Toda mulher tem a fantasia de viajar para um lugar onde ninguém a conhece e fazer, ali, tudo o que tem vontade. Não sou diferente, fico toda arrepiada quando penso nisso. Um dia desses, uma amiga me pediu para acompanhá-la a Cabo Frio. Por quê?, quis eu saber. Ah, você vai ver quando chegar lá.
Saímos de M às sete da manhã, pegamos um ônibus que parou em
todos os pontos, um entra e sai exaustivo. Durante a viagem, ora olhei a
paisagem ora cochilei um pouco. Quando acordava, tentava reparar os outros
passageiros. Chegamos ao nosso destino duas horas depois.
Não tenho muita habilidade para andar pelo centro daquela
cidade, mas, guiada por minha amiga, olhamos o comércio e acabamos entrando num
pequeno shopping. Não demorou a aparecer um homem, um amigo, segundo ela, no
entanto achei que tinham em comum algo mais do que a amizade. Depois,
contou-me, quase em segredo, gostava de sair de M porque podia aproveitar
melhor a vida, longe das fofocas locais.
O que fizemos no dia, não foi tão importante. Almoçamos num
restaurante da Praia do Forte, passeamos pela orla, bebemos uma ou duas caipirinhas. E eu que não
gosto de bebidas alcóolicas em dias de semana. Quando deu quatro da tarde, ela
me levou para um canto e me perguntou você pode me esperar um pouco, é só por
uma hora ou uma hora e meia. Respondi sim, mas fiz um gesto que revelava
minha insegurança. Onde esperá-la durante aquele tempo todo?
– Fique no shopping – sugeriu ante a minha inquietação – , lá tem movimento, visite as lojas, ou permaneça num bistrô, depois vou encontrar com você.
Aceitei. Fui para o tal shopping.
O engraçado aconteceu quando sentei na praça de alimentação.
Não comprei nada, porque, depois de um almoço cheio de regalo, nada passava. A
princípio, não havia lugar para sentar. Reparei um homem de uns quarenta anos,
sozinho, comendo um prato de comida, desses bem cheio. Fui até onde estava e
perguntei se podia sentar na mesma mesa. Ele aquiesceu. Acabamos conversando.
Quis logo saber de onde eu era. Não falei a verdade, enrolei um pouco, disse
que viera à cidade pela primeira vez e aguardava uma amiga. Era sedutor o tal,
disse seu nome e tinha uma conversa envolvente. No final, deixou-me o número do
telefone, caso voltasse à cidade, procurasse por ele, tinha muito tempo
disponível. Sua amiga já está para chegar?, perguntou. Sim, já deveria ter
chegado. Imaginei-a nos braços do namorado, esquecida da nossa volta a M. Caso
aquele homem a minha frente permanecesse ali indefinidamente e
minha amiga não aparecesse, o que eu faria? A conversa enveredou pelos passeios
de fim de semana, pelas possiblidades que a cidade oferecia. Eu de vestido
esvoaçante, flutuando ao lado dele. Olhei o relógio algumas vezes, tentei não
demonstrar impaciência, o desconfortável da situação. Ele me revelou que
trabalhava para o prefeito local e que tinha muitas regalias. Talvez as
regalias fossem levar-me a um hotel para passarmos a noite, caso minha amiga não
voltasse.
Mas ela voltou, com meia hora de atraso, e veio sozinha.
– Estou te procurando há um tempão, pensei que tivesse
voltado para M sozinha – ela disse.
Apresentei-lhe meu recente amigo. Ela deu um sorrisinho
malicioso, fazendo-me sua cúmplice e revelando a ele, com o gesto, coisas que
deviam ficar entre nós duas. O homem deixou o número do telefone. Mas não lhe
telefonei e, por sua vez, não lhe dei o meu.
Pegamos a condução de volta às sete da noite. Depois deste
dia, comecei a pensar que poderia fazer o mesmo que minha amiga, mas agiria de
modo diverso, não chamaria ninguém para vir comigo.
– Você poderia ter vindo sozinha, ficaria mais à vontade –
arrisquei.
– Nada disso, não tenho nada a esconder. Chamei você porque
achei que ia gostar, seria uma oportunidade de passeio.
– Ah, isso é verdade, um belo passeio. Arranjei até um namorado.
– Jura? Quem?
– Não te apresentei?
– Me conta, então, como vocês fizeram.
– Hum, como vou contar? Ouça, ainda bem que tinha o shopping,
sabe...
– Por quê?
– Depois de tanto furor, tive de comprar uma calcinha nova!
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