sexta-feira, março 22, 2019

Salve o vestidinho!

Não sabia que na minha idade sentiria tanto tesão. Mas a história do rapaz (vamos chamá-lo assim), de trazer um vestido curtinho de presente para mim acabou... Bem, saberão a seu tempo, e aqui ele nem é longo.

“Não tenho mais idade pra sair assim”, assustei-me ao ver a roupa.

“Tem corpo, e quando se tem corpo a idade não importa.”

Experimentei o presentinho.

“Você quer me levar pra passear com essa roupa?, vai ser um escândalo, tanto mais nesse lugar aqui”, ressaltei.

“Vamos de madrugada, ninguém vai ver você”, assegurou.

Lembrei-me de um ex-namorado, fazia uns vinte anos. Sério. Vinte anos é muito tempo. Mas o que há de se fazer? O tempo passa pra todo mundo. Era aniversário dele e eu quis fazer uma surpresa. Fui esperá-lo com um vestidinho daquele tipo, curtíssimo, e o melhor, sem nada por baixo. Ele veio me apanhar. Entrei no carro e saímos. Fiz uma mis en scène danada, me remexia no banco, esticava vez ou outra o tecido, como se não quisesse mostrar as coxas. No final da noite, depois da bebida e do restaurante, agarramo-nos dentro do carro. Descobriu então que eu só trazia o vestidinho sobre o corpo. Era demorado pra descobrir as coisas aquele namorado. Acabou por dizer poxa, logo hoje que eu queria roubar tua calcinha. Não faz mal, respondi de pronto, roube o meu vestido. Ele ficou excitadíssimo com a proposta. No final, não titubeei, deixei o vestidinho nas mãos dele e saí nua do carro, apenas a bolsa e a sandália. Procurei a chave, abri a porta e entrei. E eu nem morava sozinha.

Voltando a história do presente. Vesti-o, experimentei.

“Cai como uma luva?”, eta rapaz que adora lugares comuns.

Esperamos a hora passar, vimos um filme na TV. Perto da madrugada, saímos, como ele havia sugerido.

Um céu cheio de estrelas, que cintilavam como eu jamais vira, ou jamais reparara, não havia lua, mas tudo muito bonito. Com a roupa curta, rejuvenesci. Será que salto do carro?, pensei. Ele dirigiu pra orla. Descemos a serra e, no banco do carona, meu vestidinho subia.

“Não quero namorar dentro do carro, não tenho mais idade pra isso”, alertei.

“Não se preocupe”, tranquilizou-me.

Jantamos num hotel. Uma suíte com jantar. Depois de comermos e bebermos, desfilei pra ele com o vestidinho. Mas ele quis que eu também desfilasse sem a roupa. Não me fiz de rogada. Com alguns disfarces, desfilei. No final, tive de desfilar mesmo nua! Ele adorou. E eu também. Pensei que já não tivesse tanto tesão, tanto desejo. Num determinado momento, pediu que eu sentasse nua, na poltrona, de pernas cruzadas. Ficou durante muito tempo a me apreciar. “Você é muito bonita, muito gostosa.”

Descruzei as pernas e o convidei mais uma vez para vir trepar comigo. Fizemos a festa até o amanhecer. Depois dormimos. Um sono justo. Lá pelas onze da manhã foi que lembrei que não tinha outra roupa além do vestidinho pra voltar pra casa. Vai dar o que falar.

Entramos no carro e subimos a serra. Fomos encontrando as pessoas pelo caminho, cumprimentando um, acenando pra outro. Houve um homem que pediu carona.

“Não pare, por favor, finja que não viu.”

Mas ele não quis ser deselegante. O homem entrou pela porta de trás, cumprimentou e, no final, agradeceu.

“Bom dia, dona Nete, disse quando desceu.”

Eu não tinha onde enfiar a cabeça.

“Não se preocupe”, falou o namorado, ele não notou.

Quando cheguei à minha casa, havia algumas pessoas nas proximidades.

“Vamos esperar um pouco”, pedi.

Ele ainda ficou a passar as mãos sobre as minhas pernas, por baixo do vestido.

“Ai, vou querer trepar de novo”, cheguei a dizer e sorrir.

Pedi a ele que saltasse, abrisse a porta da minha casa. Ele obedeceu. Quando vi que ninguém estava a me vigiar, corri e entrei, puxei-o atrás de mim.

Namoramos mais uma vez, dentro da minha casa.

“Falem os outros o que quiserem, mais vale o meu prazer”, eu nua nos seus braços.

“Salve o vestidinho!”, não pude negar.

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