As roupas que eu usava eram mais sensatas que as da maior
parte das mulheres. Elas trajavam saias curtas ou vestidos justas, não traziam meias
sobre a pele. Eu vestia calça comprida e, caso viesse de saia ou vestido, o
comprimento ia até os joelhos. As mulheres, principalmente as mais jovens, não
tinham dificuldades para arranjar namorados. Nós, entretanto, que já passávamos
dos trinta anos, devíamos ter atrativos a mais; caso isso não acontecesse, eles
preferiam as mais jovens. Eu não me preocupava com essas coisas, vivia ao meu modo. Quando aparecia um homem que me olhava, eu não sorria, fazia apenas uma expressão lívida; evitava a frieza, mas a
lividez leva os homens a certa curiosidade, mantém-nos interessados.
Ao completar uma semana naquele hotel de montanha, reparei dois
homens a me observarem no do café da manhã. O salão amplo espalhava as pessoas
pelos mais diversos lugares. Eu procurava sentar sempre à mesma mesa. Caso
estivesse ocupada, ficava numa próxima. Os pretendentes cumprimentavam-me,
sorriam e quando voltavam do buffet olhavam-me de novo. É preciso dizer que não
estavam juntos, não se conheciam nem sabiam que desejavam a mesma mulher.
Às vezes eu ficava na varanda lendo uma revista. Isso mesmo,
o hotel tinha uma lindíssima varanda, que dava para uma espécie de bosque. Eu virava
as páginas e olhava as árvores, a mata, o verde deslumbrante. Procurava inflar
os pulmões e sentir o aroma do entardecer. Um dos admiradores já conhecia
este meu hábito de ler na varanda. Aparecia e me desejava boa tarde,
chegava a parar, mas nada falava. Isso durou três dias. Quando pensei que viria
falar comigo, deparei com um homem mais jovem, acho que cinco ou mesmo dez anos
mais novo do que eu.
Você não quer ir comigo a uma festa hoje à noite?,
convidou-me.
Vou, respondi sem titubear.
Olhou a paisagem tal qual um filósofo. Pareceu-me que
encontrava naquilo tudo uma grande verdade. Não falou nada a mais. Depois
descobri que não era filósofo, mas um artista, e estava de férias.
Fui com ele à festa. Dançamos. Não permitiu que ninguém se
aproximasse de mim. Não me queria longe de seus braços. Depois de várias músicas,
saímos um pouco ao ar fresco. Entramos num jardim, que estava às escuras. Reparamos, aqui ou ali, outros casais. Andamos poucos metros e paramos sob uma grande
árvore. Ele me abraçou.
Perdoe-me, falou, você é tão encantadora.
Gostei do modo como me tratava. Sorri. Sinal de que estava
tudo bem, podia ir em frente. Os abraços continuaram.
Há algo que torna você mais encantadora do que as outras
mulheres, nesta estação de férias, ele disse.
Sim?, meus poucos fonemas aguardavam uma explicação a mais.
Você sempre está muito bem vestida, observou.
Continuamos abraçados. Eu, realmente, muito bem vestida.
As outras andam nuas, falei.
E nem por isso atraem, concluiu ele.
Voltamos ao salão. Dançamos mais algumas músicas e bebemos
refrigerantes e refrescos. Às onze, voltamos ao hotel.
Você está acompanhada?, ele quis saber.
Não, só se for por você.
Sorriu.
Você também está acompanhado, mas é por mim, não?
É claro, mas não vi outra mulher sozinha em todo o hotel, há quem esteja acompanhada ao menos por uma amiga. Agora quanto aos homens, é normal...
Tentou acrescentar algo, mas sentiu-se embaraçado e não terminou o pensamento.
Isso não importa, livrei-o da situação desconfortável. Ainda segurava um dos seus braços. E até agora não ficou provado que sou uma mulher,
completei.
Ambos caímos numa intensa gargalhada. Depois fomos aos
nossos apartamentos. De madrugada, então...
Bom, aqui já é outra a história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário