiro o celular do bolso. Quando estou tentando seu número, vejo que lá adiante vem ela. Seus passos são rápidos, caminha na minha direção. Ao me alcançar para, me cumprimenta e espera que eu tome a iniciativa. Veste um vestido florido, mais curto do que o da véspera, traz sob um dos
braços uma bolsa cheia de papéis.
“Vamos?”, pergunto.
Faço sinal ao táxi que está parado junto a um
restaurante.
“Aonde vamos?”, pergunta.
“À orla marítima. Que tal comermos e bebermos alguma coisa?”
Nada responde. Interpreto seu silêncio como sinal de aprovação.
Entramos no táxi e o motorista dá a partida.
No bar escolhido por ela, podemos apreciar o mar. Está azul e calmo. Como ainda brilha o sol,
algumas pessoas andam pela areia, um ou outro se aventura ao banho de mar.
“Você costuma frequentar a praia?”, aponto com face de
contentamento.
“Só no verão.”
“Mas está tão quente, até parece verão.”
“Gosto de vir à praia quando estou de férias.”
“Quando você está sem preocupação, com a cabeça leve, não?”
“Isso mesmo.”
“Você vive sozinha?”, o garçom
chega com nossas bebidas.
“Tenho filhos, mas moro sozinha. Eles já são adultos.”
Brindamos. Tomo um longo gole do meu chope. Ela antes admira o seu copo cheio; depois, com suavidade, toma um gole.
“Você é professora daquela escola?”
“Sim.”
“É bom ser professora?”
“É melhor namorar”, pela primeira vez abre um largo
sorriso. Reparo em seu rosto um certo ar provinciano, que lhe acentua a beleza.
“Você gosta de namorar, então?”
“E quem não gosta?”
O bar tem alguma frequência àquela hora, ela tenta descobrir alguém conhecido.
“Você vem sempre aqui?”, continuo meu interrogatório.
“Vinha quando tive um namorado.”
“E ele se foi.”
“Mais ou menos.”
“Agora, você procura outro”, afirmo em tom de pergunta.
“Mais ou menos.”
“Como se pode ter um namorado mais ou menos?”, termino a
frase em tom de deboche.
“Podemos, sim.”
“Já sei, alguém que é e não é namorado ao mesmo tempo”,
defino a questão.
“Você é inteligente”, ri, “por isso trabalha na Petrobras.”
“Vou dizer a você algo importante: trabalhar na Petrobras não é
tão difícil. O mais difícil hoje é arranjar uma namorada.”
Seu rosto se ilumina mais uma vez.
“Para os homens é mais fácil do que para as mulheres”, diz.
“Você é mulher e parece ter sorte.”
“Tenho sim, sempre aparece alguém.”
O garçom chega com um petisco. Coloca o prato diante de
nós e deseja bom apetite. Ela me olha, não quer ser a primeira a beliscar.
“Você tem jeito de que é misteriosa. Acho que tem muitos
segredos.”
“Sempre se tem algum segredo. Você também deve ter um”, afirma.
“Eu, um segredo?”
“Tem, sim. Mas fique tranquilo, não precisa me contar.”
“Mas eu gosto de saber segredos. Você me conta o seu?”,
pergunto meio indolente.
“É segredo, não posso contar.”
“Se você conta só pra um e este não leva adiante, continua
segredo.”
“Verdade. Você promete guardar?”
“Prometo.”
“Promete guardar e não tirar proveito?”
“Guardo, sim; mas não tirar proveito não faz parte do segredo”,
falo e depois caímos os dois numa gostosa gargalhada. O garçom traz outro
chope para mim, ela diz que tudo está muito gostoso.
“Ok, vou contar o meu segredo. Mas antes observe como
está lindo o anoitecer, não é mesmo?”
“Sim, está. Mas o segredo....”
“Escute, então. Esta cidade não é grande nem pequena, você
concorda?”, espera a minha resposta para continuar.
“Concordo.”
“Quem vive aqui, conhece muita gente. Todo lugar aonde se
vai se encontra um colega, ou mesmo um amigo.”
“Sim”, me mantenho interessado.
“Num lugar assim, já tive dois namorados, ao mesmo tempo, é
claro.”
“Este é o seu segredo?”
Ela bebe um gole do chope, pousa o copo sobre a mesa e
olha em volta.
“Aqui mesmo, já vi três pessoas conhecidas.”
“Já que você é tão namoradeira, não quer ter o terceiro
namorado?”
Ela sorri. “Terceiro, não; agora só tenho paqueras; caso
arranje algum, vou ter apenas um.”
Ficamos no jogo de palavras. Eu galanteando a morena, e ela
cheia de dengo.
“O que você ensina pras suas crianças?”
“Muitas coisas.”
“Eles parecem muito pequenos.”
“São, sim. É uma turma de alfabetização.”
“E os pais, não reclamam de seus filhos terem uma professora
namoradeira?”
“Ah, não. Acho que nem sabem. Além disso, pais e mães também
namoram muito, e nem sempre um com o outro. Nessa cidade todos namoram, mesmo
os casados e as casadas. Sei cada história de arrepiar. As mulheres que têm
cara de santinhas são as piores”, seu sorriso cora mais uma vez a sua face.
Já é noite quando deixamos o restaurante. Faço de tudo para
levá-la ao meu hotel, ou mesmo a outro qualquer, mas ela não aceita.
“Não posso ir para hotel algum aqui, quase todos me
conhecem, tenho ex-alunos trabalhando em vários lugares, onde menos espero
aparece um. Se vou pra um hotel com você, amanhã estou na boca do mundo.”
“Como vocês fazem pra namorar por aqui?”
“Precisa ser em hotel de alguma cidade próxima, e mesmo
assim você deve me dizer antes a que hotel vai me levar.”
“Você quer dizer que não podemos dar uma namoradinha...”
“Não é isso, até podemos namorar, passar algumas horas
juntos, mas não em hotel.”
“Onde, então?”
Estamos dentro do carro, ainda na orla marítima.
“Tenho mais um segredo pra contar a você”, ela fala.
“Mais um?”
“Quer saber?”
“Conte, por favor.”
“Tive um namorado que adorava que eu fosse nua à praia, de
noite.”
“Totalmente nua?
“Eu usava uma saída de praia, dessas bem justinhas e curtas,
apenas isso.”
“E como vocês faziam?”
“Íamos pra um recanto de praia que ele descobriu, perto da
lagoa, é bem escuro, ninguém podia nos ver.”
“Você não acha isso mais perigoso do que ir a um hotel?”
“Não. Escute mais. Eu deixava o vestidinho no carro e corria com ele pela areia. Lógico que somente eu ficava nua. Tomava até banho de mar noturno. Você não imagina como é gostoso.”
“Ok, vamos fazer assim, então.”
“Você precisa arranjar um carro.”
“Arranjo.”
“Amanhã, então, a gente se encontra de novo.”
“Onde?”, pergunto. Meu coração se acelera por causa
do relato.
“Você me pega em casa?”
“Pego.”
“Então vou escrever o endereço. Ok, não perca. Você não imagina como as mulheres gostam de andar nuas.”
“Imagino, sim. Pego você às sete, tá?”
Sueli entra no carro com o vestidinho justo sobre o qual
falou no restaurante. Como as pessoas são imprevisíveis, penso, uma mulher
com jeito de equilibrada, uma professora da prefeitura com alunos e ex-alunos
por toda parte, mas que sente prazer em andar nua pela cidade.
“Nua pela cidade, não, apenas na praia”, diz como se tivesse ouvido meus pensamentos.
“Você vai entrar na água?”, pergunto quando já caminhamos
na areia.
“Depende, se a água do mar não estiver muito fria... ”
“Você não tem medo de encontrar alguém, você com essa roupa
curta...”
“Você não está gostando?”
“Estou adorando, mas você disse que conhece muita gente.”
“Não vai aparecer ninguém, não; venha, me abrace", a seguir se despe e pede que eu guarde sua saidinha de praia no carro.
