quinta-feira, novembro 15, 2012

O que eu queria mesmo?

Súbita ereção! E num momento impróprio. Para um homem, algo muito natural. Mas para uma travesti, nada mais terrível. Por que não me submeto à cirurgia? Não posso privar os homens daquilo que eles mais gostam. Além disso, há outra coisa. Por ser travesti, faço mais sucesso do que a maioria das mulheres. Vamos, porém, à inesperada ereção.

Sempre fui muito controlada. Posso usar roupa curtíssima, o vestido mais ousado. Ou mesmo sair quase nua, apenas a sainha. Nada por baixo. Mantenho-me cool. Eles se aproximam, tocam-me, querem mexer no meu pinto. Ficam doidinhos. Algo, então, me percorre o corpo por dentro, um tipo diferente de calor. Porém, sou toda comando. Tudo acontece como se eu tivesse a pele sob toalha molhada em água fria. Mas ontem...

Foi numa boate. Aqui em Barcelona as coisas fervem. Eu dançava num canto, sozinha, um show de bolso, particular. Então... Então surgiu ele.

Melhor dizer, nunca o tinha visto. Cabelos pretos, curtos, olhos maliciosos, gravata rubra. Subiu-me a quentura, senti um espasmo. Depois... Depois a incontrolável ereção! E a saia tão curtinha. Dei as costas. Veio ele. Senti suas mãos subindo minhas coxas, levantando-me a roupa...

“Não, por favor”, deixei escapar.

“Você está quente”, sua voz de barítono.

“Se fosse só isso”, suspirei envergonhada.

“O que mais?”

“Quer saber mesmo?”

“Já percebi.”

“Gostas?”, murmurei.

“Por que não?”

“Nunca aconteceu.”

“Verdade?”

“Durinho assim, não.”

“Sempre há a primeira vez.”

“O que faço, agora?”

“Permita-me ajudá-la.”

“Mas segurando nele? Assim é que não volta ao tamanho original.”

“Vamos experimentar, tudo depende da qualidade da mão.”

Começamos um jogo. No início eu ia inibida, mas pouco a pouco me fui soltando. Meu pênis, cada vez maior, cada vez mais rijo. O homem abaixou-se, colocou o rosto pertinho. Continuou, porém, todas as manobras. Naquele momento, senti-me inteiramente nua, toda arrepiada. Quando pensei que estava em lugar público, cheguei a ter outro espasmo, agora de terror. Uma mulher nua, vá lá; mas uma do meu tipo, onde guardar tamanha preciosidade?

“Não se preocupe, tudo vai ficar bem, e você ainda mais sarada”, acho que lia meus pensamentos.

“Sarada? Como assim?”, eu não perguntava, gemia.

“Não vai querer outra vida”, ele quase a beijar o meu pinto.

Em meio à música alta, cheguei a gritar:

“Nunca gozei pela frente.”

Então, mergulhou o meu dote na sua boca macia e quente. Em frações de segundo eu pisava o fio da navalha, e pisava descalça.

“Você é uma pena, deixe o vento levá-la às alturas”, ele me adivinhava.

Seu sussurro me fez ganhar altitude, me ascendeu a céu jamais alcançado por qualquer aventureiro. Planei incólume durante vários minutos, os cabelos soltos, a pele sensível à variada temperatura, do sopro matinal que produz arrepios ao suor provocado pelo sol a pino. De repente, meus setenta e dois quilos, meu metro e setenta e oito, enfim, todo o meu corpo iniciou uma curva vertiginosa. Era a lei da gravidade, o anúncio da queda, o tombo... Não, aquilo não era o tombo, era a febre, uma febre seguida de explosão que me transformou em milhões de partículas prateadas. Faltou pouco para eu lhe derramar goela abaixo toda a minha alma. Não posso contar mais. O gozo não é feito de palavras. Eu estava tortinha, transpirava.

Depois do prazer inesperado, o que eu queria mesmo? Ah, sim, que voltasse ao tamanho original!

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