sexta-feira, abril 15, 2016

Esquentação

Outro dia eu contava a Miriam sobre a francesa com quem aprendi uma boa maneira de esquentar o relacionamento amoroso. O segredo, segundo ela, é a gente arranjar outro homem além do namorado, mas apenas pra conversar, ficar juntinho, passear, pedir uma carona, despertar o seu desejo, mas jamais praticar o principal, o sexo. Este deve ser deixado pra depois, pra hora do encontro principal, com o namorado. Miriam sorriu, acabou dizendo essas francesas são terríveis.

Continuei a falar sobre meus relacionamentos. Sempre quando marco com Jonas, tenho um amigo que me dá carona. Saímos do trabalho juntos e vamos ao estacionamento. Dentro do carro, antes de ele dar a partida, faço carinho num dos braços dele, me aproximo, faço de conta que vou deitar a cabeça no seu ombro, deixo que ele encoste as mãos em mim, mas quando a coisa começa a esquentar me afasto. É muito engraçado. Ele dá a partida e dirige pelas ruas da zona sul. Às vezes coloco uma das mãos sobre sua coxa direita, outras vezes deixo que ele passe a mão, de leve, sobre as minhas pernas. Ao saltar, beijou-o com algum calor. Dali corro para os braços do Jonas, quentinha, ardendo pelo sexo dele.

A francesa tinha um namorado com quem vivia agarrada. Mas antes, era mais atirada do que eu, levava o amigo pra casa, queria que ele a esquentasse antes do namorado chegar, lógico que nada comentava sobre isso, fazia-se de inocente. Houve um dia em que entraram no apartamento e ela pediu licença para ir trocar de roupa. Voltou com uma camisola transparente, falou a ele assim: “você é quase meu irmão, não faz mal me ver nua, não é mesmo?” E sentou do lado dele. Ficaram uma hora e meia tocando um no outro, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Ela conversava, um assunto emendava noutro e as mãos tocavam braços, pernas, coxas, até que... Nada disso, o marido abriu a porta e entrou, beijou a mulher, cumprimentou o amigo e sentou-se numa das poltronas. Ela levantou-se e se acomodou ao seu lado. O amigo, muito sem graça, disse que tinha um compromisso e se foi. A francesa dizia que gozava muito depois de tanto aquecimento.

Miriam parecia arrepiada, cada vez mais surpresa. Será que isso dá certo mesmo?, chegou a perguntar. Conversamos mais um pouco. Lá pelas seis da tarde ela se despediu e foi embora.

Suzana, você tem razão, você e tua amiga francesa, Miriam me falou tempos depois. Ela me beijou e sorriu. Disse que minha conversa ajudou muito. O namoro em que havia se metido estava fervendo. O namorado percebeu que ela andava muito com outro homem, pra todo lado o homem a acompanhava. Então, ela falou da francesa. Primeiro, ele ficou desconfiado, mas depois, ao perceber o ardor da mulher, não quis outra vida. Mas quem não entendeu foi o amigo. Não houve quem lhe tirasse o pensamento de que Miriam não queria nada além daquelas cenas de esquentação. Ela nada falou a ele sobre isso, queria que ele percebesse. Mas o homem não tinha a menor sensibilidade. Não é melhor você ter uma mulher nua ao teu lado do que não ter ninguém?, ela, num momento de irritação, lhe perguntou; amanhã eu posso não estar aqui, é melhor assim, completou. E ficou agarrada a ele, deixando o principal para o verdadeiro namorado. Eu quis saber se Miriam ficara nua ao lado do segundo. Não, fiquei com uma sainha que é uma coisa à toa; o homem passou a mão pelas minhas coxas, conseguiu ir mais longe do que nos dias anteriores; olha, assim não volto amanhã, disse eu, então ele sossegou. Você nunca soube de ninguém que acabou dando pro segundo?, ela me perguntou, de seu rosto emanava um ar de curiosidade.

Uma vez aconteceu, com uma amiga, confessei a ela, mas não foi bom, ela acabou a relação com o segundo, e ficou sem ninguém pra esquentar.

Que pena!, Miriam lamentou; tenho, então, que ser muito inteligente; sabe, Suzana, outro dia quase aconteceu, mas me recompus a tempo, foi por um triz, quase escorreguei, quero dizer, quase ele escorregou, já ia caindo lá dentro.

Ambas demos uma sonora gargalhada. Tudo depende de nós, querida, falei, basta pensar: o que vem depois será muito melhor.

Nenhum comentário: