Minhas brincadeiras são bobinhas, inofensivas, causam,
talvez, um pouco de nervosismo. Quando contei a ele, apenas riu. Um riso que
revelava minha infantilidade. Sei que ele poderia ter dito como você pode
gostar dessas coisas, ou talvez dissesse não são tão inofensivas, você coloca
em risco a sua integridade. A voz dele soaria em tom sentencioso, demonstrando
as certezas peculiares aos homens. O que eu poderia fazer, a partir daí, seria
me afastar, e não mais me preocupar com o que ele pensava. A vida é perigosa para
os mais cautelosos, eu ainda poderia rebater. Mas preferi continuar com minhas
brincadeiras bobinhas, que me dão muito prazer.
A casa era grande e tinha um cão. Mas ele ficou logo meu
amigo. Não sei o que fez me olhar como uma pessoa benevolente. Os cães acham
certas pessoas benevolentes, alguém que pode lhe acariciar a cabeça, passar uma
das mãos pelo seu pescoço e lhe oferecer algo novo. Foi o que
aconteceu. No primeiro dia, veio me cheirar. Ficou nisso. Agradei a ele. Seu
focinho úmido percorreu minhas pernas, abanou o rabo, o cão paralisado ante as
minhas mãos. Passei a visitar a casa todos os dias, às vezes também à noite. O
cão sempre atrás de mim, como se eu fosse sua redentora.
Adélia também gosta de algumas brincadeiras. Aliás, foi ela
quem me despertou para o prazer que as brincadeiras podem proporcionar. Adélia
gosta de ir à praia cedo. Chega com o nascer do sol. Corre pela beira, o
mar a lhe molhar os pés. Sua bastante, depois mergulha na água fria. Diz que a
sensação é maravilhosa, corre-lhe um arrepio, uma espécie de gozo. Certa vez
correu nua e depois mergulhou. Em dobro, o prazer. Repetiu o exercício, repetiu
o gozo. Certa vez um homem apareceu à praia, e Adélia nua dentro do mar. O que
fazer? Esperar. Mas o homem teve mais paciência do que Adélia. Ela acabou indo
com ele. Hoje está bom assim, ela falou, ficamos no olhar, e você até já me
beliscou, vamos marcar um encontro para logo mais, tentava ela escapar. O homem
concordou. Adélia então fugiu. Não veio mais nadar pela manhã. O que perdeu? O
prazer. Há tantas outras praias, disse-lhe eu. Ela começou de novo, na ponta da
praia.
A minha aventura, porém, não era na praia. Queria o homem
bonito que morava à casa onde eu sempre rodeava. O cão atrás de mim. Eu podia
entrar durante a madrugada, como ladra escorregadia. Mas nada queria roubar, ou
melhor, talvez um coração, o coração de um homem jovial. Mas eu tinha medo de
falar com ele. Teria sido melhor encontrá-lo e expor minhas intenções. Tudo tão
simples. Mas a aventura me dava furor. Invadi a casa. Rodeei-a com o cão. Um
cão imenso. Deitava com ele na grama do quintal. Meu homem dormia. Que tal
subir, ir até ele? O homem poderia não gostar, eu temia. Para alguns tipos as
mulheres são perigosas. Lembrei de novo minha amiga nua na praia querendo
convencer o homem que ela tinha o direito de nadar nua, ele não poderia tê-la
contra a vontade dela. Existe lei, sabia?, Adélia chegou a murmurar. Mas os homens querem
saber lá de lei. Ou fazem as leis conforme sua vontade. Ela nada contou, mas é
lógico que teve de dar pra ele. E eu que desejava dar, mas meu homem não vinha.
Fiquei com o cão enquanto o aguardava. Venha logo, observe-me, cheguei a
mandar uma mensagem por sob a porta de entrada, acho que não aguento por tanto
tempo. Ele veio. Mas devagar. E trouxe o cão. Fingi que não o conhecia. O cão.
Vamos à praia?, sugeriu. Por que não aqui?, tão aconchegante, suspirei. Gosto
que minhas namoradas nadem nuas...
Você nada bem, por isso tem esse corpinho, alguns músculos
apenas, mas um corpo muito bonito. E ele a me ver nadar. Eu tão longe. Desaparecia
o namorado, sumia junto com o cão. Eu boba por ele, pedia pra guardar minhas
roupas. Pudera. Fizemos o jogo durante uma semana.
Depois de tanto tempo, fui nadar sozinha. Na ponta da praia. Eu e o mar. Imito minha amiga Adélia?Madrugada ainda, o vermelho de um sol antes de subir o horizonte. Nada de homem, nadar apenas. A pele. Uma semana depois tento convencer o desconhecido a me deixar só, digo a ele que não tem o direito de deitar comigo. Sou virgem, asseguro, como último argumento. Ele não me olha surpreso. Dá-se um jeito, diz. Não espera minha réplica. Há jeito para todas as coisas, completa. Eu, pelada. O homem me puxando pelo braço.
Depois de tanto tempo, fui nadar sozinha. Na ponta da praia. Eu e o mar. Imito minha amiga Adélia?Madrugada ainda, o vermelho de um sol antes de subir o horizonte. Nada de homem, nadar apenas. A pele. Uma semana depois tento convencer o desconhecido a me deixar só, digo a ele que não tem o direito de deitar comigo. Sou virgem, asseguro, como último argumento. Ele não me olha surpreso. Dá-se um jeito, diz. Não espera minha réplica. Há jeito para todas as coisas, completa. Eu, pelada. O homem me puxando pelo braço.
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