Escrever histórias é um vício. Lógico que é um vício
gostoso, não cansa nem faz mal à saúde. E há tanta coisa engraçada pra
escrever. Engraçada e picante. Se é literatura? Não sei. Dei o nome ao blog faz
tempo, e tem no título a tal literatura, mas acho que os estudiosos olham atravessado ao que escrevo. Não tem problema, o importante é ser divertido.
Tenho três histórias ótimas. Mas vamos devagar, hoje apenas uma, e durante as
semanas que se seguem publico as outras. Há leitoras reclamando que não
converso diretamente faz tempo. No entanto, se observarem, estou sempre a
conversar. Tudo que escrevo têm a minha voz, e já faz
mais de dez anos que converso com vocês. Surgiu tanta coisa nova, não?, as
redes sociais emplacaram, o blog, porém, continua. E não tenho intenção de
largá-lo. Há amigos ou amigas que me pedem: “publique um livro, vai
ficar mais bonito, escolha as melhores histórias, todos vão gostar, vão
elogiar.” Quem sabe, prometo pensar nisso, apenas prometo, quanto a
publicar... Uma leitora argumenta que vou perder minhas
histórias caso as deixe apenas no blog. “A internet é transitória”, afirma, “o
livro fica, sempre haverá alguém com um exemplar em alguma estante, numa biblioteca, ou no catálogo da Biblioteca Nacional, as páginas da web não duram,
quando a gente resolve procurá-las não estão mais lá, desapareceram sem deixar
vestígios.” Prometo mais uma vez que vou pensar no assunto.
Vamos agora à história de hoje. Ah, mais uma coisa. Uma
leitora aflita me pediu que contasse a história em que tive de escrever um
conto pra ter minhas roupas de volta! Já escrevi sobre isso, querida, basta
você clicar lá atrás, chama-se “Seus amigos teimaram
que eu tinha de escrever um conto especial para eles, e eram três horas da
madrugada”. Título comprido, talvez o maior que já escrevi. Vale a pena, é uma
bela história, e aconteceu mesmo.
Estava eu em casa quando recebo um caixa de bombons. Da Kopenhagen.
O homem mandou a caixa com um cartão. Não demorei a experimentar um, dois,
três. Passaram-se três semanas e veio outra caixa. Meu Deus, não posso
engordar, e esses chocolates são uma delícia. De novo experimentei um, dois,
três. Na semana seguinte, recebi a mensagem:
“Margarida, adoro você, faço uma proposta indecente. É má a
palavra, mas não tenho outra. Dou o presente que me pedir, mas (sou
direto, nado mal nas águas da literatura) quero ver você nua comendo os
chocolates.”
Não respondi ao homem, de imediato. É sempre bom deixar
passarem os dias, deixá-los ansiosos. Apaixonam-se e cedem mais. Se daria um presente,
dão dois; se dois, quatro. E lá se foi mais uma semana. Minha resposta:
“Chocolates de que origem?”
Quando veio a resposta, ele parecia estar a mil, coitado.
“Da Kopenhagen.”
Combinamos o presente após mais dois dias de negociações. Não posso dizer o que pedi além dos chocolates, o mundo anda muito perigoso. Mas aos mais próximos, prometo soprar ao pé do ouvido.
“Chocolates de que origem?”
Quando veio a resposta, ele parecia estar a mil, coitado.
“Da Kopenhagen.”
Combinamos o presente após mais dois dias de negociações. Não posso dizer o que pedi além dos chocolates, o mundo anda muito perigoso. Mas aos mais próximos, prometo soprar ao pé do ouvido.
Veio um automóvel me buscar. E lá fui eu ao encontro dos
bombons e do presente.
Gente, vocês não imaginam a suíte real em que me vi. Faz tempo não vou a lugar assim, os homens andam muito pobres. Ele tirou a caixa,
e me mostrou o presente.
“Então?”, pronunciou com sofreguidão.
“Calma”, falei, “deixe explicar aos meus leitores como você
é”, completei.
Alto, bem vestido, de terno e gravata, cabelo castanho
penteado para trás, cheiroso, acho que Kenzo. Adorei. Mas sou furtiva.
“Primeiro, deixe-me ver o presente.”
Ele passou-o às minhas mãos. Depois vieram os chocolates.
“Por favor, onde o toalete?”, perguntei.
Voltei de lá apenas de salto alto. Ah, esses homens são um tanto homossexuais, adoram um salto, mas deixa pra lá. Sentei, cruzei as pernas, abri a delicada embalagem, tinha uma fita vermelha. Comi o primeiro, depois o segundo, e mais um terceiro. Ao parar, ele disse:
“Por favor, onde o toalete?”, perguntei.
Voltei de lá apenas de salto alto. Ah, esses homens são um tanto homossexuais, adoram um salto, mas deixa pra lá. Sentei, cruzei as pernas, abri a delicada embalagem, tinha uma fita vermelha. Comi o primeiro, depois o segundo, e mais um terceiro. Ao parar, ele disse:
“Coma mais, por favor.”
Eu não queria estragar a festa. Comi.
“Mais um, por favor.”
Continuei não querendo estragar a festa. Porém, quando ele
me pediu que comesse oitavo bombom, contra-argumentei.
“Não seria melhor esperarmos um pouquinho?”, e sorri a ele,
dentro da boca ainda o último pedaço.
“Estou lhe oferecendo um presente tão caro, você tem de
comer a caixa toda.”
Assustei-me. Nunca me deparei com tal tara. Um homem a ver
uma mulher nua a comer a caixa inteira de chocolates. Fingi, no entanto, que
era a coisa mais natural do mundo. Comi mais um. Então, chamei-o pra sentar
junto a mim.
“Não está no contrato”, contrapus, “mas vou lhe proporcionar
mais prazer.”
Coloquei mais um bombom na boca, seria o último, jurei a mim
mesma. Abri a calça do homem, tirei seu peru e mergulhei num boquete gostoso. O chocolate quente formava uma massa que envolvia seu pênis, tornando a chupada
excitante. Ficamos num namoro gostoso, o homem sempre dentro da minha boca. É isso,
Margarida, ou o gozo do homem ou a caixa inteira.
Enfim, posso dizer que o homem me deu um trabalho terrível.
Mas gozou. E quando os homens gozam, ao contrário das mulheres, arrefecem o desejo.
Engoli a porra junto com os restos do precioso bombom. Fiz fisionomia de que
estava adorando. Ele ainda gritou que gozava mais por causa da minha ousadia.
Abaixei rápida e recebi mais um jorro na boca. A partir daí, esqueceu a caixa de
bombons. Ainda ficamos juntos por duas horas, bebemos licor e tomamos café. Eu
sempre nua.
Tenho de ir, pensei, logo volta o desejo e ele vai me fazer
comer o restante da caixa.
“Agora você tem de mostrar o conto”, ele pediu.
“Conto?”, fingi surpresa.
“Você não é escritora?, quero que escreva algo especialmente
pra mim, não esqueci, viu, ainda há dezesseis bombons.”
Sorri, como se nada tivesse acontecendo.
“Lápis?”, perguntei.
Ele trouxe o notebook. Dei-lhe então este conto.
Ele leu.
“Adorável.”
“Com licença, o toalete”, levantei-me, e fui me vestir.
Ah, esses homens... Além de me ver nua comendo chocolates, receber um belo dum boquete e
ter um conto meu escrito ao vivo, roubou minha calcinha!
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