Será que preciso contar o desfecho dessa história?
Sueli se mostra uma mulher quentíssima,
transborda prazer, geme bastante e dá a impressão de que goza várias vezes. Trepamos pela primeira vez
logo que chegamos. Quando acabamos, ela vai até a beira d’água, espera que as espumas toquem seus pés, olha para mim e ri. Depois corre e mergulha de cabeça. Após alguns minutos, sai da água e vem ao meu encontro. Me abraça e me beija. Trepamos mais uma vez. A água do mar a torna mais delirante. No
final, sempre nua, caminha para o mar. Dessa vez, anda lentamente e espera que a água lhe invada o corpo, depois se abaixa e fica apenas com a
cabeça de fora.
Não digo a ela que também tenho o meu segredo. Na verdade, toda mulher gosta de homens um
pouquinho tarados. Muitas, por causa disso, vão além do arrepio. Também gosto
de mulheres nuas ao meu lado em lugares abertos, assim como o seu ex-namoradinho gostava, mas dou um passo à frente (ou um passo para igualá-lo, vá la saber). Depois de transar com Sueli duas vezes, sinto vontade de me esconder enquanto ela se banha, fazer de conta que fui embora. Quero observar a sua reação.
Mas eis ela a correr de novo, a se chegar junto a mim, a colocar os braços em volta do meu pescoço, a me beijar...
"Tenho outro segredo pra te revelar", diz.
"Já sei. Seu namoradinho fugiu e deixou você peladinha aqui na praia", arrisco.
"Isso mesmo. Mas tem mais uma coisa.
"O quê?"
"O que aconteceu depois; você não quer saber?"
"Claro, estou ansioso. Conte, por favor."
"Conto amanhã", sorri, "ou depois de amanhã", puxa-me pelo pescoço, "ou quem sabe qualquer dia desses", mais um beijo, e sempre o sorriso luminoso, astro prateado a completar o risco incerto da lua sobre a maré alta.
Mas eis ela a correr de novo, a se chegar junto a mim, a colocar os braços em volta do meu pescoço, a me beijar...
"Tenho outro segredo pra te revelar", diz.
"Já sei. Seu namoradinho fugiu e deixou você peladinha aqui na praia", arrisco.
"Isso mesmo. Mas tem mais uma coisa.
"O quê?"
"O que aconteceu depois; você não quer saber?"
"Claro, estou ansioso. Conte, por favor."
"Conto amanhã", sorri, "ou depois de amanhã", puxa-me pelo pescoço, "ou quem sabe qualquer dia desses", mais um beijo, e sempre o sorriso luminoso, astro prateado a completar o risco incerto da lua sobre a maré alta.
quinta-feira, novembro 15, 2012
O que eu queria mesmo?
Súbita ereção! E num momento impróprio. Para um homem, algo
muito natural. Mas para uma travesti, nada mais terrível. Por que não me
submeto à cirurgia? Não posso privar os homens daquilo que eles mais gostam.
Além disso, há outra coisa. Por ser travesti, faço mais sucesso do que a
maioria das mulheres. Vamos, porém, à inesperada ereção.
Sempre fui muito controlada. Posso usar roupa curtíssima, o
vestido mais ousado. Ou mesmo sair quase nua, apenas a sainha. Nada por baixo.
Mantenho-me cool. Eles se aproximam, tocam-me, querem mexer no meu
pinto. Ficam doidinhos. Algo, então, me percorre o corpo por dentro, um tipo
diferente de calor. Porém, sou toda comando. Tudo acontece como se eu tivesse a pele sob toalha molhada
em água fria. Mas ontem...
Foi numa boate. Aqui em Barcelona as coisas fervem. Eu
dançava num canto, sozinha, um show de bolso, particular. Então... Então surgiu
ele.
Melhor dizer, nunca o tinha visto. Cabelos pretos, curtos,
olhos maliciosos, gravata rubra. Subiu-me a quentura, senti um espasmo.
