quarta-feira, maio 25, 2016

Não pude deixar de rir

Franzi a testa. Não pude deixar de rir.

“Você é louco”, falei.

“Por quê?”, ele fez de conta que não entendia.

“Você vai me deixar assim, aqui?”

“Assim?, não estou entendendo”, ele queria que eu definisse o que era estar assim.

“De calcinha e sutiã.”

“Ah”, fez uma expressão de satisfação, “de calcinha e sutiã”, repetiu, “não foi você quem sugeriu?”

“Sugeri, mas para namorar com você, não sabia que te excita tanto deixar uma mulher pelada numa praia, de madrugada.”

“Não é só excitação”, ele disse e me abraçou, “achei que você queria experimentar.”

“Experimentar? O que posso experimentar a mais do que estar nua pra você num lugar público?”

“Já vi mulheres que desejaram experimentar uma sensação maior, trata-se de um tipo de desafio.”

“Pode explicar melhor?”

“Claro”, ele me puxou pra junto dele, beijou minha testa, depois continuou, “uma delas me pediu para sair nua do apartamento. Que eu fechasse a porta. Dias depois, escreveu a experiência.”

“Ela ficou nua do lado de fora?”

“Isso mesmo, nua e trancada do lado de fora. Após dois minutos, bateu pra eu abrir. Ela disse, então, que sentiu um calafrio de abandono.”

“Ela escreveu a experiência?”, fiquei curiosa.

“Isso mesmo. Se quiser, trago pra você ler. Mas ela romanceou, as coisas não saíram tão bem como esperava.”

“O que ela esperava?”

“Que eu abrisse logo a porta. Mas não foi o que eu fiz. Deixei a mulher de molho por um bom tempo. Por isso, naquela noite, ela ficou furiosa. Uma ou duas semanas depois, porém, quis ir nua de novo lá fora.”

“Não quero ficar nua durante nem mais um minuto, vamos embora, quero o meu vestido, por favor”, comecei a ficar nervosa. Puxei seu braço com a intenção de voltarmos ao carro.

“Vamos ficar mais um pouco", mostrou-se irredutível. "Você sabe que posso ir embora e deixar você nua.”

“Você não faria isso. Qual o motivo?”

“O motivo?”, repetiu, “não sei, talvez certo prazer.”

“Você sente prazer em me abandonar nua? Isso significa que você gosta de maltratar as mulheres, ou mesmo que não gosta do sexo feminino.”

“Quem sabe”, ele disse em voz baixa.

“Com quem fui me meter”, deixei escapar, “você é louco mesmo. Já saí com muitos homens, nenhum deles me fez passar por uma situação tão constrangedora.”

"Você está constrangida?, foi você que suspirou 'vou descer de calcinha e sutiã, é uma antiga fantasia, ficar nua na praia, de madrugada'.”

“Concordo que falei, mas não sabia que as coisas tomariam outra direção."

"As mulheres sempre querem manipular os homens. Quando a situação fica fora de controle, se tornam desesperadas."

"Você sabe que vou ter problemas caso você me abandone nua aqui. Logo vai chegar alguém. Pega minha roupa, vai, do contrário não quero saber mais de você.”

“Jura? As mulheres adoram correr perigo, e acabam sempre voltando.”

Que loucura! Refleti rápido e conclui que, para sair de modo favorável da tal situação, precisava representar. Sorri falsamente e disse:

"Ok, vamos combinar algo diferente", minha fisionomia passou a ser de deboche, mas por dentro estava morrendo de raiva, "não precisa ir buscar minha roupa." Soltei as alças e abaixei o sutiã,  meus seios se mostraram, virei o fecho pra frente e abri a presilha, "pega, vai, guarda também isso lá", entreguei a peça a ele. Como não esperava por isso, ficou com o sutiã nas mãos, meio envergonhado. "Vou dizer mais uma coisa, continuei, "digamos que não aconteceu comigo, mas com uma amiga. O namorado fez essa mesma brincadeira, deixou a mulher nua e se foi. Sabe o que aconteceu?" Ele continuou olhando, curioso, colocou as mãos pra trás, ainda segurando o sutiã. "Ela conheceu outro homem e foi com ele."

"Verdade?", arregalou os olhos.

"Verdade, e este era muito melhor!", dei minha última carta e aguardei sua reação.

"Espera um instantinho", ele disse, "vou até o carro guardar isto", mostrou meu sutiã e deu as costas.

Enquanto subia a faixa de areia, acompanhei-o sem que ele percebesse. Temia que ele fosse embora. Ao destravar o carro, abri a porta de trás ao mesmo tempo que ele abriu a da frente. Como estava escuro, não notou. Por instinto de sobrevivência, peguei meu vestido enquanto ele lançou a pequena peça sobre o banco do carona. Em seguida, fechou a porta. Tudo aconteceu muito rápido. Depois desceu à praia pra encontrar comigo. Quando chegou ao local onde estivéramos, olhou prum lado e pro outro. Me procurava.

"Ei, estou aqui", falei.

"Ah, pensei que alguém já tinha levado você", me abraçou e me beijou na boca. "Vamos passear um pouco", sugeriu, "Você acha que eu ia mesmo abandonar você nua aqui?"

Eu havia largado o vestido num ponto da areia um pouco acima, antes de ele me avistar. Não queria dar o braço a torcer. Ai, agora é que volto nua pra casa, cheguei a pensar; não faz mal, me animei a seguir, não vai ser a primeira vez. Como eu representava, não era Miriam que desfilava nua, de braço com o namorado, sobre as areias da praia. Mas, digamos, Sílvia. Que bom os muitos cursos de teatro! Franzi a testa. Não pude deixar de rir.

Para lidar com um maluco como esse namorado, só uma mulher como a Sílvia; Além de louca, era muito safada. Mais adiante tirou a calcinha e pediu que ele a guardasse no bolso. E, antes de nascer o sol, gozou duas vezes. Uma trepada de dar gosto.

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