quarta-feira, julho 13, 2016

Tive de escondê-lo

Um pinto faiscou um segundo em meus olhos, e me transformou toda em arrepio. Foi na praia, mês que antecedia o verão, o tempo ainda fresco e as águas do mar geladas de dar dó. O pinto, naquele momento, era supremo. É tudo o que posso afirmar. E veio a preencher a solidão que eu sentia em meio a guarda-sóis afastados, caminhantes longínquos e mulheres que tomavam sol. Como vou falar do pinto sem ser chula? Vejamos, uma história primeiro. Certa vez tive um namorado dez anos mais jovem que eu, mas era homem maduro. Nem sei porque terminamos, coisa do destino, talvez. Levava-me a passear, trazia-me à praia. Vivíamos o embate de dois polos antagônicos: a noite profunda e o dia com toda a sua luz. Foi numa noite profunda. Íamos de automóvel, ele a dirigir, e eu relaxada no banco do carona. Então, a surpresa invadiu-me os olhos, uma mulher de calcinha, na rua, gritei e me virei a ele. Mulher?, repetiu, nada disso, parece mulher mas não é, sentenciou. Foi numa parte suspeita do centro da cidade. E continuamos mergulhados na noite, queríamos ainda a madrugada. Os homens não sofrem de celulite, afirmei, caso se tornem mulheres, ou fingem sê-las, não sei bem, suas pernas são lisas de dar inveja. Sério?, pareceu duvidar. Sério, falei com convicção. Como você sabe, já viu um exemplo desses de perto?, suas palavras e seu olhar incisivo enquanto segurava o volante pareceram desafiar-me. Sim, afirmei, como se não quisesse revelar um grande segredo. Onde aconteceu?, quis ele saber, esperou, a respiração um tanto opressa, como se minha resposta fosse transformar tudo que nos viria pela frente. Num desfile de modas, acrescentei  Ah, bom, ele replicou aliviado. Mas a historinha não foi bem assim. Certa vez viajamos, quatro mulheres. Que bagunça, não é mesmo? Fomos a um hotel, desses que dão para a praia, no Nordeste. Lá, aproximou-se de nós alguém que pensamos a princípio ser uma mulher. Fazia bem o papel, demoramos a descobrir o que realmente era. Quando de fato aconteceu, não fizemos alarde, agimos com a maior discrição. Na noite anterior ao dia em que regressaríamos, saímos as quatro e mais a fingida mulher. Bebemos mais do que podíamos. No hotel, um fio de tesão começou a correr em cada uma de nós, em consequência inventamos uma brincadeira; saíamos nuas do quarto para bater no quarto das outras, já que ficamos hospedadas em duplas. Após muitas risadas, decidimos ir ao quarto de nossa amiga / amigo. Ela assustou-se com o mulheril. Dissemos faça como nós, vamos desfilar. Ela, ou ele, não sei como dizer, enrubesceu. Mas uma das mulheres conseguiu despi-la. Pudemos ver, então, um pênis mediano. Algumas começaram a agarrá-lo e ele começou a crescer. Ela disse não sinto tesão por mulher, mas quem sabe vocês possam me dar prazer e, ao mesmo tempo, obter a diversão que desejam. Cada uma de nós a exercitou um pouco, mas o pênis não enrijecia como desejávamos. Há um jeito de eu sentir tesão, ela falou, mas vocês precisam me dar de presente suas calcinhas. Calcinhas?, mas viemos nuas. Não faz mal, rebateu, busquem-nas, era culta a mulher. Lorena voltou aos nossos quartos e pegou tantas calcinhas quantas conseguiu carregar. Trepamos então com a travesti durante boa parte da noite, seu pênis endureceu tanto como o de um verdadeiro macho. Jamais consegui entender a relação entre nossas calcinhas e ereção. Como esse tipo de gênero não ejacula com facilidade, pudemos aproveitar bastante. Só que, no final, ela não devolveu nossas pequeninas peças, considerou-as como pagamento. Levamos, porém, tudo na esportiva, e rimos muito no avião de volta.

Um pinto faiscou em meus olhos e me transformou toda em arrepio. Alguém sorriu pra mim. Não estava nu, ou nua, não sei bem explicar. Na verdade, era eu a nua, e não queria deixar a coisa entre sorrisos. Gostei do arrepio, que já não me abandonava. Daqui em diante, vai depender do pinto, disse a mim mesma. Como o da amiga / amigo lá das férias no hotel. Com alguma lábia e com o tempero do gozo, mantém-me a mil e, quem sabe, leva-me também a calcinha!, completei. Se sabemos conduzir, as coisas acontecem como a gente deseja. Entramos na água. Quem sabe a fantasia não era um meio de conquistar as mulheres. Como já conhecia o truque, vesti-o com o meu biquíni. Lindo o biquíni, afirmou solene. Seu pinto logo virou frangote e pulou porta afora. Tive, então, de escondê-lo. Que se tornasse enorme galo, mas que cantasse dentro de mim.

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