Você está me convidando para sair logo assim de primeira...
Foi você quem olhou pra mim e sorriu, correspondeu ao meu
aceno.
Sim, mas acho que cometi um erro, peço desculpas, me dê
licença.
Eu falava com um homem, no calçadão, em Ipanema. Saíra de
casa para deixar um pouco os livros, respirar o ar do entardecer, beber água de
coco num quiosque da orla. Um homem, no entanto, passou por mim. Sei que as
mulheres devem andar com os olhos baixos, não é bom encarar os homens. Mas
naquele momento acabei por espiá-lo de soslaio, não me controlei e sorri. Ele veio
atrás. Eu devia ter desconversado rapidamente, cruzado a avenida e partido. Continuei, porém, minha caminhada com ele ao meu lado. Andamos como
dois velhos amigos. Depois de alguns minutos, já entrara eu na conversa dele.
Todos sabem que há homens terríveis, basta escutá-los por pouco que seja e já
nos conquistam.
Você gosta de ler, não?, perguntou antes que eu atravessasse a rua.
Como descobriu?, respondi desarmada.
Intuição.
Aceitei a explicação de forma simpática. Ele, então, listou
uma quantidade enorme de autores, principalmente de romancistas.
Como sabe que leio romances?
Intuição, continuou. Mas você lê romances inteligentes,
tenho certeza.
Adivinhou de novo. E como faço para descobrir esses livros?,
queria testá-lo.
Você frequenta as boas livrarias.
Isso mesmo. Você é bom em adivinhações, falei.
Pronto, o caminho estava aberto. Continuamos andando, seguíamos na direção do Jardim de Alá.
Pronto, o caminho estava aberto. Continuamos andando, seguíamos na direção do Jardim de Alá.
Por aqui há uma livraria; como já entardeceu, que tal?,
propôs.
Ah, sim, na Visconde de Pirajá, conheço.
Acabamos os dois juntinhos dentro da livraria. Ele me
apontava os títulos. Parecia conhecer todos os livros.
Como você sabe sobre tantos autores?
Segredo, respondeu.
Você é crítico literário?
Segredo.
Se for não tem graça, falei, todo crítico é suspeito.
Sou médico.
Médico, que legal!, cheguei a exclamar. Duas pessoas olharam
na nossa direção.
Caminhamos para o centro da loja.
Mas gosto mesmo é de poesia, ele falou.
Você é um médico que gosta de poesia. Que legal, fiquei eufórica.
O que há de mal nisso? Os médicos além de serem grandes
leitores, também muitas vezes são escritores.
Já pensou que maravilha, frequentar um médico que antes da
consulta converse sobre literatura?
Então, essa é a chave, demonstração de bom gosto e de
cultura.
Ah, exclamei e sorri para ele, estou precisando tanto de uma
consulta assim.
Ele riu, continuou olhando os livros. Comprou dois e me
presenteou.
Foi assim que, dois dias após conhecer o homem, fui parar no seu
apartamento.
E lá pelas dez da noite, morta de vergonha, pedi: vamos hoje
ficar apenas na conversa, ok?
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