Depois... Depois a incontrolável ereção! E a saia tão curtinha. Dei as costas. Veio ele. Senti suas mãos subindo minhas coxas, levantando-me a roupa...
“Não, por favor”, deixei escapar.
“Você está quente”, sua voz de barítono.
“Se fosse só isso”, suspirei envergonhada.
“O que mais?”
“Quer saber mesmo?”
“Já percebi.”
“Gostas?”, murmurei.
“Por que não?”
“Nunca aconteceu.”
“Verdade?”
“Durinho assim, não.”
“Sempre há a primeira vez.”
“O que faço, agora?”
“Permita-me ajudá-la.”
“Mas segurando nele? Assim é que não volta ao tamanho original.”
“Vamos experimentar, tudo depende da qualidade da mão.”
Começamos um jogo. No início eu ia inibida, mas pouco a pouco me fui soltando. Meu pênis, cada vez maior, cada vez mais rijo. O homem abaixou-se, colocou o rosto pertinho. Continuou, porém, todas as manobras. Naquele momento, senti-me inteiramente nua, toda arrepiada. Quando pensei que estava em lugar público, cheguei a ter outro espasmo, agora de terror. Uma mulher nua, vá lá; mas uma do meu tipo, onde guardar tamanha preciosidade?
“Não se preocupe, tudo vai ficar bem, e você ainda mais sarada”, acho que lia meus pensamentos.
“Sarada? Como assim?”, eu não perguntava, gemia.
“Não vai querer outra vida”, ele quase a beijar o meu pinto.
Em meio à música alta, cheguei a gritar:
“Nunca gozei pela frente.”
Então, mergulhou o meu dote na sua boca macia e quente. Em frações de segundo eu pisava o fio da navalha, e pisava descalça.
“Você é uma pena, deixe o vento levá-la às alturas”, ele me adivinhava.
Seu sussurro me fez ganhar altitude, me ascendeu a céu jamais alcançado por qualquer aventureiro. Planei incólume durante vários minutos, os cabelos soltos, a pele sensível à variada temperatura, do sopro matinal que produz arrepios ao suor provocado pelo sol a pino. De repente, meus setenta e dois quilos, meu metro e setenta e oito, enfim, todo o meu corpo iniciou uma curva vertiginosa. Era a lei da gravidade, o anúncio da queda, o tombo... Não, aquilo não era o tombo, era a febre, uma febre seguida de explosão que me transformou em milhões de partículas prateadas. Faltou pouco para eu lhe derramar goela abaixo toda a minha alma. Não posso contar mais. O gozo não é feito de palavras. Eu estava tortinha, transpirava.
Depois do prazer inesperado, o que eu queria mesmo? Ah, sim, que voltasse ao tamanho original!
Começamos um jogo. No início eu ia inibida, mas pouco a pouco me fui soltando. Meu pênis, cada vez maior, cada vez mais rijo. O homem abaixou-se, colocou o rosto pertinho. Continuou, porém, todas as manobras. Naquele momento, senti-me inteiramente nua, toda arrepiada. Quando pensei que estava em lugar público, cheguei a ter outro espasmo, agora de terror. Uma mulher nua, vá lá; mas uma do meu tipo, onde guardar tamanha preciosidade?
“Não se preocupe, tudo vai ficar bem, e você ainda mais sarada”, acho que lia meus pensamentos.
“Sarada? Como assim?”, eu não perguntava, gemia.
“Não vai querer outra vida”, ele quase a beijar o meu pinto.
Em meio à música alta, cheguei a gritar:
“Nunca gozei pela frente.”
Então, mergulhou o meu dote na sua boca macia e quente. Em frações de segundo eu pisava o fio da navalha, e pisava descalça.
“Você é uma pena, deixe o vento levá-la às alturas”, ele me adivinhava.
