Enquanto espero, lembro-me de um namoradinho, já faz uns
sete anos, nunca mais o vi. Na época, levou-me para uma casa de praia e insistiu
para me fotografar nua. Sentei numa cadeira muito parecida com esta, só que de
ferro, dessas que se alugam com mesas para festas; cruzei as pernas para um
lado, para o outro, depois fiquei de pé, de frente, de lado, de costas com o
pescoço virado e o rosto olhando para a câmera. Numa das fotos ele me pegou de surpresa,
quis me fotografar antes de eu estar preparada. Rápida, tentei dar as costas e tapar
os seios com a precariedade das minhas pequenas mãos, um gesto instintivo e
inútil. Ele clicou. Até que a foto ficou engraçada. A mais bonita, porém, é
aquela em que estou sentadinha como agora, as pernas cruzadas, os seios
cobertos parcialmente por um dos braços.
Aqui neste estúdio, penso: para onde me irão levar?
Tenho tanto receio de ficar longe de minhas roupas. Mas tenho de representar. Qualquer
ponta de temor seria considerada uma fraqueza. Será que me vão mandar nua para
casa? Acho que não chegam a esse ponto. Talvez eu até possa processá-los caso
isso aconteça. Mas já não conseguiria ser candidata em lugar nenhum. Para quem
se aventura nesse ramo, não é possível a mínima hesitação. Luzia disse que a levaram nua para passear de automóvel. Eles nos
conduzem de um lado a outro, falam com diversas pessoas da produção, pedem que
esperemos, até esquecem que estamos sem roupa na frente de tanta gente. Essas
pessoas também parecem não nos reparar, tratam tudo como a coisa mais normal no
mundo.
Tenho uma amiga chamada Isa. Na verdade ela já é uma
senhora, quase trinta anos mais velha do que eu, e gorda que só. Às vezes vou
com ela à praia. Usa um biquíni mínimo, apesar do peso. Quando estamos dentro
d’água, cobertas até o pescoço, ela pede: “Sandra, leva o meu biquíni aonde
estão as nossas coisas e guarda ele bem escondidinho?” Ela, então, me passa o
top e a calcinha. “Isa, se te descobrem nua, você vai passar a maior vergonha”,
não deixo de mostrar a minha preocupação. “Não descobrem, não, ninguém olha pra
uma mulher gorda.” E fica um tempo enorme tomando banho de mar. Certa vez
permaneceu dentro d’água a tarde inteira. Ninguém notou sua nudez. “Sinto um
prazer enorme nisso”, segreda-me. “Qualquer hora vou fazer como você”, afirmo.
“Aí vai dar problema”, ela diz, “você é muito bonita, todos os homens estão te
olhando, é bom ficar nua ao teu lado porque os homens só têm olhos pra você, eu
fico invisível.” Rimos as duas.
“Psiu, psiu, Sandra”, chamam-me lá de fora. Levanto e vou
até a janela. Vejo num apartamento do bloco em frente um grupo de mulheres:
“Vem aqui, vem aqui”, gritam. Fico sem entender. “É com você mesma”, continuam,
“venha até aqui.” “Não posso, estou esperando o assistente”, retruco. “Vem,
vem”, continuam, “faz parte do show.”
Ouço sons dentro do cômodo onde estou. É o assistente que
volta. Olha para mim e diz: “faz parte do show”, vira as costas e sai. As moças
continuam a me chamar. “Vem, vem.” “Como faço pra ir até aí?” “Saia do
apartamento, vá ao corredor, tome o elevador e desça ao térreo, atravesse o
jardim e entre no outro bloco, sexto andar, 601”, grita a mais espevitada.
“Estou nua!”, mas elas sabem, a mesma voz fala de lá: “faz parte do show.”
Respiro fundo, deixo o apartamento e aperto o botão para
chamar o elevador. De repente o mesmo assistente aparece ao meu lado. “Me dê o iphone, você já postou muita coisa hoje." “Um segundinho”, dou as costas,
imagino ele olhando a minha bunda. Lá vou eu, nua porta afora, depois conto o
final... Feliz 2013 p/todos vocês!