sábado, novembro 03, 2012

E acho que até não vai ser mal

Comecei a percorrer os lugares de que Mariana me falara.

“O importante não são apenas as praias, as montanhas, a estrada deserta, mas o que ele me pedia”, contou-me.

Quando tocou no assunto pela primeira vez, fiquei impressionada. Mas, depois, comecei a sentir curiosidade sobre tudo que me dizia.

“Você não teme que lhe possa acontecer algo de ruim?”, perguntei.

“O risco é que faz as coisas ter graça”, falou, e sua face se iluminou num sorriso brando.

Dirigi primeiro até a Praia da Joana. Faltava pouco para o sol se pôr. O mar estava liso, apenas vez ou outra alguma espuma deslizava, um véu de noiva que se alongava frágil. Não havia pessoa alguma no local. Era possível sentir a umidade e o sal presentes no ar. Descobri um quiosque distante; a janela, aberta, porém não vi ninguém. Imaginei como seria andar nua sobre aquela areia fina e depois esconder-me dentro d’água, exatamente como lhe pedira o namorado. Imaginei-me a correr nua, sem destino. Mas primeiro eu tinha de arranjar alguém que me pedisse tal ato. Onde eu guardaria o biquíni? Seria melhor deixá-lo nas mãos do homem. Será que iria embora e me abandonaria nua na praia? Arrepiei-me. Acho que por causa do vento, acho que por causa do desejo. Os homens de verdade não fazem essas coisas, preferem trepar com as mulheres e despejar nelas todo o ardor.

Certa vez perguntei à Mariana: “por que me conta essas coisas tão íntimas?”

“Você tem razão, não devia contar a ninguém.”

Dias depois subi a estrada da Bicuda Grande. Parei no local exato sobre o qual ela me falara. Ultrapassadas algumas curvas, a partir do pequeno povoado, há uma enorme e solitária árvore. Após a ela, contam-se dois pequenos morros. Parei o carro e descobri o riacho que passa pelo local. Suas águas são cristalinas. Saí e molhei os pés. Tive vontade também de ficar nua. Mas não tinha ninguém para me pedir a nudez. Sozinha, achei que não teria graça. Caminhei um pouco mais. Encontrei então o biquíni de Mariana. Bandida, além de ficar nua deixou o biquíni como prova de que não mentia. Estava enroscado num pequeno galho. Era minúsculo, não se podia negar que não fosse seu. No dia em que o deixara ali, os dois treparam quase todo o tempo na margem mais alta; depois ele pediu que ela abandonasse o biquíni. “Eduardo, não posso ir à praia amanhã, pois não tenho outro.” “Não faz mal, amor, vamos primeiro ao shopping, pode escolher o biquíni mais caro.”

“Faltou contar da estrada”, disse-me ontem.

“Estrada?”, fingi surpresa.

“Foi emocionante. Nuazinha à beira da estrada. E esperando por ele.”

“Já imaginei o que aconteceu.”

“Uma encenação. O homem vem só no carro e encontra uma mulher nua, que lhe pede ajuda. Ela entra. Só Deus sabe onde ele vai deixá-la. Caso tenha bom caráter, arranja-lhe uma roupa e leva-a a casa. Mas a maioria vai querer comê-la primeiro. Outra surpresa: a mulher é que deseja comê-lo; depois pede que a mande sair do automóvel, ainda nua. ‘Como você vai fazer?’, ele pergunta. ‘Isso é assunto meu’, ela, altiva.”

Mariana terminou o relato dizendo que nunca viveu situação tão excitante.

“Seu namorado é demais”, falei, “quem dera arranjar um parecido.”

“Tente você agora. Terminamos o namoro ontem.”

“Não acredito.”

“Verdade.”

Acho que é mentira. Mas como sempre foi minha amiga, fiz que acreditei.

Agora falta encontrar com ele. Tenho, no entanto, de me comportar. Não posso deixar que perceba que sei dessas histórias. Caso eu fracasse na representação, acho que vai querer que eu vá nua a seu encontro, a única coisa que minha amiga não fez.

Às vezes me arrependo de ter ouvido os relatos de Mariana. Às vezes me arrependo de ter sido sua amiga. Não sei onde isso pode acabar.

Mas, num rompante, acabo por falar a mim mesma: deixa de ser boba, Dora, o máximo que pode acontecer é você terminar nua num canto desses. E acho que até não vai ser mal!

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