Seu sussurro me fez ganhar altitude, me ascendeu a céu jamais alcançado por qualquer aventureiro. Planei incólume durante vários minutos, os cabelos soltos, a pele sensível à variada temperatura, do sopro matinal que produz arrepios ao suor provocado pelo sol a pino. De repente, meus setenta e dois quilos, meu metro e setenta e oito, enfim, todo o meu corpo iniciou uma curva vertiginosa. Era a lei da gravidade, o anúncio da queda, o tombo... Não, aquilo não era o tombo, era a febre, uma febre seguida de explosão que me transformou em milhões de partículas prateadas. Faltou pouco para eu lhe derramar goela abaixo toda a minha alma. Não posso contar mais. O gozo não é feito de palavras. Eu estava tortinha, transpirava.
Depois do prazer inesperado, o que eu queria mesmo? Ah, sim, que voltasse ao tamanho original!
quinta-feira, novembro 08, 2012
Você veio de maiô?
Eu queria mesmo era aproveitar a noite. E, como estava
calor, sugeri a meu namorado: “que tal um banho de mar?” Ele apenas falou: “vinda de você, a proposta não me surpreende".
Sempre gostei de tomar banho de mar. À noite, então, nem se fala, me faz ficar toda arrepiada. Posso entrar nua no mar.
Descemos à areia no Remanso. Ele deixou o carro perto de um quiosque, havia algumas pessoas tomando cerveja e conversando. Peguei meu namorado pelo braço e fizemos o caminho inverso. Não queria ninguém nos vendo entrar pelo escurinho da praia.
Quando chegamos à beira, ele perguntou: “você veio de maiô?”
Sorri para ele, dei-lhe um beijo sobre uma das bochechas, levantei o vestido e o tirei pela cabeça. Pedi que o segurasse, corri, mas antes de entrar na água voltei e lhe entreguei também a calcinha. Achei melhor ir nua, minha fantasia predileta. E tão poucas vezes realizada.
Mergulhei. As pessoas de modo geral temem o mar à noite, acho que por causa da escuridão, ou mesmo porque pensam que podem ser atacadas por algum peixe maior. Mas não tenho esse temor. Os peixes se afastam quando sentem as pessoas próximas. Cortei várias ondas, o mar estava bravio. Cheguei a nadar até após a primeira arrebentação. Fiquei a flutuar naquele pedaço de mar. Sempre que alguma onda se levantava, eu me abaixava ou a cortava. Havia correnteza em direção ao oceano, sabia que para voltar precisaria esperar um pouco e contornar pelo lado esquerdo de onde eu estava. Embora a situação não fosse fácil – a água gelava-me todo o corpo –, a sensação era muito prazerosa. Meu corpo inteiramente nu furando as ondas era quase um gozo. O que me preocupou a partir de certo momento não foi o fato de o mar estar batendo ou de eu estar tomando banho de mar nua, mas o pressentimento de meu namorado, por não me poder ver, pensar que eu estivesse em dificuldades. Isso poderia levá-lo a dar o alarme. Então, algumas pessoas viriam me procurar. Comecei achar melhor voltar à praia. Como não conseguia nadar em linha reta devido à corrente, fiz um contorno que me custou uns quinze minutos. Ao ver que poderia chegar à areia, dei mais algumas braçadas e peguei uma onda, surf de peito. As pessoas não sabem como é gostoso praticar esse tipo de esporte, tanto mais pelada. Outro gozo. Quando senti meus pés tocarem o fundo, caminhei e saí d’água. Mas... Cadê meu namorado?
O local estava escuro, era possível perceber o pessoal no quiosque, lá longe, mas sobre as areias não havia ninguém. Agachei à espera. O vento frio me fustigava a pele. Como dentro d’água a sensação era de uma temperatura mais amena, tive vontade de voltar ao mar. Porém avistei alguém correndo em minha direção. No começo, temi. Quem sabe um desconhecido? As batidas de meu coração se aceleraram. O homem abraçou-me não se importando com o meu corpo molhado, beijou minha boca e depois falou: "sua fantasia é tomar banho de mar nua, a minha é transar com você nas areias da praia".
Deitou-me e subiu sobre o meu corpo. Depois de gozar duas vezes dentro d’água, quem iria negar que não era o momento? E, agora, com alguém dentro de mim.
