segunda-feira, outubro 11, 2021

O selim da bicicleta

Senti saudades do meu amigo, enviei uma mensagem. Ele logo respondeu. Pedi desculpas, porque na última vez em que nos falamos eu o ofendi. Não estava bem naquele dia, por isso a tal ofensa. Mas ele pareceu não ter ficado aborrecido. Os homens gostam das mulheres, acabam perdoando tudo de errado que fazemos. Até mesmo uma escapadinha, caso descubram. Ele não é diferente. Me remexo na cama, estou nua sob o lençol, as coxas grossas roçando uma à outra. Penso nos dias de namoro que tivemos. É preciso dizer que já não somos namorados, depois de terminarmos continuamos amigos. Coisa difícil entre os casais. Contei a ele sobre meu novo homem. Escutou com paciência e curiosidade. Como você o conheceu?, quis saber. Ah, uma história rocambolesca, arrisquei; sabe esses sites de relacionamentos amorosos?, então, descobri um ainda mais saliente (aliás, adoro a palavra), um local onde se pergunta se a gente quer trepar com alguém das proximidades. Ele escutava, passivo, mas deixou escapar um ligeiro som de riso. Fui resumindo. Marquei com um homem que apareceu de primeira. Quem sabe é alguém daqui de perto, vou passar a maior vergonha. Porém, o homem não era conhecido. Disse que morava no Miramar. Como é um bairro familiar, fui à casa dele. Me esperava contente, com uma jarra de refresco e uns biscoitinhos. Acho que me apaixonei por ele por causa do lanchinho. Como estava constrangida (como dizer que não tinha experiência no tal tipo de encontro, ele iria acreditar?), tentou facilitar as coisas. O encontro foi à tarde, achei melhor, seria mais seguro. Não sei por que a luz do dia me passa a impressão de que não me acontecerá nada de mal, mesmo nos braços e na casa de um desconhecido. Ah, estou morrendo de vergonha, cheguei a dizer. Não faz mal, respondeu o homem. Ficamos conversando, apenas, nada de sexo no primeiro dia. Na semana seguinte, ele apareceu lá em casa, uma quinta feira, depois das nove da noite. Então, foi uma festa. Acabamos namorados. Você não vai me trair neste site, vai?, ele não cansa de me perguntar. Não, foi minha primeira e última vez, sempre insisto. Será que acreditou mesmo? Há homens que nos acham traiçoeiras, como as personagens ardilosas dos romances de literatura. Meu amigo gostou da história, no final perguntou: ele não tem compromisso com outra mulher? Não perguntei, eu disse; mas do modo que aparece aqui em casa, sem preocupação alguma, dormimos juntos dias de semana ou de sábado pra domingo, acho que não tem outra, não. Meu amigo é malicioso, quando me namorou ficava tentando descobrir se eu dava alguma escapada. Certa vez fui a Cabro Frio com uma amiga, ela tinha um encontro lá e não queria ir sozinha. Ele soube e ficou desconfiado, principalmente depois que dei uma sumida de dois dias. Mas agora ele escutava, e parecia se divertir. Você é muito foguenta, não fica sem namorado, disse, é muito diferente de tua irmã. Ele tem razão, estou sempre com alguém. Não cometeu a indelicadeza de dizer que adoro andar nua, e que já tentei de tudo nas areias de Cavaleiros, tantos os paqueras. Depois de um tempo, resolvi ir à praia em outra cidade, aqui fico mal falada. Senti uma coceira outro dia, ao olhar de novo o site de relacionamentos, pensei que tal uma escapadela, mesmo que seja apenas pra conversar? Não, disse a mim mesma, intranquila, se caio nas mãos de meu namorado, ele andando também por lá para se divertir! Talvez eu ache o maior barato, mas ele vai dizer que sou uma boa duma piranha... Esse último pensamento não contei a meu amigo. Mas do jeito que sabe sobre mim, é capaz de imaginar a cena. Na época do namoro, conversávamos tarde da noite pelo telefone. Como eu vivia de bicicleta pela cidade, ele me pedia monte e venha pra cá agora; se não estiver vestida, aproveite a oportunidade e venha nua. Uma quentura entre as pernas, o selim da bicicleta.

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