“O importante não são apenas as praias, as montanhas, a estrada deserta, mas o que ele me pedia”, contou-me.
Quando tocou no assunto pela primeira vez, fiquei
impressionada. Mas, depois, comecei a sentir curiosidade sobre tudo que me
dizia.
“Você não teme que lhe possa acontecer algo de ruim?”,
perguntei.
“O risco é que faz as coisas ter graça”, falou, e sua face
se iluminou num sorriso brando.
Dirigi primeiro até a Praia da Joana. Faltava pouco para o
sol se pôr. O mar estava liso, apenas vez ou outra alguma espuma deslizava,
um véu de noiva que se alongava frágil. Não havia pessoa alguma no local. Era
possível sentir a umidade e o sal presentes no ar. Descobri um
quiosque distante; a janela, aberta, porém não vi ninguém. Imaginei como seria andar
nua sobre aquela areia fina e depois esconder-me dentro d’água, exatamente como lhe pedira o namorado. Imaginei-me a correr nua, sem destino. Mas primeiro eu
tinha de arranjar alguém que me pedisse tal ato. Onde eu guardaria o biquíni?
Seria melhor deixá-lo nas mãos do homem. Será que iria embora e me abandonaria
nua na praia? Arrepiei-me. Acho que por causa do vento, acho que por causa do
desejo. Os homens de verdade não fazem essas coisas, preferem trepar com as
mulheres e despejar nelas todo o ardor.
Certa vez perguntei à Mariana: “por que me conta essas
coisas tão íntimas?”
“Você tem razão, não devia contar a ninguém.”
Dias depois subi a estrada da Bicuda Grande. Parei no local
exato sobre o qual ela me falara. Ultrapassadas algumas curvas, a partir do pequeno
povoado, há uma enorme e solitária árvore. Após a ela, contam-se dois pequenos
morros. Parei o carro e descobri o riacho que passa pelo local. Suas águas são
cristalinas. Saí e molhei os pés. Tive vontade também de ficar nua. Mas não
tinha ninguém para me pedir a nudez. Sozinha, achei que não teria graça. Caminhei
um pouco mais. Encontrei então o biquíni de Mariana. Bandida, além de ficar nua
deixou o biquíni como prova de que não mentia. Estava enroscado num pequeno
galho. Era minúsculo, não se podia negar que não fosse seu. No dia em que o
deixara ali, os dois treparam quase todo o tempo na margem mais alta;
depois ele pediu que ela abandonasse o biquíni. “Eduardo, não posso ir à praia
amanhã, pois não tenho outro.” “Não faz mal, amor, vamos primeiro ao shopping,
pode escolher o biquíni mais caro.”
“Faltou contar da estrada”, disse-me ontem.
“Estrada?”, fingi surpresa.
“Foi emocionante. Nuazinha à beira da estrada. E esperando
por ele.”
“Já imaginei o que aconteceu.”
“Uma encenação. O homem vem só no carro e encontra uma
mulher nua, que lhe pede ajuda. Ela entra. Só Deus sabe onde ele vai deixá-la.
Caso tenha bom caráter, arranja-lhe uma roupa e leva-a a casa. Mas a maioria
vai querer comê-la primeiro. Outra surpresa: a mulher é que deseja comê-lo; depois pede que a mande sair do automóvel, ainda nua. ‘Como você vai fazer?’,
ele pergunta. ‘Isso é assunto meu’, ela, altiva.”
Mariana terminou o relato dizendo que nunca viveu situação
tão excitante.
“Seu namorado é demais”, falei, “quem dera arranjar um
parecido.”
“Tente você agora. Terminamos o namoro ontem.”
“Não acredito.”
“Verdade.”
Acho que é mentira. Mas como sempre foi minha amiga, fiz que
acreditei.
Agora falta encontrar com ele. Tenho, no entanto, de me comportar. Não posso
deixar que perceba que sei dessas histórias. Caso eu fracasse na representação,
acho que vai querer que eu vá nua a seu encontro, a única coisa que minha amiga não fez.
Às vezes me arrependo de ter ouvido os relatos de Mariana.
Às vezes me arrependo de ter sido sua amiga. Não sei onde isso pode acabar.
Mas, num rompante, acabo por falar a mim mesma: deixa de ser
boba, Dora, o máximo que pode acontecer é você terminar nua num canto desses. E
acho que até não vai ser mal!
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