Um pinto faiscou um segundo em meus olhos, e me transformou
toda em arrepio. Foi na praia, mês que antecedia o verão, o tempo ainda fresco
e as águas do mar geladas de dar dó. O pinto, naquele momento, era supremo. É tudo o que posso afirmar. E veio a preencher a solidão que eu sentia em meio a
guarda-sóis afastados, caminhantes longínquos e mulheres que tomavam sol. Como
vou falar do pinto sem ser chula? Vejamos, uma história primeiro. Certa vez
tive um namorado dez anos mais jovem que eu, mas era homem maduro. Nem sei
porque terminamos, coisa do destino, talvez. Levava-me a passear, trazia-me à
praia. Vivíamos o embate de dois polos antagônicos: a noite profunda e o dia
com toda a sua luz. Foi numa noite profunda. Íamos de automóvel, ele a dirigir,
e eu relaxada no banco do carona. Então, a surpresa invadiu-me os olhos, uma
mulher de calcinha, na rua, gritei e me virei a ele. Mulher?, repetiu, nada
disso, parece mulher mas não é, sentenciou. Foi numa parte suspeita do centro
da cidade. E continuamos mergulhados na noite, queríamos ainda a madrugada. Os
homens não sofrem de celulite, afirmei, caso se tornem mulheres, ou fingem
sê-las, não sei bem, suas pernas são lisas de dar inveja. Sério?, pareceu
duvidar. Sério, falei com convicção. Como você sabe, já viu um exemplo desses de perto?,
suas palavras e seu olhar incisivo enquanto segurava o volante pareceram
desafiar-me. Sim, afirmei, como se não quisesse revelar um grande segredo. Onde
aconteceu?, quis ele saber, esperou, a respiração um tanto opressa, como se minha
resposta fosse transformar tudo que nos viria pela frente. Num desfile de
modas, acrescentei Ah, bom, ele replicou aliviado. Mas a historinha não foi bem assim. Certa vez viajamos, quatro
mulheres. Que bagunça, não é mesmo? Fomos a um hotel, desses que dão para a
praia, no Nordeste. Lá, aproximou-se de nós alguém que pensamos a princípio ser
uma mulher. Fazia bem o papel, demoramos a descobrir o que realmente era.
Quando de fato aconteceu, não fizemos alarde, agimos com a maior discrição. Na
noite anterior ao dia em que regressaríamos, saímos as quatro e mais a fingida
mulher. Bebemos mais do que podíamos. No hotel, um fio de tesão começou a correr
em cada uma de nós, em consequência inventamos uma brincadeira; saíamos nuas do quarto para bater no
quarto das outras, já que ficamos hospedadas em duplas. Após muitas risadas, decidimos ir ao
quarto de nossa amiga / amigo. Ela assustou-se com o mulheril. Dissemos faça
como nós, vamos desfilar. Ela, ou ele, não sei como dizer, enrubesceu. Mas uma
das mulheres conseguiu despi-la. Pudemos ver, então, um pênis mediano. Algumas
começaram a agarrá-lo e ele começou a crescer. Ela disse não
sinto tesão por mulher, mas quem sabe vocês possam me dar prazer e, ao mesmo
tempo, obter a diversão que desejam. Cada uma de nós a exercitou um pouco, mas o
pênis não enrijecia como desejávamos. Há um jeito de eu sentir tesão, ela
falou, mas vocês precisam me dar de presente suas calcinhas. Calcinhas?, mas
viemos nuas. Não faz mal, rebateu, busquem-nas, era culta a mulher. Lorena
voltou aos nossos quartos e pegou tantas calcinhas quantas conseguiu carregar.
Trepamos então com a travesti durante boa parte da noite, seu pênis endureceu
tanto como o de um verdadeiro macho. Jamais consegui entender a relação entre nossas calcinhas e ereção. Como esse tipo de gênero não ejacula com facilidade, pudemos
aproveitar bastante. Só que, no final, ela não devolveu nossas pequeninas peças, considerou-as como pagamento. Levamos,
porém, tudo na esportiva, e rimos muito no avião de volta.
Um pinto
faiscou em meus olhos e me transformou toda em arrepio. Alguém sorriu pra mim.
Não estava nu, ou nua, não sei bem explicar. Na verdade, era eu a nua, e não queria deixar a coisa entre sorrisos. Gostei do arrepio, que já não me abandonava.
Daqui em diante, vai depender do pinto, disse a mim mesma. Como o da amiga / amigo
lá das férias no hotel. Com alguma lábia e com o tempero do gozo, mantém-me a
mil e, quem sabe, leva-me também a calcinha!, completei. Se sabemos conduzir, as
coisas acontecem como a gente deseja. Entramos na água. Quem sabe a fantasia não era um meio de conquistar as mulheres. Como já conhecia o
truque, vesti-o com o meu biquíni. Lindo o biquíni, afirmou solene. Seu pinto
logo virou frangote e pulou porta afora. Tive, então, de escondê-lo. Que se tornasse enorme galo, mas que cantasse dentro de mim.
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