A noite terminou na casa dele num colchão duro sobre o qual
rolávamos de um lado para o outro. Mas ao chegar eu alertara que não transaria
naquela primeira vez, precisava de um tempo para me adaptar. Não era mentira.
Não é que eu queira posar de mulher difícil. Geralmente não consigo me soltar nem sentir prazer no primeiro
encontro, às vezes nem mesmo no segundo. Mas aceitei ir até lá. Toques e beijos
são bons prólogos para uma relação. E, quem sabe, dependia dele. Concordei em tirar a calça comprida e a
blusa ficando de calcinha e sutiã. Ele reparou meu corpo, ressaltou minhas
curvas e afirmou que não sou gorda nem magra. Em pouco tempo viramos uma
espécie de brinquedo um do outro. Enquanto fazia carinho nas minhas costas, eu
grudava ao seu tórax e procurava sua boca. Parti num afã para beijá-lo, mas
reparei que ele era suave e preferia o beijo num ritmo mais vagaroso. Aos poucos,
com a ponta dos dedos, foi descobrindo onde eu mais sentia prazer. Continuei a
beijá-lo, a deixar molhados seus lábios, seu queixo. Quando procurei com a
língua seu pescoço, ele mordiscou minha orelha esquerda e a manteve inteira
dentro de sua boca, tocou nela de leve com a ponta da língua. Tremeliquei e
fiquei toda arrepiada. Desatou meu sutiã e admirou meus seios, beijou os bicos e os manteve, um depois
do outro, dentro de sua boca. Tremi dessa vez de modo intenso. Desceu as
mãos pelo meu ventre, acariciou minha cintura nas laterais e puxou minha
calcinha até o joelho. Daí em diante eu mesma a tirei. Estava nas mãos dele,
podia fazer comigo o que bem desejasse. Rápido, não? Para quem pensara que não se soltaria de primeira... Me estiquei no colchão e disse baixinho
ai vou perder a cabeça, não perde a sua não, por favor. Não se preocupe, falou,
não vou gozar dentro não. E ficamos num movimento uniforme no começo, mas que
foi se intensificando à medida que vinha o gozo, e vinha de um modo gostoso,
como um pássaro que não tem medo de se aproximar e acaba por pousar sobre um
dos nossos braços. Ai, vou gozar, gritei num frêmito incontrolável, mas não
goza você não, por favor, deixa apenas eu perder a cabeça, insisti. Gozei com
violência, e ele ficou a esperar que eu terminasse com toda aquela agitação. No
final, ainda perguntei, você não gozou dentro não, não foi? Ele disse claro que
não, você pediu eu obedeci. Foi a nossa primeira vez. Quando havíamos terminado
e ainda estávamos enroscados um dentro do outro, ele perguntou você acredita
que uma obra de arte pode levar a pessoa à loucura? Não sei, talvez, respondi,
já pensei sobre isso, conheci um homem que atribuía a um filme espanhol a razão
de sua infelicidade, depois que o viu nunca mais foi o mesmo, acho que você
conseguiu fazer isso comigo, mas no sentido inverso, suas carícias foram um
tipo de arte que me deixou louquinha, acrescentei falando devagar. Ele riu, compreendeu
o que eu quis dizer. Mas percebi que, como sou professora de artes, não era
essa a resposta que ele queria. O corpo e os movimentos não deixam de ser obras
de arte, tentei concluir. Sentei na beira da cama e cruzei as pernas. Olhei sorrateira
para ele como uma modelo nua que espera o trabalho do artista sobre o mármore.
Só sei que numa das noites que se seguiram perdi a cabeça de novo e me
esqueci de pedir a ele que não perdesse a sua. Quando fui à minha
ginecologista, levei uma tremenda bronca. Ela disse que não se pode deixar um estranho gozar dentro da gente. Falou que eu me portei de
modo mais irresponsável do que muitas das minhas alunas adolescentes. Contei-lhe
então sobre a obra de arte e o enlouquecimento, mas ela não me deu ouvido.
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