"Tenho também minhas fantasias", sussurrou, "e uma delas sempre foi encontrar uma mulher nua na praia. Vou levar você pra minha casa", beijou-me e concluiu: "peladinha."
Sempre gostei de tomar banho de mar. À noite, então, nem se fala, me faz ficar toda arrepiada. Posso entrar nua no mar.
Descemos à areia no Remanso. Ele deixou o carro perto de um quiosque, havia algumas pessoas tomando cerveja e conversando. Peguei meu namorado pelo braço e fizemos o caminho inverso. Não queria ninguém nos vendo entrar pelo escurinho da praia.
Quando chegamos à beira, ele perguntou: “você veio de maiô?”
Sorri para ele, dei-lhe um beijo sobre uma das bochechas, levantei o vestido e o tirei pela cabeça. Pedi que o segurasse, corri, mas antes de entrar na água voltei e lhe entreguei também a calcinha. Achei melhor ir nua, minha fantasia predileta. E tão poucas vezes realizada.
Mergulhei. As pessoas de modo geral temem o mar à noite, acho que por causa da escuridão, ou mesmo porque pensam que podem ser atacadas por algum peixe maior. Mas não tenho esse temor. Os peixes se afastam quando sentem as pessoas próximas. Cortei várias ondas, o mar estava bravio. Cheguei a nadar até após a primeira arrebentação. Fiquei a flutuar naquele pedaço de mar. Sempre que alguma onda se levantava, eu me abaixava ou a cortava. Havia correnteza em direção ao oceano, sabia que para voltar precisaria esperar um pouco e contornar pelo lado esquerdo de onde eu estava. Embora a situação não fosse fácil – a água gelava-me todo o corpo –, a sensação era muito prazerosa. Meu corpo inteiramente nu furando as ondas era quase um gozo. O que me preocupou a partir de certo momento não foi o fato de o mar estar batendo ou de eu estar tomando banho de mar nua, mas o pressentimento de meu namorado, por não me poder ver, pensar que eu estivesse em dificuldades. Isso poderia levá-lo a dar o alarme. Então, algumas pessoas viriam me procurar. Comecei achar melhor voltar à praia. Como não conseguia nadar em linha reta devido à corrente, fiz um contorno que me custou uns quinze minutos. Ao ver que poderia chegar à areia, dei mais algumas braçadas e peguei uma onda, surf de peito. As pessoas não sabem como é gostoso praticar esse tipo de esporte, tanto mais pelada. Outro gozo. Quando senti meus pés tocarem o fundo, caminhei e saí d’água. Mas... Cadê meu namorado?
O local estava escuro, era possível perceber o pessoal no quiosque, lá longe, mas sobre as areias não havia ninguém. Agachei à espera. O vento frio me fustigava a pele. Como dentro d’água a sensação era de uma temperatura mais amena, tive vontade de voltar ao mar. Porém avistei alguém correndo em minha direção. No começo, temi. Quem sabe um desconhecido? As batidas de meu coração se aceleraram. O homem abraçou-me não se importando com o meu corpo molhado, beijou minha boca e depois falou: "sua fantasia é tomar banho de mar nua, a minha é transar com você nas areias da praia".
Deitou-me e subiu sobre o meu corpo. Depois de gozar duas vezes dentro d’água, quem iria negar que não era o momento? E, agora, com alguém dentro de mim.
"Tenho também minhas fantasias", sussurrou, "e uma delas sempre foi encontrar uma mulher nua na praia. Vou levar você pra minha casa", beijou-me e concluiu: "peladinha."
sábado, novembro 03, 2012
E acho que até não vai ser mal
Comecei a percorrer os lugares de que Mariana me falara.
“O importante não são apenas as praias, as montanhas, a estrada deserta, mas o que ele me pedia”, contou-me.
Quando tocou no assunto pela primeira vez, fiquei
impressionada. Mas, depois, comecei a sentir curiosidade sobre tudo que me
dizia.
“Você não teme que lhe possa acontecer algo de ruim?”,
perguntei.
