quarta-feira, dezembro 12, 2012

O canto da sala de estar

Ele levanta-me num dos cantos da sala; eu, encostada à parede, meu corpo sustentado apenas pelo seu baixo ventre e por suas coxas ligeiramente inclinadas. Flutuo como uma borboleta. O que me torna humana é o seu pênis dentro de mim. Demora o homem. Quer-me em contínuo estado de êxtase, apraz-lhe constatar minha vivência de total prazer. Meu momento de explosão não custa a anunciar-se. Ele espera pelo seu com segurança quase cirúrgica, sabe que tem tempo.

Hoje ao olhar o mesmo canto da sala, tenho saudades do namorado. Já vieram outros, mas não me apanham com o mesmo jeito. Deitam-me na cama e sobem sobre o meu corpo, a trepada convencional; às vezes gozam primeiro, deixam-me a desejar o namoradinho que aparava cuidadoso o meu voo arrojado.

Já pensei sugerir a mesma posição, mas estaria comportando-me com extrema vulgaridade. Posso apenas fazer semblantes. Quando pensam que estou a gozar devido a seus másculos manejos enganam-se, mais viva é a imaginação que trago do amante equilibrista.

Às vezes acho que fui louca quando terminei o relacionamento. Sabia que jamais encontraria homem semelhante. Ele mostrou-se triste ao partir. Mas nada falou. Nem era preciso. Sabia que, a mim, seria impossível esquecê-lo.

As extravagâncias que pratico hoje são frutos daquele tempo. Uma vez que já não me é possível alguém com tamanha habilidade, restam-me atitudes que me aceleram a pulsação, que me multipliquem os arrepios. Logo, atravessar a cidade à noite ao volante, apenas os vidros do carro e carroceria a esconderem minha nudez, é uma dessas invenções. O risco de ser surpreendida é o meu cantinho de parede.

Há outros tipos de invenções. Um dia desses ouvi de uma amiga que certa vez agarrara um homem pelas costas. Estavam na praia, dentro d’água. Ele a princípio assustou-se. Mas ela, hábil, tapou-lhe os lábios com um longo beijo. Como tudo acaba, o beijo também acabou. A amiga, no entanto, permaneceu grudada a ele e, num gesto ligeiro, pediu-lhe que nada falasse, queria apenas sentir seu corpo. A seguir, ela mesma tirou-lhe o pênis fora da sunga e o encaixou dentro do biquíni. Foi muito feliz naquela tarde. Poderia ter optado pela nudez total, sugeriu, o biquíni escondido dentro do calção de banho do homem. O risco os faria gozar dobrado. Mas deixou tal aventura para um dia vindouro.

Um cantinho de parede, porém, acende-me todas as luzes, transforma meus braços em asas, livra-me da gravidade, sensibiliza-me aos mais sutis sabores; abocanho então dardo veloz, rijo músculo de algum deus olímpico.

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