Não sabia que na minha idade sentiria tanto tesão. Mas a
história do rapaz (vamos chamá-lo assim), de trazer um vestido curtinho de
presente para mim acabou... Bem, saberão a seu tempo, e aqui ele nem é longo.
“Não tenho mais idade pra sair assim”, assustei-me ao ver a
roupa.
“Tem corpo, e quando se tem corpo a idade não importa.”
Experimentei o presentinho.
“Você quer me levar pra passear com essa roupa?, vai ser um
escândalo, tanto mais nesse lugar aqui”, ressaltei.
“Vamos de madrugada, ninguém vai ver você”, assegurou.
Lembrei-me de um ex-namorado, fazia uns vinte anos.
Sério. Vinte anos é muito tempo. Mas o que há de se fazer? O tempo passa pra
todo mundo. Era aniversário dele e eu quis fazer uma surpresa. Fui esperá-lo
com um vestidinho daquele tipo, curtíssimo, e o melhor, sem nada por baixo. Ele
veio me apanhar. Entrei no carro e saímos. Fiz uma mis en scène danada, me remexia no banco, esticava vez ou outra o
tecido, como se não quisesse mostrar as coxas. No final da noite, depois da
bebida e do restaurante, agarramo-nos dentro do carro. Descobriu então que eu
só trazia o vestidinho sobre o corpo. Era demorado pra descobrir as coisas
aquele namorado. Acabou por dizer poxa, logo hoje que eu queria roubar tua
calcinha. Não faz mal, respondi de pronto, roube o meu vestido. Ele ficou
excitadíssimo com a proposta. No final, não titubeei, deixei o vestidinho nas
mãos dele e saí nua do carro, apenas a bolsa e a sandália. Procurei a chave,
abri a porta e entrei. E eu nem morava sozinha.
Voltando a história do presente. Vesti-o, experimentei.
“Cai como uma luva?”, eta rapaz que adora lugares comuns.
Esperamos a hora passar, vimos um filme na TV. Perto da
madrugada, saímos, como ele havia sugerido.
Um céu cheio de estrelas, que cintilavam como eu jamais vira,
ou jamais reparara, não havia lua, mas tudo muito bonito. Com a roupa curta, rejuvenesci.
Será que salto do carro?, pensei. Ele dirigiu pra orla. Descemos a serra e, no
banco do carona, meu vestidinho subia.
“Não quero namorar dentro do carro, não tenho mais idade pra
isso”, alertei.
“Não se preocupe”, tranquilizou-me.
Jantamos num hotel. Uma suíte com jantar. Depois de comermos
e bebermos, desfilei pra ele com o vestidinho. Mas ele quis que eu também
desfilasse sem a roupa. Não me fiz de rogada. Com alguns disfarces, desfilei.
No final, tive de desfilar mesmo nua! Ele adorou. E eu também. Pensei que já
não tivesse tanto tesão, tanto desejo. Num determinado momento, pediu que eu
sentasse nua, na poltrona, de pernas cruzadas. Ficou durante muito tempo a me
apreciar. “Você é muito bonita, muito gostosa.”
Descruzei as pernas e o convidei mais uma vez para vir
trepar comigo. Fizemos a festa até o amanhecer. Depois dormimos. Um sono justo.
Lá pelas onze da manhã foi que lembrei que não tinha outra roupa além do
vestidinho pra voltar pra casa. Vai dar o que falar.
Entramos no carro e subimos a serra. Fomos encontrando as
pessoas pelo caminho, cumprimentando um, acenando pra outro. Houve um homem que
pediu carona.
“Não pare, por favor, finja que não viu.”
Mas ele não quis ser deselegante. O homem entrou pela porta
de trás, cumprimentou e, no final, agradeceu.
“Bom dia, dona Nete, disse quando desceu.”
Eu não tinha onde enfiar a cabeça.
“Não se preocupe”, falou o namorado, ele não notou.
Quando cheguei à minha casa, havia algumas pessoas nas
proximidades.
“Vamos esperar um pouco”, pedi.
Ele ainda ficou a passar as mãos sobre as minhas pernas, por
baixo do vestido.
“Ai, vou querer trepar de novo”, cheguei a dizer e sorrir.
Pedi a ele que saltasse, abrisse a porta da minha casa. Ele
obedeceu. Quando vi que ninguém estava a me vigiar, corri e entrei, puxei-o
atrás de mim.
Namoramos mais uma vez, dentro da minha casa.
“Falem os outros o que quiserem, mais vale o meu prazer”, eu
nua nos seus braços.
“Salve o vestidinho!”, não pude negar.
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