“O risco é que faz as coisas ter graça”, falou, e sua face
se iluminou num sorriso brando.
Dirigi primeiro até a Praia da Joana. Faltava pouco para o
sol se pôr. O mar estava liso, apenas vez ou outra alguma espuma deslizava,
um véu de noiva que se alongava frágil. Não havia pessoa alguma no local. Era
possível sentir a umidade e o sal presentes no ar. Descobri um
quiosque distante; a janela, aberta, porém não vi ninguém. Imaginei como seria andar
nua sobre aquela areia fina e depois esconder-me dentro d’água, exatamente como lhe pedira o namorado. Imaginei-me a correr nua, sem destino. Mas primeiro eu
tinha de arranjar alguém que me pedisse tal ato. Onde eu guardaria o biquíni?
Seria melhor deixá-lo nas mãos do homem. Será que iria embora e me abandonaria
nua na praia? Arrepiei-me. Acho que por causa do vento, acho que por causa do
desejo. Os homens de verdade não fazem essas coisas, preferem trepar com as
mulheres e despejar nelas todo o ardor.
Certa vez perguntei à Mariana: “por que me conta essas
coisas tão íntimas?”
“Você tem razão, não devia contar a ninguém.”
Dias depois subi a estrada da Bicuda Grande. Parei no local
exato sobre o qual ela me falara. Ultrapassadas algumas curvas, a partir do pequeno
povoado, há uma enorme e solitária árvore. Após a ela, contam-se dois pequenos
morros. Parei o carro e descobri o riacho que passa pelo local. Suas águas são
cristalinas. Saí e molhei os pés. Tive vontade também de ficar nua. Mas não
tinha ninguém para me pedir a nudez. Sozinha, achei que não teria graça. Caminhei
um pouco mais. Encontrei então o biquíni de Mariana. Bandida, além de ficar nua
deixou o biquíni como prova de que não mentia. Estava enroscado num pequeno
galho. Era minúsculo, não se podia negar que não fosse seu. No dia em que o
deixara ali, os dois treparam quase todo o tempo na margem mais alta;
depois ele pediu que ela abandonasse o biquíni. “Eduardo, não posso ir à praia
amanhã, pois não tenho outro.” “Não faz mal, amor, vamos primeiro ao shopping,
pode escolher o biquíni mais caro.”
“Faltou contar da estrada”, disse-me ontem.
“Estrada?”, fingi surpresa.
“Foi emocionante. Nuazinha à beira da estrada. E esperando
por ele.”
“Já imaginei o que aconteceu.”
“Uma encenação. O homem vem só no carro e encontra uma
mulher nua, que lhe pede ajuda. Ela entra. Só Deus sabe onde ele vai deixá-la.
Caso tenha bom caráter, arranja-lhe uma roupa e leva-a a casa. Mas a maioria
vai querer comê-la primeiro. Outra surpresa: a mulher é que deseja comê-lo; depois pede que a mande sair do automóvel, ainda nua. ‘Como você vai fazer?’,
ele pergunta. ‘Isso é assunto meu’, ela, altiva.”
Mariana terminou o relato dizendo que nunca viveu situação
tão excitante.
“Seu namorado é demais”, falei, “quem dera arranjar um
parecido.”
“Tente você agora. Terminamos o namoro ontem.”
“Não acredito.”
“Verdade.”
Acho que é mentira. Mas como sempre foi minha amiga, fiz que
acreditei.
Agora falta encontrar com ele. Tenho, no entanto, de me comportar. Não posso
deixar que perceba que sei dessas histórias. Caso eu fracasse na representação,
acho que vai querer que eu vá nua a seu encontro, a única coisa que minha amiga não fez.
Às vezes me arrependo de ter ouvido os relatos de Mariana.
Às vezes me arrependo de ter sido sua amiga. Não sei onde isso pode acabar.
Mas, num rompante, acabo por falar a mim mesma: deixa de ser
boba, Dora, o máximo que pode acontecer é você terminar nua num canto desses. E
acho que até não vai ser mal!
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