terça-feira, maio 03, 2016

Recatada

Sempre fui uma mulher recatada, visto roupas que destacam o meu corpo, mas nada de saias ou vestidos muito curtos. Pernas de fora, apenas na praia, é o que sempre achei. Mas o meu namorado acabou me convencendo a usar roupas extravagantes.

Se encontro alguém?, pergunto preocupada.

Você faz de conta que é outra pessoa.

Outra pessoa?, assusto-me.


Passei a sair com penteados diferentes, ele me deu dois ou três pares de óculos, dois de lentes escuras. Alguns dias cheguei a cobrir a cabeça com lenços, ou mesmo com uma espécie de véu. Comecei a gostar da brincadeira.

Frequentamos os restaurantes de uma cidade vizinha. Tudo ia às mil maravilhas até que, de repente, avistei uma pessoa conhecida. Ela não me viu, ainda bem. Fiquei tão preocupada que não reparei com quem ela estava. Quem sabe alguém já me avistou e nada falou? Meu namoradinho, porém, se mostrava cada vez mais entusiasmado. A cada entusiasmo dele, minhas saias ou vestidos ficavam mais curtos.

Houve uma época em que pensei um modo de atrair os homens, não imaginava que a roupa produziria tanto frisson. Que ótimo, agora já sei, caso este namorado desapareça, já tenho um método, vou atrair o homem que eu desejar.

Certo domingo ao entardecer ele veio me buscar para mais um passeio.

Tenho uma surpresa, disse.

Tirou de uma sacola um presente. Abri o pacote.

Que camiseta linda!, adorei.

Não é camiseta, sussurrou.

Não? O que é, então?

Um vestidinho.


Gelei. Ele me quereria domingo a passeio com o vestidinho.

Vesti-o apenas para agradá-lo. Vim à sala e disse:

Caso saio assim, só de camiseta, todos os homens vão correr atrás de mim.


Não adiantou minhas ponderações. O namoradinho insistiu tanto, que saí de camiseta.

As pessoas vão pensar que você está de short por baixo, falou.

Veja se há alguém na rua, pedi.

Não tem ninguém na rua, pode vir.


Corri para o carro e entrei. Ele guiou para Rio das Ostras. Durante a viagem ligou o som e escutamos músicas que nos estimulavam. Ele passava a marcha e escorregava a mão direita sobre minhas coxas.

Paramos na Costa Azul. Ventava. Saímos do carro. Ele comprou duas garrafas de cerveja e me deu uma. Descemos à praia.

Ele me abraçou, me beijou e deslizou a mão por baixo da camiseta.

O que foi?, perguntei ao perceber que ele se estava surpreso.

A calcinha?

Ah, eu disse, falta a calcinha.

Por que não me pediu? Eu compraria pra você.

Não estou sem por falta de calcinhas em casa, imagina o motivo.

Ah, sim, que tolo, já imaginei.


Escurecia. Só nós dois na praia. Ele levantou minha camiseta até me deixar de peitos de fora, depois puxou e conseguiu tirá-la de mim. A seguir, arremessou-a no ar e deixou que o vento a levasse.

Não faz mal, afirmou, se desaparecer vou comprar mais três.

Mais três?, repeti. Ah, não esqueça das calcinhas!

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