terça-feira, julho 19, 2016

Cortei um dobrado para convencê-lo que eu precisava vestir pelo menos um camisão

Outro dia encontrei um ex-namorado, fazia dez anos que não o via. Muito tempo, não? Nem sei como o reconheci. Aliás, no caso, sei sim. Não pude deixar de dizer, após algum tempo de conversa:

Você era fogo, viu.

Ele me encarou sorridente e retrucou:

Ainda sou.

Eu vestia um camisão, por baixo o top e calça legging. Ele olhou minha roupa com certa inveja.

Sabe, outro dia deixei uma namorada só de blusa, ele disse.

Imagino. E como ela fez?, perguntei fingindo falso interesse.

Ah, as mulheres sempre dão um jeito, dissimulou.


Ele era fogo mesmo. Como poderia esquecer? Viajei à cidade dele, o homem fez uma festa. Como gostou de me ter nos seus braços. E me queria nua o tempo todo.

Trouxe um livro, você permita que eu o leia um pouquinho?, perguntei.

Permito, mais sente nua ali no sofá, cruze as pernas e leia o livro.

Vou fazer um café para nós, falei à tardinha.

Ótimo, mas vai à cozinha assim como você está, nuinha.

Passei o dia e a noite sem vestir roupa alguma. Ainda bem que na cidade dele fazia calor.

À noite, convidou-me para passear. Quando abri a mala para escolher um vestido levinho, ou uma saia curta, ele contrapôs:

Nada disso, você vai nua.

Jura?, ainda perguntei.

Vai sim, aqui não tem problema.

Amor, não vai ficar bem eu sair nua por aí.

Cortei um dobrado para convencê-lo que eu precisava vestir pelo menos um camisão.

Apenas, ele definiu com esta pequena palavra.


Entramos no café e continuamos a lembrar o passado.

Que bom que nos reencontramos, afirmou, o que você veio fazer na minha cidade?

Ah, estou de férias, e faz tanto tempo que não venho.

Desde quando estivemos juntos?

Não, vim duas vezes. Agora aqui mudou muito, está melhor, inauguraram dois ou três museus, vim visitar.

Quer dizer que você gosta de museus, ele suspirou.

Adoro, estudei produção cultural, não sei se cheguei a falar, museus são a minha especialidade.

Acabamos de tomar o café, cruzei uma das pernas, o camisão revelou uma parte de minhas coxas. Embora coberta pela calça, exibia o volume das minhas coxas. Um desconhecido, à mesa ao lado, sorriu farsesco.

Você não quer passear? Vamos aproveitar. Tem algum compromisso?, ele olhou pra mim com certa ânsia.

Pra falar a verdade, tenho, marquei com uma amiga.

Chama a amiga para passear conosco.

Jura?

Juro.

Chamo. Mas você vai querer apenas uma ou duas mulheres nuas no seu carro?

Ele riu. Lembrou minha viagem de outrora ao Rio. Num momento do passeio roubou meu camisão. Tive de voltar nua pra casa dele.

Saímos do café e fomos ao estacionamento.

Você me leva ao hotel primeiro?, pedi.

Levo, e espero por você.

Se quiser pode subir, dei a moeda a ele. Meu olhar devia estar brilhante, podia refletir todo um céu. Ele é tão bonito, foi minha vez de suspirar.

Na suíte, nua nos braços do homem, ele perguntou:

E sua amiga?

Ah, ela espera.

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