O uso de máscara causa situações hilárias. Acho que é a palavra certa. Num dia desses vinha eu caminhando do supermercado, carregava uma pequena bolsa, quando um homem aproximou-se e disse você tem os lábios lindos. Como já estou acostumada com muitas azarações, principalmente depois de participar da tal telenovela, continuei meu caminho. Ao chegar ao apartamento, pouso as compras na cozinha, lavo as mãos e corro ao espelho que me mostra de corpo inteiro. Olho-me, demoradamente. Não foi brincadeira, meus lábios marcam a brancura da máscara. Esqueci e passei batom antes de vesti-la. Por falar em vestir, lembro-me da Tânia, faz faculdade de comunicação, quer tornar-se repórter de vídeo. Mas por que a lembrança? A mulher usa um batom dos mais vermelhos inventados até hoje, e adora minissaias. Tânia, você não vai poder apresentar o telejornal vestida desse jeito. Claro que sim, no jornal a câmera pega dos seios para cima, nada de pernas, quanto ao batom, bom, deixa que eu maneiro. Outra dia não foi difícil descobri-la na praia, difícil foi encontrar seu biquíni. Minúsculo. O batom sempre vermelho. Como você faz para tomar banho de mar?, o batom..., quis eu saber. Segredo. Outro segredo, apontou-me um rapaz, disse que ele praticava artes marciais. E daí?, perguntei. E daí, pense na arte que ele praticou comigo ontem à noite, ainda estou toda arrepiada. Tânia, as pessoas de TV precisam de seriedade, adverti. Estou deixando de sê-lo? Ela e sua linguagem às vezes vetusta. Olhe, vai ter a festa do beijo, todos que adoram beijar na boca estão convidados, inclusive você. Mas, agora, este vírus, interpelo. Vamos encontrar um modo, nem que seja a um metro e meio do namorado, aliás, todos são nossos namorados. Deixei Tânia sempre nua debaixo de um sol morno de junho e continuei minha caminhada. Volto ao espelho de casa, minha face brilhante. Não posso perder a alegria. Tiro a máscara, a face rosada, quase branca, os lábios desejados. As mulheres adoram andar nuas, diz-me sempre um amigo de longa data, veja o tamanho dos biquínis, a exiguidade das saias. Verdade, a máscara nos torna mais vestidas. Tenho súbita ideia: nua, vestida apenas pela máscara. Sou rápida na arte de despir-me. Passo mais batom, visto minha única peça. O espelho, ou melhor, eu nuazinha diante de mim. Meus lábios vermelhos, a máscara. Todos os homens vão querer trepar comigo.
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