segunda-feira, junho 08, 2020

Minha amiga eu mesma

“Você é uma mulher muito elegante para dar aulas naquele tipo de escola.”

Escutei de um colega enquanto conversávamos, no começo do dia, numa das escolas onde leciono. O comentário versava sobre as más condições de trabalho no nosso meio profissional, mas senti que ele mostrava sua admiração por mim. Sorri, nada retruquei, nem sei o que fiz depois, devo ter ido até a sala dos professores pegar minhas coisas para a primeira aula.

Será que o tal colega me paquerava? Já não tenho homem faz tempo, minha vida é organizada, trabalho e tenho meus pequenos prazeres. Como já não sou jovem, admirei-me da iniciativa. Há tantas professoras de menos idade, bonitas e cheias de calor.

Faz alguns anos, quando trabalhei numa escola do litoral norte, vivi situações que me deixavam a mil por hora. A cidade era convidativa a muitas paqueras, à frequência à praia durante as horas vagas e a saídas noturnas a vários restaurantes e bares aconchegantes. Lembro que certa vez andava pela praia ao entardecer. Não sei o que me deu – a  acho que fui picada por um desejo recôndito –, tirei o top e passeei pela orla vestida apenas por uma camiseta larga. Um homem passou por mim e sentiu-se surpreso ao reparar meus seios nus!, chegou dar um sorrisinho com o canto da boca. Continuei minha caminhada como se aquela fosse a atitude mais normal do mundo. Na época tive uma amiga que era maluquinha, além de namorar vários homens ao mesmo tempo, ia à praia com um biquíni pequeníssimo, dizia adorar a praia da Joana, onde vez ou outra podia ficar com os seios de fora. Era solícita com todos que se aproximavam, dava seu número e, na maioria das vezes, marcava encontros. Gosto de tomar uma caipirinha, dizia, depois a gente vê o que acontece. E, segundo ela, só aconteciam coisas boas. Uma vez arranjei também um namorado. Você bebe uma taça de vinho?, perguntou. Claro, importado, ressaltei. Fomos a uma adega. Depois... Tenho vergonha de contar. Fiz coisas que ninguém imagina. Pude constatar que a tal amiga tinha razão. Mas nada falei a ela, não queria que me roubasse o namorado.

Volto à escola onde um colega chamou-me de mulher elegante. Fiquei interessada no tal. Quem sabe, seria tão bom a gente sair e passear, talvez uma taça de vinho. Mas levou um tempo enorme para eu estar com ele como gostaria. Toda vez que passávamos um pelo outro nos cumprimentávamos, sorríamos e seguíamos cada um seu caminho. As mulheres, no entanto, tem poderes especiais, não vai demorar ele cairá nas minhas malhas. Lógico que meus artifícios são discretos, mas o sucesso é garantido.

Você sabe, perto da minha casa abriu um bar de cervejas artesanais, uma delícia, disse eu a ele ontem. É mesmo, adoro cerveja artesanal. Caso você queira ir, eu acompanho você. Vamos marcar, então, vamos amanhã, pediu. Ok, ótimo, vamos sim.

Fiquei esperando, vestidinha, na porta de casa. Chegou de táxi, me beijou e fomos ao restaurante. Imaginem a noite mais animada do ano, pelo menos para nós dois. Não preciso dizer que não bebo muito, mas bastaram dois copos. Que calor. Lembrei a camiseta, os seios soltos por baixo, sorri para o homem. Ele, não custa, vai me ver nua!, pensei num momento. Ah, minha amiga professora lá no litoral norte, o namorado tinha uma Mercedes, e ela nua no banco do carona!

Quando a gente fala muito de amiga, quem sabe fala de si própria!

Nenhum comentário: