Sempre fui uma mulher recatada, visto roupas que destacam o
meu corpo, mas nada de saias ou vestidos muito curtos. Pernas de fora, apenas
na praia, é o que sempre achei. Mas o meu namorado acabou me convencendo a usar
roupas extravagantes.
Se encontro alguém?, pergunto preocupada.
Você faz de conta que é outra pessoa.
Outra pessoa?, assusto-me.
Passei a sair com penteados diferentes, ele me deu dois ou
três pares de óculos, dois de lentes escuras. Alguns dias cheguei a cobrir a
cabeça com lenços, ou mesmo com uma espécie de véu. Comecei a gostar da
brincadeira.
Frequentamos os restaurantes de uma cidade vizinha. Tudo ia
às mil maravilhas até que, de repente, avistei uma pessoa conhecida. Ela não me
viu, ainda bem. Fiquei tão preocupada que não reparei com quem ela estava. Quem
sabe alguém já me avistou e nada falou? Meu
namoradinho, porém, se mostrava cada vez mais entusiasmado. A cada entusiasmo
dele, minhas saias ou vestidos ficavam mais curtos.
Houve uma época em que pensei um modo de atrair os homens,
não imaginava que a roupa produziria tanto frisson. Que ótimo, agora já sei,
caso este namorado desapareça, já tenho um método, vou atrair o homem que eu
desejar.
Certo domingo ao entardecer ele veio me buscar para mais um
passeio.
Tenho uma surpresa, disse.
Tirou de uma sacola um presente. Abri o pacote.
Que camiseta linda!, adorei.
Não é camiseta, sussurrou.
Não? O que é, então?
Um vestidinho.
Gelei. Ele me quereria domingo a passeio com o vestidinho.
Vesti-o apenas para agradá-lo. Vim à sala e disse:
Caso saio assim, só de camiseta, todos os homens vão correr
atrás de mim.
Não adiantou minhas ponderações. O namoradinho insistiu
tanto, que saí de camiseta.
As pessoas vão pensar que você está de short por baixo,
falou.
Veja se há alguém na rua, pedi.
Não tem ninguém na rua, pode vir.
Corri para o carro e entrei. Ele guiou para Rio das Ostras.
Durante a viagem ligou o som e escutamos músicas que nos estimulavam. Ele
passava a marcha e escorregava a mão direita sobre minhas coxas.
Paramos na Costa Azul. Ventava. Saímos do carro. Ele comprou
duas garrafas de cerveja e me deu uma. Descemos à praia.
Ele me abraçou, me beijou e deslizou a mão por baixo da
camiseta.
O que foi?, perguntei ao perceber que ele se estava surpreso.
A calcinha?
Ah, eu disse, falta a calcinha.
Por que não me pediu? Eu compraria pra você.
Não estou sem por falta de calcinhas em casa, imagina o
motivo.
Ah, sim, que tolo, já imaginei.
Escurecia. Só nós dois na praia. Ele levantou minha camiseta
até me deixar de peitos de fora, depois puxou e conseguiu tirá-la de mim. A
seguir, arremessou-a no ar e deixou que o vento a levasse.
Não faz mal, afirmou, se desaparecer vou comprar mais três.
Mais três?, repeti. Ah, não esqueça das calcinhas!
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