Oi, Mara, tudo bem? Ah, está surpresa com meu telefonema. É
porque sei que você gosta de dormir tarde. Você fica lendo, vendo filmes,
escrevendo. Pelo menos é o que sempre me fala. Sabe o que é, quero contar uma
história boa e engraçada. Na verdade, é sobre a caixa de surpresas. Lembra, foi
você quem deu a ideia, depois aperfeiçoamos juntas. Não é que deu o melhor dos
resultados? Bem que você falou. Sabe, Mara, o homem adorou. Na verdade,
enlouqueceu. Disse que nunca viu uma mulher com tanta criatividade. Enquanto as
outras ficam no feijão com arroz, no papai mamãe, você me arremessa a outro
planeta, um planeta totalmente desconhecido. Juro, são as palavras que ele
pronunciou. E tudo com a maior elegância. Logo que cheguei eu disse por favor,
você tem de ser um bom espectador. A princípio, ele não entendeu. Não passou
muito tempo, porém, pra entrar no jogo. Poxa, conheci você há uma semana e você
me faz essa surpresa toda, confessou. Fica sentadinho aí, vou fazer as
apresentações, avisei antes de abrir a caixa, mas precisa ser no escurinho,
viu. Ele acendeu o abajur lateral. O palco era o meio da sala, dois metros por
um e meio. Mas pra mim estava ótimo. Saí de cena rapidinho e voltei como o
primeiro número, o vestidinho preto, coladinho e curtinho, nenhuma marca de
rouba de baixo, apenas o tecido. Liguei o celular, uma musiquinha, e comecei a
dançar pra ele. O vestidinho subia, subia. E o homem quase subindo pelas
paredes. Saí de cena. Coloquei uma música de praia, de verão, e apareci com o
biquininho. O biquininho de bolinhas, tão estreito, os peitos só cobertos os
mamilos, a calcinha, bem, a calcinha você conhece. Novamente escapei às mãos do
homem. Espere, por favor, pedi, você não pode me agarrar agora, não tem
graça. O terceiro traje foi o de fadinha, rendinha e varinha, nada de calcinha,
mas vesti a faixa branca como top. O homem tirou a roupa, passou a assistir nu
ao espetáculo. Ai, não estou aguentando, ele disse. Calma, vamos devagar, tenho
outros números, no final você me agarra, disse eu e sorri. Fiz uma mágica com a
varinha, uma espécie de encanto, e apareci sem a faixa branca. No quarto número
apareço apenas de camiseta regata. Lembra, Mara, foi você quem escolheu. Estico
a camiseta na frente, atrás quando dou as costas, tudo seguido da musiquinha do
meu telefone. Mas a cena que fez o homem explodir foi a do chocolate,
coreografia criada por nós duas, Mara. Fiz uma espécie de maiô com a renda
preta, como você ensinou. Dividi o tecido ao meio e passei cada metade por trás
do pescoço, desci cobrindo os seios e continuei até passar por baixo da minha
periquita, subi em tira única o bumbum cruzei
as duas pontas da renda, cada uma prum lado, trouxe para frente cobrindo
a tira vertical e dei um laço no lado esquerdo da cintura. Foi então que peguei
a barra de chocolate, a maior de todas, dançava e retirava o papel, depois puxei
devagarinho o laminado, enfim mordi o primeiro pedaço. Fui comendo e
umedecendo os lábios com a língua, engolindo pedaço a pedaço. O homem queria
sair da poltrona, o pênis ereto, correu na minha direção. Por favor, ainda não,
espere mais um pouquinho, não estrague o teatrinho, alertei. Jura que já
acaba?, perguntou. Juro, só falta essa. Ele puxou uma cadeira e ficou a um
metro e meio do palquinho. Quando engoli o último pedaço, Mara, o homem
explodiu. Não sabe o que é um homem explodir, amiga? Explico. O homem gozou. E
foram dois ou três jorros. Todos saltaram a distância de um metro e meio, atingiram minhas
coxas. Mas fingi que nada acontecia, continuei o número, no final desfiz o laço.
Ele correu pra mim e me agarrou. O pênis continuou durinho e o homem gozou mais
uma vez. Uma loucura. E quase não consigo colocar a camisinha, foi por um
triz. Quando acabamos, ele ainda estava a mil, o coração descompassado.
Descansa um pouco, aconselhei, você está muito excitado. Ele deitou e fechou os
olhos, muito feliz. Continuei com a música e pude ainda reparar o arfar dos
seus pulmões. Coloquei todas as surpresas na caixa, guardei com muito cuidado.
Peguei a caixa, o sapato e saí em silêncio. Ele parecia dormir. Bati a porta.
Agora, apenas uma coisinha. Sabe o vestidinho com o qual cheguei? Aquele de apliques
prateados. Pensei tê-lo colocado na caixa, queria me vestir no corredor. Você
sabe, caso ele acordasse ia querer mais um espetáculo, e eu já estou cansada,
já tenho minha recompensa. Mas, do lado de fora, reparei que esqueci o
vestidinho lá dentro. E agora, o que faço?, perguntei a mim mesma, neste tardar
da noite. Ah, a solução, pensei, telefono pra Mara... O quê?, você está sem o
carro. Voltar com um dos modelos da caixa de surpresa? Mara, é tudo tão
curtinho, vão me agarrar lá fora, e vai sair de graça. Arranja um jeitinho,
vai, Mara, meu amorzinho. Confesso que esta situação está me deixando
arrepiada, mas não posso voltar nua pra casa, daqui a pouco vai amanhecer. Tá
bom, Mara, vou bater, ele vai abrir e me encontrar peladinha, acho que vai
perder de vez a cabeça. Vai querer mais teatrinho. Bem, isso é, melhor mais um
teatrinho do que nua no bairro do Visconde!
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