terça-feira, julho 05, 2016

Simpatia

“Como é que é?”, perguntou Lana, muito surpresa, enquanto Janete lhe trazia uma xícara de chá.

“Você não entendeu?, é uma maneira de surpreender os homens, eles ficam curiosíssimos, e acabam querendo nos namorar.

Lana segurou a xícara, suas mãos chegaram a tremer. Ambas estavam sentadas à mesa, frente a frente, costumavam visitar-se mutuamente para tomar chá, e nesta quinta, a vez de receber era de Janete.

“Janete, você não tem medo de que pode acontecer o pior?”

“Pior?, não se trata de uma coisa que envolva vida ou morte, é apenas uma brincadeira.”

Após tomar um gole do chá e repousar a xícara sobe o pires, Lana continuou:

“Brincadeira?, mas pode sair caro, e tanto mais nesta cidade onde quase todos se conhecem e falam demais. Seria melhor você arranjar namorado pelas vias normais.”

“Vias normais?”, pestanejou Janete.

“Já que você costuma ir à praia, por que você não deixa que eles se aproximem, que paquerem você como todos os homens costumam fazer?”

“Mas assim não posso escolher?”

“Ah, você quer o filé mignon.”

“Adivinhou, Lana, nada desses bugres que ficam à espreita. Entro n’água, escolho o mais bonito e ponho meu plano em ação.”

“Esse negócio de deixar o biquíni nas mãos de um desconhecido me deixa trêmula, e estou apenas imaginando. Você sabe que quando eu morei na serra, tive um caso com um jovem de lá. A gente namorava no escuro da estrada, dentro e fora do carro, na madrugada. Estava tudo bem até que o sujeitinho resolveu roubar minha calcinha. Fiquei furiosa, nem falei mais com ele. Agora, você com essa ideia, o biquíni nas mãos de um desconhecido. Fala sério, Janete, isso não pode ser verdade.”

“Claro que é, por que eu iria mentir pra você?”

“Me conta como você faz, vai. Ainda não entendi essa história direito.”

“Falei sim, você é que não prestou atenção. Mas, tudo bem, conto de novo. É assim: você chega à praia, com aquele charme todo, vestindo um biquíni mínimo. Dá uma olhada em volta, mas tudo muito bem dissimulado. Arma o guarda-sol, abre a cadeira e senta um pouco. É bom estar de óculos escuros. Então você continua olhando, reparando os homens, os rapazes, vendo se há alguém que vale a pena. Caso isso aconteça, você fica atenta se ele paquera você. Se ele não tiver reparado, espere um pouco, até ver o homem mergulhando. Quando isso acontecer, você vai atrás. Mas não precisa grudar nele. Espere um pouco até a hora de atacar.”

“Atacar, como assim?”

“Aí, entra a história do biquíni. Você tira, transforma em uma bolinha de pano, aproxima-se do cara e pergunta: ‘você pode me fazer um favorzinho?’ Lógico que ele vai dizer que sim. ‘Segura isso pra mim um instante?’ Você entrega o biquíni a ele e mergulha, volta alguns segundos depois e pede de volta, veste e sorri para o homem. É lógico que quando você der a ele a bolinha e pano, ele não vai imaginar que é o seu biquíni. Esse é o enigma. E se você não demorar a voltar, ele não vai descobrir, porque não terá tempo pra pensar. Só depois que você estiver fazendo o movimento pra vestir a calcinha é que, talvez, ele repare."

“E depois, o que isso vai resultar?”

“Lana, dá um resultado ótimo. O homem vai sorrir, e você vai dizer: é uma simpatia, sabe, ajuda a desencalhar’. Ele vai se interessar, e está no papo. Consegue-se namorar, pelo menos para o dia, o homem mais bonito da praia. Mas é lógico que tudo tem de ser feito com a maior discrição.”

“Janete, você é louca. E amanhã, quando você for à praia de novo? Os homens não vão estar todos sabendo dessa história?”

“Nada disso, é só não vulgarizar, e não escolher os caras daqui, você os conhece, não? Como aquele que roubou tua calcinha.”

“Janete, sabe do que eu gosto mesmo? Gosto de uma trepada bem dada, bem funda, que arranca suspiros e faz a gente gozar pra valer.”

“Eu também gosto. Mas você precisa sentir a sensação que desperta na gente quando o biquíni está nas mãos do desconhecido e a gente não sabe o que vai acontecer. Vale muito, só não vale essa trepada funda. Mas quem sabe mais tarde, a agente tem o cara para a tal trepada. A Lúcia transava na praia mesmo.”

“A Lúcia?, do Osório?”

“Ela.”

“Janete, já sei, virou moda, todas as mulheres que você conhece estão praticando o que você contou. Apenas eu estou sendo ingênua.”

“Não, todas não, apenas eu e a Lúcia, agora você, contar pra mais gente vai dar problema.”

A dona da casa sorriu e bebeu o último gole de chá.

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