sexta-feira, junho 10, 2016

Escrever histórias

Escrever histórias é um vício. Lógico que é um vício gostoso, não cansa nem faz mal à saúde. E há tanta coisa engraçada pra escrever. Engraçada e picante. Se é literatura? Não sei. Dei o nome ao blog faz tempo, e tem no título a tal literatura, mas acho que os estudiosos olham atravessado ao que escrevo. Não tem problema, o importante é ser divertido. Tenho três histórias ótimas. Mas vamos devagar, hoje apenas uma, e durante as semanas que se seguem publico as outras. Há leitoras reclamando que não converso diretamente faz tempo. No entanto, se observarem, estou sempre a conversar. Tudo que escrevo têm a minha voz, e já faz mais de dez anos que converso com vocês. Surgiu tanta coisa nova, não?, as redes sociais emplacaram, o blog, porém, continua. E não tenho intenção de largá-lo. Há amigos ou amigas que me pedem: “publique um livro, vai ficar mais bonito, escolha as melhores histórias, todos vão gostar, vão elogiar.” Quem sabe, prometo pensar nisso, apenas prometo, quanto a publicar... Uma leitora argumenta que vou perder minhas histórias caso as deixe apenas no blog. “A internet é transitória”, afirma, “o livro fica, sempre haverá alguém com um exemplar em alguma estante, numa biblioteca, ou no catálogo da Biblioteca Nacional, as páginas da web não duram, quando a gente resolve procurá-las não estão mais lá, desapareceram sem deixar vestígios.” Prometo mais uma vez que vou pensar no assunto.

Vamos agora à história de hoje. Ah, mais uma coisa. Uma leitora aflita me pediu que contasse a história em que tive de escrever um conto pra ter minhas roupas de volta! Já escrevi sobre isso, querida, basta você clicar lá atrás, chama-se “Seus amigos teimaram que eu tinha de escrever um conto especial para eles, e eram três horas da madrugada”. Título comprido, talvez o maior que já escrevi. Vale a pena, é uma bela história, e aconteceu mesmo.


Estava eu em casa quando recebo um caixa de bombons. Da Kopenhagen. O homem mandou a caixa com um cartão. Não demorei a experimentar um, dois, três. Passaram-se três semanas e veio outra caixa. Meu Deus, não posso engordar, e esses chocolates são uma delícia. De novo experimentei um, dois, três. Na semana seguinte, recebi a mensagem:

“Margarida, adoro você, faço uma proposta indecente. É má a palavra, mas não tenho outra. Dou o presente que me pedir, mas (sou direto, nado mal nas águas da literatura) quero ver você nua comendo os chocolates.”

Não respondi ao homem, de imediato. É sempre bom deixar passarem os dias, deixá-los ansiosos. Apaixonam-se e cedem mais. Se daria um presente, dão dois; se dois, quatro. E lá se foi mais uma semana. Minha resposta:

“Chocolates de que origem?”

Quando veio a resposta, ele parecia estar a mil, coitado.

“Da Kopenhagen.”

Combinamos o presente após mais dois dias de negociações. Não posso dizer o que pedi além dos chocolates, o mundo anda muito perigoso. Mas aos mais próximos, prometo soprar ao pé do ouvido.

Veio um automóvel me buscar. E lá fui eu ao encontro dos bombons e do presente.

Gente, vocês não imaginam a suíte real em que me vi. Faz tempo não vou a lugar assim, os homens andam muito pobres. Ele tirou a caixa, e me mostrou o presente.

“Então?”, pronunciou com sofreguidão.

“Calma”, falei, “deixe explicar aos meus leitores como você é”, completei.

Alto, bem vestido, de terno e gravata, cabelo castanho penteado para trás, cheiroso, acho que Kenzo. Adorei. Mas sou furtiva.

“Primeiro, deixe-me ver o presente.”

Ele passou-o às minhas mãos. Depois vieram os chocolates.

“Por favor, onde o toalete?”, perguntei.

Voltei de lá apenas de salto alto. Ah, esses homens são um tanto homossexuais, adoram um salto, mas deixa pra lá. Sentei, cruzei as pernas, abri a delicada embalagem, tinha uma fita vermelha. Comi o primeiro, depois o segundo, e mais um terceiro. Ao parar, ele disse:

“Coma mais, por favor.”

Eu não queria estragar a festa. Comi.

“Mais um, por favor.”

Continuei não querendo estragar a festa. Porém, quando ele me pediu que comesse oitavo bombom, contra-argumentei.

“Não seria melhor esperarmos um pouquinho?”, e sorri a ele, dentro da boca ainda o último pedaço.

“Estou lhe oferecendo um presente tão caro, você tem de comer a caixa toda.”

Assustei-me. Nunca me deparei com tal tara. Um homem a ver uma mulher nua a comer a caixa inteira de chocolates. Fingi, no entanto, que era a coisa mais natural do mundo. Comi mais um. Então, chamei-o pra sentar junto a mim.

“Não está no contrato”, contrapus, “mas vou lhe proporcionar mais prazer.”

Coloquei mais um bombom na boca, seria o último, jurei a mim mesma. Abri a calça do homem, tirei seu peru e mergulhei num boquete gostoso. O chocolate quente formava uma massa que envolvia seu pênis, tornando a chupada excitante. Ficamos num namoro gostoso, o homem sempre dentro da minha boca. É isso, Margarida, ou o gozo do homem ou a caixa inteira.

Enfim, posso dizer que o homem me deu um trabalho terrível. Mas gozou. E quando os homens gozam, ao contrário das mulheres, arrefecem o desejo. Engoli a porra junto com os restos do precioso bombom. Fiz fisionomia de que estava adorando. Ele ainda gritou que gozava mais por causa da minha ousadia. Abaixei rápida e recebi mais um jorro na boca. A partir daí, esqueceu a caixa de bombons. Ainda ficamos juntos por duas horas, bebemos licor e tomamos café. Eu sempre nua.

Tenho de ir, pensei, logo volta o desejo e ele vai me fazer comer o restante da caixa.

“Agora você tem de mostrar o conto”, ele pediu.

“Conto?”, fingi surpresa.

“Você não é escritora?, quero que escreva algo especialmente pra mim, não esqueci, viu, ainda há dezesseis bombons.”

Sorri, como se nada tivesse acontecendo.

“Lápis?”, perguntei.

Ele trouxe o notebook. Dei-lhe então este conto.

Ele leu.

“Adorável.”

“Com licença, o toalete”, levantei-me, e fui me vestir.

Ah, esses homens... Além de me ver nua comendo chocolates, receber um belo dum boquete e ter um conto meu escrito ao vivo, roubou minha calcinha!

Nenhum comentário: